sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Novo single dos Strokes

O novo single dos Strokes, intitulado "Juice Box", está já disponível para audição no sítio oficial da banda. O novo longa duração chegará às lojas lá para Janeiro. Por ora, sinta-se a onda subliminarmente grunge do single.
Pode descarregar a canção aqui.

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Elbow - Leaders of the Free World

Apreciação final: 8/10
Edição: V2, Setembo 2005
Género: Dream Pop/Indie Rock
Sítio Oficial: www.elbow.co.uk








A órbita dos britânicos Elbow divide-se entre as fórmulas progressivas e um certo psicadelismo indie. Se no primeiro caso há o recorrente risco de as composições se tornarem redundantes, por força de estruturas musicalmente aliterantes, na segunda situação há um chamamento dos sentidos, uma convocação infatigável de jogos da mente. Neste Leaders of the Free World, os Elbow sublinham essa face alucinatória da sua música, deixam de lado o conceito progressivo - eles próprios definem-se como progressivos sem os solos de guitarra - e concebem um disco cru, de temperamento outonal, ensimesmado e ressonante. O terceiro álbum do quinteto inglês articula emoções com precisão e intimidade e arruma-as em enigmas expiatórios, como se a consternação fosse o instrumento redentor da melodia. Depois, a aura deste disco é subtil, quase intáctil na sua identidade quebradiça, no mesmo jeito da voz de Guy Garvey, aparentemente frágil mas com um arrepiante alento.

Leaders of the Free World é um tomo de canções contemplativas e de feições taciturnas que vencem pela espontaneidade. Não é uma peça musical festiva, antes um documento de romantismo àspero, de meditação impulsiva e de embalo lento. Suportado numa excelsa destreza compositiva, o mais recente (e mais bem conseguido...) trabalho dos Elbow é radioso na melancolia e mágico nas sombras - esse encanto apenas se desvanece em alguns momentos menos consistentes do alinhamento - e consagra definitivamente os rapazes de Manchester. A dada altura, Garvey canta: "the leaders of the free world are just little boys throwing stones". Sardonismo político aparte, serão eles os gaiatos?


Para escutar estas amostras, precisa de instalar o Real Player. Baixe-o aqui

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Nickel Creek - Why Should the Fire Die?

Apreciação final: 7/10
Edição: Sugar Hill, Agosto 2005
Género: Folk Progressivo/Tradicional Americana/Bluegrass
Sítio Oficial: www.nickelcreek.com








O terceiro longa-duração do trio californiano Nickel Creek segue as pegadas musicais das edições anteriores e adere a uma causa de harmonias sem tropel, embora com uma porção acrescida de ímpeto e com um vínculo mais introspectivo e taciturno. As composições prescindem da percussão - a excepção são os temas "Helena" e "Best of Luck" - e arrumam-se num formato acústico, numa dinâmica melodiosa de onde sobressai a simbiose magistral entre a guitarra, o bandolim e o violino. Depois, os registos vocais alternantes de Sara Watkins (o irmão Sean completa o trio) e Chris Thile reforçam a orgânica afectuosa do álbum, num timbre outonal e intimista que avoca um afago delicado da face incorpórea do ser humano. E o som dos Nickel Creek é, tambem ele, quase impálpavel, tem algo de atmosférico e volante, tem raízes na country de Hank Williams, Loretta Lynn ou Steve Earle e alastra-se para o rock dos Jethro Tull e a indie pop dos The Decemberists ("Jealous of the Moon" não podia ser deles?). A isso, o trio americano acrescenta um cunho próprio assente numa excelsa tríade de cordas e em arranjos minimalistas, compondo um mosaico sonoro profuso, especialmente notado nos três ensaios instrumentais do disco ("Scotch & Chocolate", "Stumptown" e "First and Last Waltz").

