quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Depois da tempestade

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Título: Depois da tempestade
Autor: Miguel Almeida
Fonte: 1000Imagens

terça-feira, 30 de agosto de 2005

5 rapidinhas


Kent - Du & Jag Döden (7/10)
Rock melancólico oriundo da Suécia (e cantado em sueco) e que abraça o tema da morte (o título é traduzível para: Tu e Eu, Morte). A formatação pop das composições, sem lamechices, transporta uma minuciosa atracção para melodias etéreas, graças a uma produção cuidada e a arranjos de bom nível. Num registo vizinho de Muse-meets-Radiohead, o charme escandinavo das harmonias dos Kent é apelativo e faz de Du & Jag Döden uma edição curiosa e um bom motivo para aprender sueco.
(BMG, Março 2005)







Marc Leclair - Musique Pour 3 Femmes Enceintes (5/10)
Mais conhecido pelo trabalho sob a assinatura Akufen, o canadiano Marc Leclair regressa, três anos depois, com um novo trabalho de estúdio onde se mantêm os preceitos fundamentais da sua música: um timbre ambiental e electrónica, algum experimentalismo vanguardista e um toque minimalista. Neste registo, a incursão experimental é reforçada pelo recurso a tons atmosféricos, em padrões que se prolongam indefinidamente. A essa condição errante junta-se uma certa repetitividade que empurra o álbum para uma tendência monocórdica, preenchida por ruídos vogantes sem fito. O efeito relaxante é razoavelmente conseguido, ainda que à custa de menor preponderância da melodia - aqui sobrepujada pelo quase-improviso. Ainda assim, Leclair traz-nos uma ode consistente à gravidez da mulher, feita de puros pedaços electrónica vanguardista, com alguns excessos e que não desgostará os seguidores da carreira do produtor canadiano.
(Mutek, Abril 2005)







Zuco 103 - Whaa! (6/10)
Sediado na Holanda, o trio Zuco 103 (Lilian Vieira, Stefan Schmid e Stefan Kruger) faz uma mistura de bossa nova e samba com sonoridades jazz, funk e electrónica dançável. Este é o terceiro álbum da carreira do trio e parece menos "brasileiro", acolhendo embalos típicos da América Hispânica e Central. Esta derivação para a exploração de novos sons não é estranha à presença do lendário músico jamaicano Lee "Scratch" Perry que, embora remeta o som do grupo a renovadas dimensões, não acrescenta substrato suficiente para fazer deste disco uma edição muito diferente das anteriores dos Zuco 103.
(Ziriguiboom, Junho 2005)







Apparat - Silizium EP (6/10)
O berlinense Sascha Ring apresenta-se num registo polimórfico, em oscilações entre a electrónica e o recurso a instrumentos acústicos. A imprevisibilidade das composições cria no auditor uma energia de expectativas ambiciosas que se renovam a cada segundo e a originalidade marca pontos desde o início do alinhamento. Originalmente gravado numa sessão com John Peel e com a contribuição de um talentoso ensemble de cordas (chamam-se Complexácord), Silizium é uma massa sónica versátil de verdadeira música electrónica inteligente, redimensionada a uma expressão quase orquestral. As vocalizações de Raz Ohara dão uma ajuda preciosa e o registo só sai penalizado pela presença no alinhamento de quatro remixes, além de cinco originais, que não atingem o brilhantismo dos temas de Ring.
(Shitkatapult, Fevereiro 2005)







Nitin Sawhney - Philtre (6/10)
Nitin Sawhney é um dos mais respeitados e talentosos produtores e compositores do Reino Unido e está de volta com um novo trabalho. Philtre mostra o habitual cruzamento de estilos, num registo de fusão que combina as batidas electrónicas, o trip-hop e o jazz vanguardista com instantes de inspiração asiática. Escutar este álbum é percorrer transversalmente a tradição indiana, a folk Bengali, o flamenco, os blues, a soul e o R&B, aqui esmeradamente misturados num som elegante. Às vozes convidadas de Vikter Duplaix, Reena Bhardwaj (estrela das bandas sonoras Bollywood), dos Ojos de Brujo, de Fink (dos Ninja Tunes) e Jason Singh, além das colaborações habituais, unem-se as vibrações únicas das cítaras, das flautas e do piano. A vibração emocional de Philtre é garantida mas o disco não acrescenta nada de inovador ao repertório de Sawhney e algumas composições parecem meras colagens de outros álbuns do músico. Fórmula esgotada?
(V2, Maio 2005)

