quinta-feira, 16 de junho de 2005

Colleen - The Golden Morning Breaks

Apreciação final: 8/10
Edição: Leaf, Maio 2005
Género: Pós-Rock/Experimental/Ambiente
Sítio Oficial: www.colleenplays.org








Considerar a música da francesa Cecile Schott, artisticamente baptizada como Colleen, apenas minimalista e ambiental é fazer uma simplificação tosca dos mandamentos musicais da jovem gaulesa. Com um quase ingénuo simplismo, Schott arquitecta cenários melódicos e oníricos, abreviados a uma condição mínima, é certo, mas que encerram uma íntima aliança entre o tom compassado da folk acústica e as nuances electrónicas apaixonadas dos timbres de trovadores renascentistas, em que o mutismo é subjugado pela harmonia das guitarras, aqui mais imaginadas do que tocadas, e pela hipnose caleidoscópica da lira, da harpa, da viola da gamba e das teclas. Embrulhado em melodias quebradiças, o discurso de Colleen é uma expressão graciosa numa linguagem musical multicultural, mesmo intemporal, cruzadora de gerações e técnicas, simultaneamente ancestral e moderna. Além disso, a substância nascida do manancial de instrumentos de The Golden Morning Breaks é romanticamente perturbadora e remete o ouvinte para um escapismo quimérico, para um imaginário etéreo de fábulas e alegorias, um mundo dual de encantamentos meditativos e sonhos poéticos.

The Golden Morning Breaks é uma passagem de nostalgia interminável e de langor prostrado, mas é também uma porta aberta para universos mágicos de arte bucólica. Neste trabalho, Colleen é feiticeira de adágios mesmerizadores e transparentes que reclamam (e merecem...) audições sucessivas, até que se alquebrem as resistências derradeiras do ouvinte e, finalmente se revele, no impulso inofensivo da sua candura, o irresistível primor das composições. Não é um disco generalista, tampouco será um tomo de consumo imediato, mas destapadas as virtudes da sua essência, The Golden Morning Breaks é uma incursão invulgar (e obrigatória) ao planeta quase inabitado das utopias.

2 comentários:

O Puto disse...

É um disco que assume a coragem de nos fazer sonhar, apontando à mente e recusando o hedonismo hegemónico da música contemporânea. Gostei bastante.

Spaceboy disse...

Um dos álbuns do ano, adorei e o texto está muito bom. Parabéns.