Why Should the Fire Die? é um suave jogo de sombras musicadas que desenham os contornos da tradição bluegrass com o pincel do imediatismo pop. Este disco é talvez o mais creativo do curto percurso da banda mas, se não é um produto irresistível para os puristas do género bluegrass, deve aproximar os Nickel Creek da comunidade indie e servir de referência para uma eventual viragem expansiva do conceito musical do trio. De qualquer das formas, se Why Should the Fire Die? é provincial, é consistente, é arcaico, é moderno...que importa se a palavra country não chega?

terça-feira, 27 de setembro de 2005

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Kanye West - Late Registration

Apreciação final: 7/10
Edição: Roc-A-Fella, Agosto 2005
Género: Hip-Hop
Sítio Oficial: www.kanyewest.com








Ao pular do anonimato como produtor de outros rappers (Jay-Z, por exemplo) para o sucesso estratosférico com a edição do primeiro álbum (The College Dropout (2004)), Kanye West atraiu sobre si a atenção do universo hip-hop, dos críticos, das editoras, de programas de T.V. e de um culto de milhões de admiradores - e alguns olhares de soslaio - um pouco por todo o mundo. Não sendo um MC de atributos intocáveis, West mascara uma certa frivolidade lírica com um excelso talento no manejo de beats e samples, moldando um suporte musical de gala. A essa condição pomposa e ressonante não é estranha a co-produção de Jon Brion (nunca trabalhara antes no mundo hip-hop) que acrescenta arranjos de cordas e sopros à crueza sonora das texturas de West. Além da música, o alento de Late Registration é a confidência e o intimismo pessoal; essa transposição da alma de West - a substância decisiva do disco é a matriz soul - é o veículo difusor do conceito fracturante (e fracturado?) do músico. Depois, o cometimento de abrir o disco a numerosas colaborações (Jay-Z, Adam Levine, Jamie Foxx, Common, Brandy, Cam'ron, The Game e Nas, entre outros) ocasionou o redimensionamento do jogo musical de West, desfazendo estereótipos da identidade hip-hop e expondo uma propensão evolutiva assinalável.

Late Registration não encerra em si o efeito novidade do seu multi-premiado antecessor mas é uma declaração consistente de maturidade criativa, com estilo e substância que, embora roce a enfatuação aqui e ali, mostra inequivocamente o engenho de West. Mas a destreza do produtor é posta ao serviço do hip-hop ou de outra escola? Kanye West é um artesão de canções invertebradas, de faixas híbridas que se abeiram da matriz musical pop e que se completam com infusões de um rapper (será que ele o é mesmo?) de classe média-alta, um nouveau riche à cata de rimas rebeldes. Mas não é tudo muito plástico?

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Serra da Estrela

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Título: Serra da Estrela I
Autor: Aguinaldo Vera-Cruz
Fonte: http://aguinaldovera-cruz.com

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Sigur Rós - Takk...

Apreciação final: 7/10
Edição: Geffen, Setembro 2005
Género: Pós-Rock/Experimental
Sítio Oficial: www.sigur-ros.co.uk








Nascidos em 1994, no seio da cerração e do frio da Islândia, os Sigur Rós já firmaram um código musical próprio, em violação de convenções e avocando um singular pacto com o som. A marca do colectivo nórdico distingue-se pela construção de uma atmosfera celestial (e mesmeriana) que deriva de uma orgânica sonora delicada - onde coabitam meticulosamente o piano, a guitarra, os sopros e substâncias etéreas (como a voz de Jonsi Birgisson) - e farta de teatralidade extraterrena. É essa a intuição que se desprende dos acordes volantes, das notas movediças e do feitiço vocal dos Sigur Rós; é a contemplação subconsciente de uma outra dimensão, de um universo paralelo que não existe mas que germina infalivelmente em altares imaginários no espírito do auditor. Takk ("Obrigado" em islandês) é o fruto glacial mais recente dos Sigur Rós e, mantendo a acuidade típica do grupo, mostra composições menos rebeldes, também mais próximas do formato canção, ainda que conservando uma feição distintiva dos islandeses que divide o seu som, com erudição, entre a ampliação orquestral e o intimismo despojado. Takk - o primeiro disco cantado em islandês e não no dialecto imaginado pelo grupo para os outros discos - é também o registo mais acessível e directo dos Sigur Rós. As texturas divulgam um compromisso instrumental acrescido, a voz é relegada, torna-se eventual como um recurso acidental. Depois, o quarto disco do ensemble escandinavo busca êxtases menos funestos e reencontra-se pacificamente com a ingenuidade do bucólico, num jogo ambivalente que constrói um repto inquietante à emoção e oferece, de seguida, a catarse para os sobressaltos induzidos.

