terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

If Lucy Fell - Zebra Dance

7/10
Rastilho
2008
www.iflucyfell.com



Depois de se terem apresentado ao universo musical com um muito competente - e generalizadamente bem acolhido - álbum de estreia (You Make Me Nervous, de 2005), então desvendando um rock tenso e musculado, pautado por um certo nervo experimentalista e, sobretudo, por uma identidade quase artesanal na hora de domar energias e dispô-las em "canções" corrosivas e esquizofrénicas, os lisbonenses If Lucy Fell chegam ao crítico (e sempre empolado) momento do segundo disco. A matriz técnica de Zebra Dance não difere substancialmente do antecessor, todavia percebe-se uma amplitude maior das composições, mormente na forma como crescem além do metalcore - afinal, é aí que moram as fundações da banda e o começo do percurso artístico dos seus integrantes - e definem uma linguagem mais refinada. E isso, neste caso, pode ser sinónimo de cadências aqui e ali menos ofegantes, de uma melhor estruturação dos enlaces instrumentais, de um desempenho vocal mais firme e, inclusivamente, de composições menos previsíveis e com pausas para descanso. Nesse particular, Zebra Dance acaba por criar a ilusão de ser um disco menos duro mas, ao invés disso, sob essa fantasia de aparente abrandamento, descobre-se música tão pujante e visceral quanto antes. A diferença está na "massa", decididamente menos difusa (a adição das teclas de "Shela" Pereira, dos Riding Panico não é fenómeno estranho a isso), com tiques mais próximos de outras órbitas, como sejam alguns breves ensaios progressivos e, mais evidentes ainda, outros números contaminados por afinidades (bem disfarçadas atrás da extática farra de electricidade e distorção) com o laconismo técnico dos cânones math.

Em qualquer um desses revestimentos, sobressai o ímpeto contestatário e a excitante inflamação da música dos If Lucy Fell e, sobretudo, a verve cada vez mais pulsante do grupo, bem ao jeito de um turbilhão de ideias suficientemente rico para poder atrever-se a mutações de estilo - e, também às oportuníssimas interferências de Joaquim Albergaria (a voz dos Vicious Five faz uma perninha em "La Decadence") e dos Dead Combo (na sublime coda do álbum, a críptica "She Dies") - sem perder o quinhão mais importante da sua identidade. E se, no mundo animal, a dança das zebras não é mais do que um atávico ardil para enganar olhos predadores, a Zebra Dance destes intrépidos lisboetas está aí para despir camuflagens humanas. Somos todos presas e predadores. Mas ao ouvir os If Lucy Fell e o seu imparável banzé, hoje por hoje uma das mais entusiasmantes manifestações musicais da Lusitânia, não é difícil sentir-se um apelo voraz e primário pela caçada. Por mais que a zebra dance para confundir...

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