segunda-feira, 27 de março de 2006

Ojos de Brujo - Techari

Apreciação final: 7/10
Edição: PIAS, Fevereiro 2006
Género: Fusão/Música Flamenca
Sítio Oficial: www.ojosdebrujo.com







Quer se queira quer não, a música dos Ojos de Brujo é flamenco. Pode não se ajustar à definição mais purista do termo, mas o espírito nómada e virtuoso da música cigana da Andaluzia (que depois se tornou símbolo da nação espanhola), a independência orgulhosa das guitarras em quase-improviso, as vozes plurais em uníssono, as palmas a acompanhar e a musicalidade típica da cultura cigana estão em Techari. O título do disco é o sinónimo romaní de "livre" e assim é a música dos Ojos de Brujo. Eles não se circunscrevem ao precioso substrato do flamenco e misturam-no com alguma electrónica, uns pozinhos de sonoridades orientais e, no mais arrojado investimento, vão buscar alguns jogos vocais ao hip-hop e insinuações instrumentais mais próprias de um disco de funk ou reggae. A esta miscigenação de géneros não é indiferente a família de colaboradores convidados para o álbum, de que fazem parte os britânicos Nitin Sawhney e Asian Dub Foundation.

Ao terceiro álbum, os Ojos de Brujo sublimam os preceitos de um conceito musical que toca correntes musicais ancestrais, da antiguidade egípcia à cultura muçulmana, do sangue quente do povo cigano ao magnetismo do som oriental, da urbanidade da expressão africana à órbita sensual dos bailados e sapateados latinos e das castanholas. De Sevilha a Dakar e Timbuktu, com escala em Londres, Xangai, Dehli e Havana. Musicalmente poliglota e escorreito, a Techari pode apenas apontar-se uma disfunção: ao tentarem interceptar, em simultâneo, uma infinidade de escolas musicais, os Ojos de Brujo comprometem algumas composições e acabam por refrear o discurso mais elogiável do seu arsenal (e aquele em que melhor concentram energias), o flamenco. Só é pena que o disco não nivele por aqueles instantes em que o flamenco melhor se concilia com outros estilos (o cruzamento com o reggae em "Corre Lola Corre", na oriental-rap "Todo Tiende" ou no hip-hop frenético de "El Confort No Reconforta") porque, aí, os Ojos de Brujo são pouco menos do que esplêndidos.

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