Esgotado o efeito novidade, mantêm-se a mística fria e a magia quase mitológica de um dos mais inventivos conceitos da cena musical. Sem surpresas técnicas, Takk é contagiante e menos hermético do que os antecessores e expande a música dos Sigur Rós para a contemplação e a materialidade. Feito de música mais tangível, Takk remete-nos para uns Sigur Rós ditosos (em euforia?), sem hipoteca da sua condição dramática, mas aquém do zénite experimental de Agaetis Byrjun. Ainda assim, Takk é um encantatório anúncio do Outono que se avizinha e impõe um conselho: quando as temperaturas baixarem, nada melhor do que esquentar orelhas com headphones ao som do último trabalho dos Sigur Rós. Um takk para os rapazes também por isso.

Posto de escutaGlósóliSaeglopurGong

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Alinhamento

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Título: Alinhamento
Autor: Aguinaldo Vera-Cruz
Fonte: http://aguinaldovera-cruz.com

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Part Chimp - I Am Come

Apreciação final: 8/10
Edição: Rock Action
Género: Noise Rock/Metal/Stoner Rock
Sítio Oficial: www.partchimp.com








Uma emboscada além da compreensão, um minuto-e-trinta-e-seis segundos arremessados ao ouvinte com despudor, assim se inicia I Am Come, o novo (e segundo) trabalho dos Part Chimp. A melodia é trocada, em adultério exercitado conscientemente, pela descarga eléctrica incessante, buliçosa, repetitiva, igualmente angustiada e furiosa. A voz insinua-se e, com fragilidade, tenta sobreviver num oceano de ruído e distorção. A violação pungente dos canais auditivos é uma patologia do colectivo britânico, rebela-se em cada segundo de depravação sonora contra convenções. A alienação de I Am Come é um fim e um meio, como um terramoto saturante que jamais se esgota ou um manancial em tempo algum exaurido. E o fluido inspirado que escorre das entranhas dos feedbacks e guitarras angulares do álbum redunda numa incessante hipnose do ouvinte, em crescendo com o disco. Saturador e sufocante ou irresistível? Literalmente, I Am Come é o contraposto psicadélico do rock actual e assume-se como o protótipo da evolução seguinte. Os Part Chimp votam-se ao desalinho, são terroristas sem paralelismos e assinam um registo inebriante, caótico e demolidor.

A dinâmica de I Am Come é sonicamente intensa mas não há uma nota fora de lugar, a concisão do discurso está em proporção. Depois, o composto musical dos Part Chimp é tão volumoso que faz corar de desonra qualquer banda de noise-rock. Se há música capaz de demolir construções, Tim Cedar e seus pares são a filarmónica certa para esse ofício e I Am Come o bulldozer infalível. Efeitos secundários prevísiveis: impulsos descomedidos para insistir na audição repetida do disco e...uma mais que provável consulta no otorrinolaringologista! Imperdível.

Procure na grafonola as faixas "War Machine", "Bring Back the Sound" e "30 Billion People"

sábado, 17 de setembro de 2005

Fim de tarde

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Título: fim de tarde
Autor: Adilson Faltz
Fonte: http://faltz.nafoto.net

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Nine Black Alps - Everything Is

Apreciação final: 6/10
Edição: Universal, Agosto 2005
Género: Pop-Rock/Grunge
Sítio Oficial: www.nineblackalps.net








