Apreciação final: 7/10
Edição: Anti, Março 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Country
Sítio Oficial: www.nekocase.com
Edição: Anti, Março 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Country
Sítio Oficial: www.nekocase.com
Ao quarto álbum de estúdio, a voz de Neko Case está melhor do que nunca. Ela é senhora daquele tipo de cordas vocais que vão refinando com o gosto do tempo, buscando a sublimação da expressividade e reforçando a elegância em cada timbre. Uma voz destas, assim profunda, faz de qualquer emoção, mais do que uma intuição, uma força tangível, que se sente e quase se toca. Ao mesmo tempo, apetece degustar, num compasso lento, a pureza inata do registo vocal reverberante de Case, como se de um corpo sacro se tratasse e, portanto, não susceptível de se misturar com a mortalidade do ouvinte. No fundo, sem olvidar o nexo com o efémero (as canções falam de amores confusos e amizades e crenças corrompidas), a música deste Fox Confessor Brings the Flood tem qualquer coisa que não se conforma às leis naturais e o veículo essencial dessa frente imaterial é mesmo a voz de Case. Se isso não é bastante, pode ainda somar-se que a autora apurou o sentido estético das suas criações, aventurando-se num espaço sonoro aberto, com influências óbvias da música country mais taciturna e alguns desvios sempre oportunos para revisitar outros géneros.
O porte garboso das composições é ingénito, a secundar com propriedade a excelência do canto de Case, graças a uma trupe de instrumentistas ilustres (Howe Gelb, John Convertino, Joey Burns, Garth Hudson e a voz secundária de Rachel Flotard). Tudo embrulhado numa produção cautelosa, a sugerir a porção vocal como substância primeira e a prover as canções de um lisonjeiro embalo anacrónico. Ao mesmo tempo, o abuso detalhista da produção nem sempre faz justiça à dinâmica suavemente anarquista da escrita de Case, moderando as sucessivas derivações que, na mesma canção, nos transportam da sonoridade country tradicional para outra coisa qualquer, um híbrido tão encriptado quanto os poemas. E é pena que, com canções (e voz) deste quilate, a produção se confine à mera comodidade do hábito e não se atreva a seguir o espírito errante de Case. Mesmo assim, Fox Confessor Brings the Flood é a prova de que ela está na crista da onda (depois do êxito com os New Pornographers, no ano transacto) e de que ainda há discos (e vozes) que nos enfeitiçam de tal forma que não parecem desta era. Não parecem de era nenhuma.
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