quarta-feira, 22 de junho de 2005

Guapo - Black Oni

Apreciação final: 6/10
Edição: Ipecac, Março 2005
Género: Rock Progressivo/Vanguardista/Experimental
Sítio Oficial: www.ipecac.com








Formados em 1994, os britânicos Guapo são porta-vozes de uma mensagem sónica fora do comum, difundida na volúvel forma de uma massa indomável de ruídos hipnóticos, experimentalismos catárticos e um compromisso devaneador com a progressividade. Confuso? Pois bem, a luxúria instrumental de Matt Thompson (baixo/guitarra), Dave Smith (percussões) e Daniel O'Sullivan (teclas) é propositadamente evocadora de um imaginário contido de tumultos, ritmos maníacos, obsessivamente negadores do silêncio e veneradores do legado kraut-rock, do vanguardismo minimalista e, mais do que isso, da dimensão sinfónica das composições. Da atitude escorreita das cinco faixas que compõem o alinhamento deriva um magnetismo quase telepático e inebriante, rumo a um clímax que, se é confirmado em certos instantes do disco, parece inacessível noutros. Black Oni é isso mesmo: um cerimonial de virtuosismo e ambição, um festim de volúpia instrumental. Contudo, é difícil ouvir o álbum e não sentir a moléstia de um certo comodismo formalista da banda. Supostamente, Black Oni é a segunda parte de uma trilogia começada com Five Suns (2002) e, embora se apresente num registo mais criativo e sombrio - algures entre a excentricidade aterradora do padrinho Mike Patton, a pujança eléctrica de Sunn O))) e a prolificidade dos Mars Volta - a banda continua a dar primazia ao quase-improviso em detrimento da composição. O frenesim sonoro resulta carnavalesco, mecânico e hiperbólico, resvalando as mais das vezes para a previsibilidade o que, não suprimindo a excelência dos músicos, atenua a robustez das texturas.

Black Oni é um artefacto sonoro válido na precisão lacónica da sua insanidade. Não mais do que isso. E aí se acha a nódoa que mancha este pano. O comedimento na alienação criativa traz a estas composições dos Guapo a mesma invalidez que o humedecimento provoca a um fósforo. As sucessivas audições do álbum confirmam a conclusão óbvia: Black Oni é mesmo um fósforo humente que, ao invés de servir o seu propósito ignífero, se torna tão vão quanto um simples palito. Ainda assim, o disco é um exercício recomendado a melómanos com paciência para confiar que, logo que o dito fósforo fique enxuto, venha a ser capaz de produzir uma chama vivaz. Sem compromisso.

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