O quarteto Nine Black Alps é oriundo de Manchester mas o epicentro do seu rock é a Seattle dos anos 90 e, por isso, o colectivo apresenta-se em feições neo-grunge que conciliam composições com mais peso e alguns anexos melódicos. O passo frenético das faixas rock (com sinais miméticos dos Foo Fighters, ainda que Sam Forrest revele uma versatilidade vocal maior do que Grohl) é sopesado pelos fragmentos de acalmia introduzidos pelas canções que rejeitam as distorções e hospedam texturas sonoras mais introspectivas. Everything Is é um disco de alma rock com guitarras estrepitosas, percussão enérgica e a sensibilidade pop que Cobain tão bem acoplou à sua música. Herdeiros do legado Nirvana (as similitudes não são muitas...), os Nine Black Alps não se impõem rigidamente o formato grunge e dão a conhecer méritos eclécticos noutros campos: "Behind Your Eyes" (ode acústica com vínculos psicadélicos) e "Intermission" (balada acústica e relaxante).

Everything Is é um exercício rock aceitável, um frenesi púbere de energia, um casamento electrizado e negro entre o purismo punk e o conceito pop. A mecânica Nirvana/Foo Fighters/Buzzcocks (Pixies também?) serve de matriz para estes rapazes britânicos mas, ainda que a espaços as boas ideias sejam convertidas em canções nobres, eles não parecem ter ainda unhas para tocar esta guitarra. Alguma incúria e facilitismo a menos, comedimento e alma acrescidos e uma balizagem mais focada dos seus propósitos e os Nine Black Alps podem vir a tornar-se uma alusão relevante. Por ora, eles não são mais do que outra banda evocativa da dádiva grunge e Everything Is não é mais do que um razoável cartão de visita. Serviço mínimo.

Procure na grafonola as faixas "Cosmopolitan", "Not Everyone" e "Behind Your Eyes"

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Pedalando ao amanhecer

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Título: Pedalando ao amanhecer
Autor: Adilson Faltz
Fonte: http://faltz.nafoto.net/

terça-feira, 13 de setembro de 2005

The New Pornographers - Twin Cinema

Apreciação final: 8/10
Edição: Matador, Agosto 2005
Género: Indie Rock/Power Pop
Sítio Oficial: www.thenewpornographers.com








O colectivo The New Pornographers integra Carl Newman (dos Zumpano), Neko Case (como vocalista convidada), John Collins (dos Thee Evaporators), Dan Bejar (dos Destroyer), o guitarrista Todd Fancey, o teclista Blaine Thurier e o baterista Kurt Dahle. Sediado em Vancouver, o super-grupo canadiano tornou-se matéria de culto desde a edição de Mass Romantic (2000) e especialmente de Electric Version (2003), pelo que as expectativas de antecipação de Twin Cinema eram elevadas. O terceiro trabalho de estúdio do grupo aprova o mesmo esquema estético dos seus antecessores, subscrevendo um compromisso com eufonias delicadas e um som luzidio e livre de impurezas, em composições cativantes e construídas com elegância. A opulência na justa medida das canções é o certificado de um som que, sem soar anacrónico, evoca a pop clássica dos anos 60 e 70 (um pozinhos dos Kinks..?) e é aconchegado por uma produção destra e que empurra o registo dos The New Pornographers para uma toada enigmática que fica equidistante da sedução inquietadora e do conforto intimista (lembram-se do disco The Slow Wonder de Newman?). Àquela componente inveterada, o ensemble acrescenta um entusiasmo fervoroso e expansivo que, aliado à diversidade vocal das canções, impõe uma insígnia de coesão power-pop à estrutura verso-refrão-verso. Contudo, o simplismo dessa regra serve apenas de fundação a texturas além-fórmulas que afirmam uma certa complexidade rítmica, desenhada em multi-camadas sobrepostas com sobriedade e que não perdem o imediatismo.

