terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

The Elected - Sun, Sun, Sun

Apreciação final: 6/10
Edição: SubPop/Musicactiva, Janeiro 2006
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.theelected.com








A fotografia que ilustra as páginas centrais do booklet do novo trabalho dos The Elected - o projecto paralelo de Blake Sennett, guitarrista dos Rilo Kiley - é uma apresentação gráfica eloquente do som fornecido pelo quarteto californiano neste Sun, Sun, Sun. Nela, dois dos elementos do grupo (o próprio Sennett e Mike Bloom) parecem dividir uma serenata ocasional a duas moçoilas, numa toalha de picnic, num areal à beira-mar, com a bruma clandestina de Los Angeles a servir de testemunha. Assim é a música registada no fonograma: romântica, bela pela franqueza e sensibilidade mas simultaneamente introspectiva dos reflexos ambíguos do amor. Nestes retratos musicados há, também, alguma coisa de genuíno da Califórnia, seja nas melodias poeirentas do Oeste (ao jeito de Neil Young ou Gram Parson), seja na pop que tributa o Pacífico (de que Brian Wilson é o pupilo mais relevante). No fundo, Sun, Sun, Sun é uma colagem de fragmentos de um universo idílico, um mundo de ficções soft rock que resultam de combinações expeditas de guitarras (acústicas e eléctricas), banjos, um outro instrumento de sopro e a voz (às vezes exageradamente) murmurante de Bennett. As composições não fazem um logro, são mesmo ensolaradas e lembram repetidamente, em trejeitos harmónicos cativantes, o sentimento que melhor serve de sinopse ao disco: o relaxe (moleza?) depois de uma tarde soalheira de praia. Depois, as histórias versadas nas letras são poéticas e humoradas, desde o episódio do pequeno pássaro que, mesmo com a asa quebrada, ainda é capaz de cantar ("Clouds Parting"), ao parzinho de namorados que vão caçar apenas para usar os bonés de caça ("Would You Come With Me"), por exemplo.

Sun, Sun, Sun é uma ode ao sol e aos amores que sob o seu amparo se cultivam e vibra tão naturalmente quanto os improvisos musicais espontâneos de uma reunião de escuteiros. Não se deduza daqui que o som revela amadorismo; o quarteto mostra índices de coesão superiores ao trabalho de estreia, a escrita é do melhor da carreira de Bennett e seus pares e a produção é cristalina. O busílis deste sol: o primor técnico é nota dominante de tal jeito que a matemática dos preciosismos chega a roubar alma a canções que só teriam a ganhar em se expôrem com mais autenticidade. E isso é o que impede este Sun, Sun, Sun de ser o disco magno que podia ter sido.

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