sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Loosers - Bully Bones of Belgie

Apreciação final: 7/10
Edição: Qbico Records, Janeiro 2006 (Vinil)
Género: Experimental/Fusão/Tribal
Sítio Oficial: www.loosersarefree.com








Depois de terem inquietado os circuitos mais independentes da música lisboeta com o inspirado álbum For All The Round Suns, editado em 2005, os Loosers abrem-nos a porta do seu quarto escuro. Em Bully Bones of Belgie, uma edição única em vinil, não se repetem a voracidade e a fricção do longa-duração e troca-se o suor musculado das distorções e o psicadelismo vocal por planos de transcendência. O noise rock não mora aqui, os compassos são pesados, arrastam-se indefinidamente para o infinito da mente, como num ritual pagão, quase endemoninhado, feito de mantras tétricos e cismas de ruídos desprendidos. A pulsação é tribal, toma fôlegos de uma espécie de cerimonial mórbido de adulação a criaturas ímpias. O lado A de Bully Bones of Belgie podia muito bem ser o fundo musical de uma missa negra de exaltação do transe ou o requiem de um clã índio perdido nos confins da periferia da civilização e rendido a politeísmos anárquicos. É assim também a música dos Loosers, intencionalmente desordenada, minimalista na expressão e extrema na sugestão espiritual.

Do outro lado do mesmo vinil verde, a proposta tem outras curvas. As composições são mais urgentes, também mais empanturradas de sons. O embalo tribal esbate-se e dá lugar a abstracções mais próprias do pós-rock, verdadeiros malabarismos onde a guitarra adulterada esboça ângulos alucinogénios, de espectro multicolor. A dinâmica torna-se menos ritualista e mais experimental, mas não se corrompe a empatia das manobras hipnotizantes. A dada altura, já não conseguem os sentidos opor-se à vastidão de impulsos que a música serve. Restarão, no espírito, os ecos improvisados e imagens sonoras das acrobacias. Bully Bones of Belgie não é música para ouvir, é para sentir. Não entra pelos tímpanos, é um vapor que se cheira, se inala e nos invade as narinas, direito ao cérebro, impondo alegorias de ritos obscuros e desconhecidos, figurações fantasmais de universos paralelos e dogmas pagãos, bruxarias e sacríficios, prestidigitações e equilibrismos. A tundra e o circo.

Em contraste com o primeiro longa-duração, os Loosers exprimem-se em fraseados musicais mais experimentais e dir-se-ia que desponta de Bully Bones of Belgie um elemento místico não proposto noutros trabalhos. Ou não traçado assim. Conclusão óbvia: Tiago Miranda e seus pares são alquimistas. Não sabem a pedra filosofal mas, neste disco, só mudam de palco: ora no papel de sacerdotes tribais de ocasião (lado A), ora na incumbência de saltimbancos de feira (lado B), saem-se a preceito. Entre as paredes do quarto escuro, eles não são os mesmos, são tão livres como no endereço do sítio oficial.

5 comentários:

Anónimo disse...

Este blog é simplesmente entediante. Qualquer ambiência artística é descrita com rectóricas infindáveis. Qualquer dos objectos é escolhido com o maior requinte pseudo-intelectual. Simplesmente previsível.

Unknown disse...

Pela sua subjectividade inevitável, as críticas merecem, aqui, o mesmo espaço dos encómios. Felizmente têm, os elogios, sido incomparavelmente em maior quantidade...

Saudações musicadas

Anónimo disse...

blah bla blah.. Ainda bem que tem muitos elogios, e nunca foi minha intenção insultar os leitores habituais deste blog. O vosso demasiado tempo livre não é nenhum crime...

Saudações

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Unknown disse...

Caro K, discussão de temas laterais e sem sentido não tem aqui lugar. O propósito deste blog não é julgar os outros ou deixar remoques a terceiros. Como tal, se o espaço não lhe agradou, ainda que lhe agradecendo a visita, tem sempre a solução óbvia de não cá voltar.

Assim poupa-nos ao mau gosto dessas insinuações sem sentido de quem, não conhecendo minimamente a realidade das pessoas envolvidas no apARTES, se presume de outra estirpe. Uma atitude seguramente bem portuguesa mas que, como disse atrás, não cabe no espírito do apARTES.

Quer deixar a sua opinião sobre música, cinema ou qualquer outro dos temas aqui propostos, tudo bem. Se prefere entreter-se com exercícios descabidos de presunção, há locais mais próprios para esse efeito e encontrá-los-à sem grandes problemas .

Estas palavras serão as últimas que dedico a este assunto. Espero que seja capaz de demonstrar a tal maturidade intelectual que parece apregoar aos ventos.

Saudações.