Posto de escutaSítio Oficial

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Wintersleep

Apreciação final: 8/10
Edição: Dependent Records, Fevereiro 2005
Género: Indie Rock/Pós-Grunge/Rock Experimental
Sítio Oficial: www.wintersleep.com







Naturais de Nova Scotia, os Wintersleep são um dos segredos mais bem guardados da música canadiana e um dos mais refrescantes redescobrimentos deste ano de 2005. Depois do álbum de estreia homónimo lançado em 2003, o quarteto retoma neste trabalho um percurso de reinvenção progressiva da filosofia grunge que catapultou a geração X para o estrelato durante a década de 90. Pois bem, as raízes dos Wintersleep residem algures nesse legado, aqui expandido além dos seus limites simplistas graças à eficácia de um comprometimento com o experimentalismo que define a estética do colectivo canadiano: percussões elegantes, guitarras intervenientes que saltam com inteligência da efusão rock para o intimismo indie, arritmias sempre pertinentes e vocalizações etéreas (às vezes corais...). O desfecho desta combinação de substâncias é um álbum que não cessa de surpreender do primeiro ao derradeiro instante, um disco que se impõe compulsivamente ao auditor e que foge à mediania, ocupando um vazio na cena rock, algures entre o mainstream declarado (alguma coisinha de Pearl Jam ou dos saudosos Soundgarden?) e o quase-country dos My Morning Jacket. Mas reduzir Wintersleep a isso não é fazer justiça a um trabalho brilhante que se esgueira de tendências ou maneirismos e se afirma pela honestidade intemporal das estruturas harmónicas, das nuances instrumentais e da amplitude contagiante das composições.

Imprevisível, robusto e cativante, o mais recente registo dos Wintersleep promete a afirmação merecida para um ensemble único. No booklet que acompanha a edição do álbum surge um poema com uma história ironicamente ambivalente: um rapaz a quem o sol esburacou o coração reclama o auxílio da mãe que, munida de pensos rápidos, tenta reparar o prejuízo. Para rir, derramar lágrimas ou deixar-se hipnotizar? Tomando o zelo da mãe e a desapiedada perfuração do astro rei como metáforas concorrentes no ideário musical dos Wintersleep e, escutado o disco com a reverência devida, emerge uma inevitável conclusão: o ouvinte é o impúbere protagonista do poema e a música dos Wintersleep serve, em simultâneo, para lhe queimar a carne e, de seguida, estancar o sangue das chagas, com a mesma expressão indecifrável. E chegado o termo do disco o impulso para o escutar de novo é quase irrecusável. Um álbum obrigatório.

Code - Nouveau Gloaming

Apreciação final: 8/10
Edição: Spikefarm Records, Maio 2005
Género: Black Metal
Sítio Oficial: www.codeblackmetal.com








O universo metal não é um espaço especialmente dado ao imprevisto. As edições discográficas sucedem-se a ritmos desregrados, oriundas das mais díspares zonas do globo, mas raramente se entrevêm centelhas de inovação ou trechos musicais suficientemente eloquentes para se distinguirem dos seus semelhantes. Assim, são pouco frequentes os registos discográficos que fazem remexer esse preconceito e que divulgam conceitos metal meritórios. É esse o caso de Nouveau Gloaming, o primeiro álbum do colectivo britânico-norueguês Code. Os preceitos convencionais do black metal estão lá todos, embora se amotinem contra clichés e vagabundeiem, com parcimónia, na sugestão de espectros sonoros sombrios e enigmáticos que, em certos lances, derivam para flutuações entre andamentos tardos e estampidos de adrenalina. A espiral magnetizadora de Nouveau Gloaming parte de uma conflagração imparável de estados de ânimo, afinal o elemento catártico do disco e simultaneamente a alavanca indutora de novas dimensões, revitalizando um género metal normalmente amarrado entre as suas próprias fronteiras. Da progressividade das composições brota um fluido sonoro atmosférico, inexorável, algo meditativo, variado - quer nos tempos quer nas sequências de acordes - e que presta um contributo precioso rumo à revolução dos códigos black metal.

