quinta-feira, 2 de junho de 2005

Smog - A River Ain't Too Much To Love

Apreciação final: 7/10
Edição: Drag City, Maio 2005
Género: Cantautor/Folk Alternativa








Com este trabalho, Bill Callahan - pioneiro da revolução lo-fi alcunhado artisticamente como Smog - desenha a décima segunda face de um percurso em forma de dodecaedro romanticamente melancólico e profundamente reflexivo. Desde 1992, a data de lançamento de Forgotten Foundation, Callahan erigiu um edifício sónico de contemplação e acérbica ironia. Neste A River Ain't Too Much To Love, o seu primeiro registo em dois anos, o músico norte-americano investiga as fundações da folk de terras do Tio Sam, capta-lhes a essência poética e o costume íntimo e concilia-os num álbum que aglutina as narrativas na primeira pessoa e as melodias da emoção. Se algumas das composições aparentam a sua condição esquelética, não é menos verdade que, também por isso, sublevam a imponência dos pequenos diamantes que Callahan burila como poucos. O travo country que pontua A River Ain't Too Much To Love protege o fracturado mundo de melancolia e misantropia do compositor, num tom simultaneamente perturbador e absorvente, em que o registo barítono da voz é um precioso coadjutor à arrumação desse sereno embalo confessional. As instrumentalizações são acolhedoras, resumem-se à parca essencialidade de testemunhas reconfortantes. O discurso é o epicentro e acolhe, como pano de fundo, os ícones mais relevantes do imaginário simbólico da civilização americana: os comboios, os diques, os pinheirais, os poços... Desses cenários brotam relatos seculares de amores desencontrados, de perdas e de isolamento.

Em A River Ain't Too Much To Love Callahan veste a pele de poeta trovador e embarca em divagações parabólicas, com a guitarra debaixo do braço (a bateria de Jim White, dos The Dirty Threes, aparece aqui e ali), pela majestade da solidão e do silêncio. O resultado é um retrato fugidio e metafórico, uma experiência sonora delicada e cujo fluido maior de fulgor, não sendo genial, se esconde, sardónico, por detrás da candura das composições.

3 comentários:

Anónimo disse...

uh uh, do electrelane, do electrelane! axes

Anónimo disse...

Joana, vai espreitando o apARTES que, num dia próximo, cá estará esse disco. Já comecei a ouvi-lo.

O Puto disse...

Dos Smog, a comprar urgentemente. Das Electrelane, a ouvir em breve.