Twin Cinema não mudará o sentido de rotação da Terra dada a dimensão reduzida do seu impulso inovador. Todavia, o disco escapa ao vulgar plagiato do universo pop, negando os clichés e assumindo, de corpo inteiro, a efervescente idealização de Newman e seus pares, no resgate de sonoridades julgadas extintas e no risco de as moldar delicadamente a uma identidade remoçada. E desse (re)arranjo nasce uma assinatura de autor. E um grande disco.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Composição

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Título: Composição
Autor: Guacyr Aranha
Fonte: www.olhares.com

domingo, 11 de setembro de 2005

Rocky Marsiano - The Pyramid Sessions

Apreciação final: 8/10
Edição: Loop Recordings, Maio 2005
Género: Sampling/Hip-Hop/Eletro-Jazz
Sítio Oficial: www.looprecordings.com








Rocky Marsiano é o novo alter-ego de D-Mars, um veterano do hip-hop nacional (nascido na Croácia e importado pela cena nacional há treze anos) que firmou o seu perfil musical graças ao envolvimento nos projectos Zona Dread, primeiro, nos Micro, depois, e mais tarde a título individual, com o disco Filho da Selva (EMI, 2003). Agora pela mão da Loop Recordings, o produtor afirma um traço não revelado antes e busca uma identidade distinta, percorrendo o universo jazz com a destreza e experiência de um sampler versado e amplitude de visão de um MC experimentado. Deixando de lado as rimas que compunham os seus retratos anteriores, Marsiano engendrou um álbum quase integralmente instrumental, facultando à música (e à produção) o protagonismo maior e ao groove o encargo simbiótico de fundir o improviso jazz e a filiação hip-hop de D-Mars. A integração dos loops é quase intuitiva, como se cada pedaço raptado das relíquias de vinil cobrisse por inteiro um espaço inconscientemente pré-reservado para si. A pulsão do álbum desenha um conceito próprio de jazz, uma síntese catalisadora de guitarras, pianos, instrumentos de sopro e vibrafones, entrecortados pela presteza da percussão e pela habilidade no scratch. A componente técnica de The Pyramid Sessions merece, pois, distinção especial, certificando D-Mars como produtor na primeira linha nacional e músico de valia indesmentível.

A par dos enigmas desta pirâmide fecunda, D-Mars traz-nos pequenas preciosidades, verdadeiras pérolas de malabarismo musical que devem ser destapadas com a deferência devida às grandes obras. Respeitando coordenadas de um esqueleto musical pré-definido, D-Mars corta-e-cola, sobrepõe, soma e subtrai com a alma de um criador genuíno. Seja considerado um disco de jazz musicado em hip-hop ou o inverso, The Pyramid Sessions exprime-se num código musical gracioso e lídimo, quase exclusivo e digno de figurar na mais fina estirpe nacional para este ano.

Posto de escutaSítio Oficial

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Um son(h)o descoberto

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Título: Sem título
Autor: Alberto Monteiro
Fonte: www.albertomonteiro.com

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Minus the Bear - Menos el Oso

Apreciação final: 6/10
Edição: Suicide Squeeze, Agosto 2005
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.minusthebear.com








Oriundo de Seattle, o quinteto Minus the Bear apresenta o seu quarto longa-duração numa matriz rock hiperactiva que, derivando de riffs com nervo, promove a construção de um edifício sónico algo complexo que consegue o fito improvável de conjugar as texturas power chord dos Jimmy Eat World e o apuro dos Q and Not U. A precisão matemática e o sentido de simetria das guitarras (a proficiência dos músicos é inatacável) é a substância primordial de Menos el Oso já que a voz de Jake Snider resvala, a par das letras prosaicas e da monotonia das melodias, para uma banalidade no limite do tolerável. Mesmo o delicioso e niilista traço de aleatoriedade dos títulos das composições dos discos anteriores foi afastado deste Menos el Oso e trocado pela vulgaridade de títulos como "The Fix" ou "Fulfill the Dream". Esquecido o detalhe do baptismo das faixas, o alinhamento do álbum é um desfile de trivialidades, salvando-se a técnica dos músicos e a aparição pontual de um higiénico subterfúgio electrónico.