A vibração atípica de Nouveau Gloaming cresce com audições sucessivas, revelando uma consciência de contemporaneidade, mesmo vanguardismo, conjugada com os elementos tradicionais deste género. Dividido entre a grandeza épica de certas composições e a tendência desviante (leia-se revolucionária) de outras faixas, Nouveau Gloaming desafia os estereótipos vitriólicos da sua família musical. Guitarras pungentes, percussões aliterantes que se convertem em batidas convulsivas e vozes paradoxalmente cruciantes e murmurantes são alguns dos traços idiossincrásicos dos Code. O resto cabe ao ouvinte descobrir, seja ou não partidário da escola metal. Porque há discos que erguem o metal além dos seus confins. Nouveau Gloaming é um desses títulos e pode muito bem ser o melhor disco metal do ano.

Procure na grafonola as faixas "The Cotton Optic" e "Brass Dogs"

Celta

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Título: Celta
Autor: Filipe Santos
Fonte: 1000Imagens

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Mísia - Drama Box

Apreciação final: 8/10
Edição: Virgin, Junho 2005
Género: Fado/Étnica
Sítio Oficial: www.misia-online.com








A fadista portuense Mísia está de volta aos discos e, desta vez, apresenta uma colecção de canções que dedica à sua mãe e que reportam aos estímulos musicais que esta lhe ofereceu durante a infância. Drama Box não é um disco puro de fados, explora também os contextos musicais da escola de bailado clássico da mãe da cantora, destapando os encantos da América Meridional, dos boleros e dos tangos, aqui vizinhos do fado português. A conexão sentimental dos vários géneros é o garante da solidez do disco, onde o fado resulta como cicerone principal de uma caminhada sentida pelos labirintos do amor e da saudade. A voz enternecedora de Mísia alude com paixão às recordações de amores perdidos, desatando nas letras de um poema (Vasco Graça Moura, Rosa Lobato de Faria, Paulo José Miranda, José Luis Peixoto, José Saramago e Natália Correira figuram entre os autores) os enigmas de cicatrizes da alma que se expõem com crueza e se purgam na alvura da música. O imaginário poético de Drama Box - sublinhado pela declamação do poema "Fogo Preso" de Graça Moura nas vozes das actrizes Fanny Ardant, Maria de Medeiros, Carmen Maura, Miranda Richardson e da cantora Ute Lemper - é pontuado pela alma lusitana, seguindo o embalo dos timbres melancólicos do fado e da sensualidade e vigor dos tangos e dos boleros que, interpretados em castelhano, mantêm o acento tónico nos desencontros amorosos, na solidão, no sentir da perda.

Drama Box é uma arca de sentimentos e afectos, um depósito de fragmentos autênticos da existência humana que se assemelham a retratos de uma dramaturgia musical de que Mísia é tradutora maior e personificação última. Ao mesmo tempo, é um roteiro musical do coração do fado lisboeta, passando pela Rambla de Barcelona e pelo obelisco de Buenos Aires...pela mão das composições de Mário Pacheco e de Piazzolla. Drama Box é um álbum de sentimentos radicais e que Vasco Graça Moura nos convida a visitar com estas palavras:

Quando se ateia em nós um fogo preso
o corpo a corpo em que ele vai girando
faz o meu corpo arder no teu, aceso
e nos calcina
e assim nos vai matando
essa luz repentina até perder alento

e então é quando a sombra se ilumina
e é tudo esquecimento tão violento e brando
sacode a luz o nosso ser surpreso
e devastados, nós, vamos a seu mando
nessa prisão o mundo perde o peso
e em fogo preso, à noite, as chamas vão pairando
e vão-se libertando fogo e contentamento
a revoar num bando de beijos tão sem tento
que não sabemos quando são fogo ou água ou vento
a revoar num bando de beijos tão sem tento
que perdem o comando do próprio esquecimento.

