Inerente ao conceito de turntablism está, na essência, um mapa genético de manipulação de sons que, em última instância, mais não é que uma via de artificialismo na criação musical. Seja pelo recurso a samples importados de discos de veneração, aos jogos malabares com as batidas para a inserção de loops ou outra qualquer forma de trabalho manual, a expressão foi criada em meados da década de noventa, para fazer destrinça entre a mera função de passar música e o DJ que usa o misturador como um instrumento. Ao trazer esse conceito para o seu referencial estético e, mais do que isso, ao colá-no à expressão soul para baptizar o seu primeiro registo discográfico, o trio londrino Belleruche coloca-se perante um enigma de critério. Cruzar a alma soul - aqui muito bem representada num registo vocal (de Kathrin DeBoer) à procura de confortos "intemporais" (Nina Simone é luminária instantânea) - com construções manipuladas é coisa a que dificilmente se dá sabores de novidade, de tal maneira se estafaram esses argumentos com as modas passageiras do trip hop. Amarrado a essa limitação à nascença, Turntable Soul Music acaba por soar deslocado no tempo e, pior do que isso, desvenda uma incapacidade gritante para dar novo fôlego às fórmulas gastas (os Break Reform entram-nos na memória quase imediatamente e, mais longe, um espectro Massive Attack). As canções tocam, aqui e ali, uma negligente e confrangedora previsibilidade, vivendo de melodias (e melancolias) preguiçosas, raramente abrindo espaço para a surpresa ou o instante de inspiração. Salva-se um ou outro trecho - a nervosa "Bump" ou a paradigmática "Balance" vão acima do serviço mínimo - mas fica a sensação de que, o álbum se fica pela cortesia de recuperar um género sem conseguir induzir-lhe uma faísca de revitalização.
Posto de escuta MySpace da banda
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