Menos el Oso envida um novo paradigma dos Minus the Bear: os espasmos dos trabalhos anteriores são trocados por um som mais angular e refinado (também mais aborrecido?). E esta reinvenção favorece-os? Aceitam-se réplicas. O formato é subliminarmente diferente mas o mote é o mesmo: romantismo loja-dos-trezentos em histórias quase néscias de amores regados com álcool, de amizades malogradas e de memórias frustradas. A certo instante Snider prosa assim: "I saw her with another man walking downtown/ She's not mine and she'll never be/ By my side walking downtown/ I only met her once before/ She was alone in a back booth/ A drink and a cigarette/ Smoking like she was waiting for someone/ Me stealing glances as she stole my breath/ The next one's on me". Dê-se o devido crédito aos músicos - afinal Menos el Oso contém algumas boas ideias tecnicamente bem interpretadas - mas sirva-se uma bebida a Snider. Com perseverança, talvez a moça aceite passear com ele...

Aqua Matrix

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Título: Aqua Matrix
Autor: Aguinaldo Vera-Cruz
Fonte: http://aguinaldovera-cruz.com

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

The Magic Numbers

Apreciação final: 7/10
Edição: Heavenly, Junho 2005
Género: Indie Rock/Folk
Sítio Oficial: www.themagicnumbers.net








O quarteto Magic Numbers tem raízes em Londres e é formado por dois pares de irmãos - Romeo e Michele Stodart e Sean and Angela Gannon. Este álbum epónimo, também o primeiro trabalho do grupo, remete o ouvinte para a toada relaxante e harmoniosa da folk e do pop-rock dos anos 60. O som é directo e não se fecha na intuitiva nostalgia dos Mamas & Papas, de Brian Wilson ou de Dylan; a esse ilustre compadrio, os Magic Numbers acrescentam laivos de intemporalidade, concebendo uma marca sónica própria que deriva de estruturas melodiosas onde a guitarra e o baixo dialogam permanentemente, servindo as vozes o propósito simbiótico de unificar as partes. Depois, a verosimilhança inata das composições, a naturalidade do discurso e a ductilidade do som da banda conferem a Magic Numbers uma lisura superlativa. Impossível é não gostar deste registo imediato (não é sinónimo de simplista) e transgeracional, para avós (pela sensibilidade retro) e netos (pela fusão modernista), engenhosamente ornado por arranjos instrumentais e vocalizações múltiplas e com uma produção correcta. Todavia, a um certo comedimento na produção acresce o ajuste, em instantes do disco, a rudimentos na composição que, não minorando o feitiço saudável das canções, as torna subliminarmente aliterantes. Mas não é dessas vulnerabilidades que abrolha o tímido vigor deste disco?

Magic Numbers é um álbum com duas metades diversas. A primeira, mais recreativa e rock, tem alma veraneante e provoca um efeito colateral: dança hippie incontinente. A outra parte é simultaneamente traumática (os inevitáveis amores perdidos...) e terapêutica e expõe as fragilidades emocionais na forma clássica de balada pop ou country. Promissor, equilibrado e poético, Magic Numbers é um disco de decifração fácil e de aritmética sem mistérios: as doze (12) faixas são mesmo números mágicos. Com uma estreia assim, se o quarteto tiver a sensatez de corrigir os desvios, só pode confiar-se que, algures no porvir dos Magic Numbers, estará uma obra-prima. Enquanto ela não chega, vale a pena descobrir este trabalho.


Procure na grafonola as faixas "Forever Lost", "Mornings Eleven", "Long Legs" e "I See You, You See Me"

terça-feira, 6 de setembro de 2005

Sob o guarda-sol

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Título: Sob o guarda-sol
Autor: Adilson Faltz
Fonte: http://faltz.nafoto.net/

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Kubik - Metamorphosia

Apreciação final: 8/10
Edição: Zounds, Agosto 2005
Género: Electrónica Vanguardista/Samples
Sítio Oficial: www.zounds.pt/bands/kubik/biog.html