in "Fogo Preso", Vasco Graça Moura



terça-feira, 23 de agosto de 2005

A ferradura

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Título: A ferradura
Autor: João Vinhas Reis
Fonte: www.1000imagens.com

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

5 rapidinhas


Pelican - The Fire on our Throats Will Beckon the Thaw (7/10)

Quarteto de Chicago, os Pelican assumem um conceito atmosférico de metal puramente instrumental, um híbrido de sonoridades mais pesadas e rock ligeiro, em mudanças persistentes e que evocam cenários ambivalentes: às distorções clamantes respondem instantes sorumbáticos, arpejos quase acidentais (ouça-se "Red Ran Amber"). Há um fio condutor que percorre as faixas do alinhamento, embora algumas fiquem aquém do clímax que prometem as contracções sucessivas e as mudanças de ritmo electrizantes. Ainda assim, The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw é um disco atractivo de um projecto musical que se afirma na linha da frente do metal instrumental.
(Hydra Head, Agosto 2005)

www.hydrahead.com/pelican/








Orthrelm - OV (7/10)

Duo de Washington que propõe uma charada musical intrigante: a mesma composição é esticada durante quarenta e cinco minutos, numa espécie de colagem versátil de pequenos instantes instrumentais (guitarra eléctrica e bateria) de minimalismo hardcore. As raízes dos pedaços que se repetem e sobrepõem na formação de um padrão musical maior tem raízes no metal e resulta numa frenética, caótica e imparável depuração de riffs de guitarra, com percussões em frenesi. O desfile em cascata da técnica de Mike Barr e Josh Blair é um mosaico portentoso de originalidade. OV provoca uma de duas reacções: ou se venera ou se torna um insuportável teste à paciência do ouvinte. (Ipecac, Junho 2005)

www.millionraces.com/orthrelm.htm


Posto de escutaOV






Benjamin Diamond - Out of Myself (4/10)

Apesar do amparo da editora !K7, Out of Myself não é um disco puro de dança. A doutrina primaz de Diamond deriva da eletropop mas não evita os embaraçosos clichés do género. Feito de canções soltas e entretidas, Out of Myself não traz nada de novo e, apesar do lançamento deste disco, Benjamin Diamond continuará a ser mais conhecido por ter dado voz a um mega-sucesso dos Stardust (o tema "Music Sounds Better With You") do que propriamente pelo seu percurso a solo...
(!K7, Maio 2005)

www.k7.com/data.pl?release=!K7179CD








The Prayers and Tears of Arthur Digby Sellers - The Mother of Love Emulates the Shapes of Cynthia (7/10)

Perry Wright está para os Prayes and Tears como Conor Oberst está para os Bright Eyes, o que é o mesmo que dizer que estamos perante uma one man band. Wright transpõe os contextos de amores perdidos e privações sentimentais para uma solene síntese de folk, rock, country e um pouco de electrónica. A toada compassada e lo-fi do registo assenta em composições bem urdidas e arranjos proporcionados que infundem um elemento de modernidade ao trejeito clássico indie. Se às vezes as composições são menos consistentes, ..Shapes of Cynthia não deixa de ser um retrato musical apurado e sincero das ruínas da emoção.
(Bu Hanan, Fevereiro 2005)

www.prayersandtears.com/

Procure na grafonola as faixas "Rotation of Crops" e "Ammunition for a Bolt-Action Heart"





Julien Neto - Le Fumeur de Ciel (6/10)

