segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Beth Orton - Comfort of Strangers

Apreciação final: 7/10
Edição: Astralwerks, Fevereiro 2006
Género: Folk/Cantautor/Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.bethorton.mu








Vai no quarto disco, tem um pé na folk acústica e outro na country (ela até nem é americana), foi quase-emblema da comunidade indie britânica e faz canções pejadas de delicadeza intimista. Chama-se Beth Orton e o seu mais recente trabalho marca um saudado retrocesso às ideias basilares do seu disco mais bem sucedido, o singular Central Reservation (1999). Depois dos devaneios de Daybreaker (2002), a compositora repesca os conceitos que melhor servem o desígnio de cantautora. Está aqui tudo: as guitarras acústicas, os enfeites do piano (e outras teclas), o ajuste da percussão e um registo vocal espesso e afectivo (às vezes, puxa-nos a memória para Fiona Apple). A produção é assinada por Jim O'Rourke (ex-Sonic Youth) e reduz as composições à simplicidade que a introspecção mental de Orton reclama. Daí sobrevém a personalidade nua destas canções, sem auxílio de artifícios de estúdio e muito coração. Ora cáustica, ora doce, Orton soa sempre autêntica. Como numa complexa sessão de terapia musical à procura da esperança. E aí, nesse concurso de alentos, nas intersecções dos vários planos meditativos da vida, reside a chave das melodias deste Comfort of Strangers.

Estas canções não foram feitas para parecer bem, nem sequer são especialmente amigas do FM. Orton é uma nómada sem destino, orgulha-se de conquistar mundos desconhecidos, empunhando a arma do sentimento, também da confissão, e a mais recente aventura do seu percurso é apenas e só um episódio mais. Não importa o rumo quando se redescobrem as raízes e se convergem energias para construir algo que, sendo mundano, não é transitório. E é isso que Orton (e O'Rourke) fez. Comfort of Strangers até pode ser um pouco aliterante, mas não deixa de ser um retrato da alma de Orton. E quando um músico consegue tal ímpeto de individualidade e se expõe deste jeito, ficamos a dever-lhe gratidão. Pela música e por nos abrir o seu cofre de segredos.

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