O guardense Victor Afonso regressa às edições discográficas depois do inesperado Oblique Musique, lançado em 2001. Em Metamorphosia é mantido o acento tónico na componente experimental das composições, em rompimento declarado de convenções ou pretensiosismos. A vertente manifestamente vanguardista das orgânicas electrónicas é revigorada e, mediante a assunção de um risco acrescido, a sonoridade é mais minuciosa e dedica um relevo maior ao detalhe, sem medo da excentricidade (sempre controlada...) de repudiar estruturas de canção tradicionais. O som é objecto de alquimias repetidas, de subversões lúdicas, de fragmentações intencionais, de colagens e sobreposições que seguem os princípios criativos da bricolage de Afonso. A manipulação electrónica é o denominador comum do disco e o veio essencial da metamorfose musical do universo de Kubik, um labirinto conceptual e híbrido, um mundo uno e indivisível, um terreno bravio que apetece explorar ao milímetro. Desse espaço sónico provém um fluido musical invulgar, produto misterioso e progressista de um génio tímido cuja assinatura deixa um lastro quase-dadaísta, qual salteador que rouba pedaços de música ao seu habitat e os sobrepõem em encenações imagéticas multi-camadas, de cargas energéticas contrastantes e que remexem, de jeito surreal, o status quo. Victor Afonso tem uma linguagem musical própria, um código agitador de turbas; Metamorphosia é disforme na dimensão caótica das texturas, é ousado na liberdade criativa e revela-se um nicho polimórfico de plenitude musical.

Metamorphosia é, em si mesmo, um compromisso com coisa nenhuma, um documento musical livre e fatalmente cativante, uma nascente incorruptível, um baú de quimeras descerrado. A preencher o imaginário do álbum destacam-se os vultos de Adolfo Luxúria Canibal, Old Jerusalem (dá para o reconhecer em "I'm a Vampire, I'm Disgust"?), Américo Rodrigues (lembram-se do disco Aorta Tocante feito a partir de vegetais?) e César Prata (do projecto Chuchurumel). Aos outros ilustres convivas desta metamorfose, não se lhes vê o corpo...mas a alma diz presente; é como se Patton, Zorn, Ladd, os cLOUDDEAD, Zappa, os Residents e os Neu se houvessem reunido num sarau heterodoxo em serrania da Guarda. Ou no intelecto de Kubik. Candidato a melhor nacional do ano, Metamorphosia é um disco imperdível.


Procure na grafonola os temas "Sound Nest", "Cannibal Vegetables" e "I'm a Vampire, I'm Disgust"

Narcissus

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Caravaggio, Narcissus, 1597

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Holopaw - Quit +/or Fight

Apreciação final: 7/10
Edição: Sub Pop, Agosto 2005
Género: Indie Rock/Folk/Lo Fi
Sítio Oficial: www.holopaw.net








O segundo trabalho do projecto Holopaw, liderado pelo guitarrista/cantor/compositor John Orth, adere ao formato folk intimista, em detrimento da doutrina country que imperava no disco de estreia. Evocativo de uma atmosfera sonora polida e atraente, Quit +/or Fight alvitra a simplicidade como dogma maior de composições escuras de melancolia e tíbias de ânimo. As aposições orgânicas nas harmonias dos Holopaw são menos afirmativas mas, ainda assim, fermentam a coesão de um álbum cujas forças motrizes são a intimidade desarmante e a captação apurada do quinhão tangível da solidão. O selo idiossincrático da escrita dos Holopaw é um timbre folk atilado e lo fi, com o suporte de arranjos comedidos e da elasticidade e excentricidade vocal de Orth, compondo uma irrecusável convocação para antever, no pacto latente entre as faixas do alinhamento, o fragmento sumido de um universo quebrado em si mesmo e que se recobra e regenera nas sinergias transversais das melodias de fada de Quit +/or Fight. Depois, a banda parece ter subscrito um convénio de magreza das composições: à excepção da balada "Shiver Me", as canções raramente suplantam os três minutos. Continência (em prejuízo do valimento do disco...) ou isolamento requintado da melancolia?

Quit +/or Fight é outra jornada do esquadrinhamento dos interstícios da folk que os Holopaw espreitam na luminescência acanhada do charme de um bom núcleo de canções. Se isso não basta para espertar a curiosidade, Michael Johnson (baterista e teclista da banda) tributa uma burlesca descrição do quinteto e suas causas: "a queer, a Peruvian, a redneck, a burnout, and an asshole walk into a bar...". Agora só falta ouvir o disco.