O parisiense Julien Neto é adepto da electrónica minimalista e é cidadão de um universo sónico onde o experimentalismo moderno se cruza com os mais invulgares ruídos. Embora já tenha gravado com outros nomes e noutras etiquetas, Le Fumeur de Ciel é o primeiro trabalho a título próprio do músico francês e simboliza uma espécie de poema musical - chega a buscar inspiração no imaginário de Keats - sustentado pela taciturnidade das cordas e pela distância contemplativa do piano, a que se junta com acerto a timidez das percussões electrónicas, numa espécie de teatro de marionetas igualmente sinistro e infantil. Le Fumeur de Ciel é um álbum elegíaco de música ambiental; é o testemunho de dimensões paralelas que se desintegram em notas musicais esparsas e se reagrupam no sentido de um clímax incerto. Nessa incerteza e na divagação repetitiva pelos labirintos da melancolia reside o defeito de um disco cujo força maior é temperamento romântico e o lirismo afectuoso das composições.
(Type Records, Junho 2005)


www.typerecords.com/releases/full.php?id=10


Posto de escutaIIIIII

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Novo single de Franz Ferdinand

A banda revelação do ano 2004 já tem o primeiro single para o novo trabalho a circular na net. Os escoceses Franz Ferdinand deram o conhecer o primeiro avanço para o álbum You Could Have it So Much Better. Chama-se "Do You Want To".

Se a curiosidade aperta, confira aqui se os rapazes não mantêm a mesma energia contagiante do primeiro disco. É possível ouvir isto e não bater o pé?


Agora resta aguardar pelo dia 4 de Outubro.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Maçãs Verdes

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Paul Cézanne, Maçãs Verdes, 1873

Tom McRae - All Maps Welcome

Apreciação final: 6/10
Edição: Sony BMG, Maio 2005
Género: Folk/Cantautor
Sítio Oficial: www.tommcrae.com








A mais recente proposta do britânico Tom McRae, o terceiro disco do seu percurso artístico, é um guia musical numa excursão através da emoção humana e dos mistérios da sublimidade da vida. A proeminência de uma toada acústica - à guitarra juntam-se o piano, o violoncelo, o clarinete e os metais - confere ao álbum um balanço sem tensões e um compromisso de evocação de reminiscências depositadas nos recessos imateriais da alma. Esse apego dedicado é a força mesmeriana de composições adultas, pequenos artefactos de honestidade quase tangível e com uma certa intuição compassiva e auto-indulgente. Daí deriva um recatado discurso de melancolia, solidão e perda, sustentado por texturas sónicas melódicas em quietude e por uma voz frágil e cativante. Tom McRae é um cantautor distinto e assina canções formosas e expressivas que captam o lirismo poético das suas letras em ruminações folk com uma produção cristalina.

All Maps Welcome é um volume lhano de canções íntegras e que certificam McRae (na sombra do ubíquo Damien Rice ou do prolífico Conor Oberst) como compositor de elite. Ainda que a algumas das faixas do alinhamento pareça faltar o toque de Midas que abrilhanta os pontos altos do disco ("Hummingbird Song", "Strangest Land" ou "Silent Boulevard"), All Maps Welcome é uma audição obrigatória para fãs do músico londrino. Dos outros melómanos, o álbum merece uma escuta atenta, a aprovação das suas aptidões e a ilação de que, independentemente da valia de um punhado de boas canções (e outros tantos instantes falhados...), All Maps Welcome não mudará o curso do globo terrestre.

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Tom Vek - We Have Sound

Apreciação final: 7/10
Edição: Tummy Touch, Abril 2005
Género: Electrónica/Fusão/Rock Alternativo
Sítio Oficial: www.tomvek.tv








24 anos, londrino, multi-instrumentalista de vistas largas, Tom Vek é peão num jogo entusiasta de estéticas sonoras multiface que casam com elasticidade insofismável a finura dos fragmentos electrónicos, a crueza eléctrica do rock de garagem e a atmosfera angular de um embalo funk taciturno. O diapasão, ao invés da guitarra, provém dos graves afirmativos do baixo, coadjuvados por vocalizações quase-psicadélicas em revérbero e interacções inteligentes com os sintetizadores. O efeito final é um som feito de texturas minuciosas, fértil em detalhes prestimosos e cujo predicado maior, uma vez superada a surpresa do primeiro contacto, é a solidez. We Have Sound é alegação autorizada em prol do som, um panfleto sonoro em defesa dos antípodas do silêncio: afinal, se temos o som porque não fazer uso dele? E Vek afirma neste trabalho um manifesto anti-silêncio versátil (na sombra dos devaneios dos Pavement, de Beck ou dos Sonic Youth) e congruente, com lances de revivalismo (há uns toques de Franz Ferdinand ou de Bloc Party aqui e ali...) e assinatura própria.

We Have Sound é um debute promissor para o jovem Vek e deixa alicerces para um edifício porvindoiro cujas formas musicais serão tão vagas e não catalogáveis como este álbum. O primeiro passo está dado e, como o músico afirma na segunda pista do alinhamento, "There is still so much to see, there is still so much to do, I cant be more than half way there". Esperemos que a metade que falta percorrer lhe traga um sentido de melodia menos ocioso e, com isso, redimensione a sua música e a aproxime da casta que se adivinha nas suas formas.

Procure na grafonola as faixas "C-C (You Set the Fire in Me)" e "I Ain't Saying My Goodbyes"

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Serial - Brilhantes Diamantes

Apreciação final: 8/10
Edição: NorteSul, Junho 2005
Género: Hip-Hop/Funk/Sampling
Sítio Oficial: NorteSul








Rolando Sá, aka DJ Serial, é um dos membros dos Mind da Gap e arriscou lançar um trabalho a solo. O registo individual não se distancia do tom habitual do grupo portuense, sublinhando a condição hip-hop graças a uma produção calculada e diligente que, aqui e ali, incute uma toada funk (ouça-se "Sê Real"), suportada num excelente trabalho de programação, beats e sampling e num esqueleto de graves bem estruturado. A pompa sónica das composições é um dos pontos fortes deste Brilhantes Diamantes que se torna, desde a primeira audição, uma apelativa referência da cena hip-hop nacional, graças a um discurso feito de mensagens simultaneamente virulentas e zombeteiras, repletas de urbanidade e que encaixam com sobriedade no embalo magnético da porção instrumental. A solidez do álbum sai reforçada pelos influxos preciosos de uma extensa lista de convidados: Ace e Presto (companheiros nos Mind da Gap), Maze, Fuse, Mundo e Xpião (sob o pseudónimo Terrorismo Sónico), Rey e Chase e os galegos El Puto Coke e Sofia.

Brilhantes Diamantes é um dos mais robustos aspirantes ao título de álbum hip-hop nacional do ano, com Rocky Marsiano à espreita (aqui se escreverá sobre o seu trabalho em breve) e é o mais recente rebento do profícuo universo nortenho do hip-hop. Em entrevista recente, Serial descodificou o título do disco: os "diamantes" são os amigos musicais que a ele se juntam neste trabalho. É verdade que eles são pouco menos do que brilhantes, mas as genuínas pedras preciosas deste trabalho estão nas composições que Serial burilou com sapiência no recato do seu estúdio tripeiro. E, no fim de contas, Brilhantes Diamantes é mesmo um pequeno tesouro da música nacional. Recomendável.

Procure na grafonola as faixas "Brilhantes Diamantes" e "Sabes K'eu".

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Monte da lua

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Título: Monte da Lua
Autor: Ricardo Alves
Fonte: 1000Imagens

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Insula Dulcamara

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Paul Klee, Insula Dulcamara, 1938

5 rapidinhas


Deerhoof - Green Cosmos EP (7/10)

A babel dos Deerhoof está de volta. 15 minutos de genuinidade visceral, de contrastes sónicos, de delírios harmónicos e de (es)pasmo ímpar. As melodias obscuras da praxe surgem, aqui, revestidas num invólucro de arranjos orquestrais mais sumptuosos (mesmo ruidosos...) do que é usual, ajudando à concepção de micro-sinfonias em desvario. À quase cacofonia das composições junta-se a voz delicada e pueril de Satomi Matsuzaki, aventurando-se a cantar em japonês. Aparentemente desconexas e sem fluência, as estruturas melódicas invulgares revelam o oposto em traços de criatividade refrescante, num verdadeiro carrossel suspenso de esquizofrenia e doçura, cheio de surpresas. Sem rótulos, o cosmos (e a música) dos Deerhoof é isso mesmo: um universo cândido e bucólico onde se agitam freneticamente as chamas de excentricidades lunáticas e se cruzam, em cópulas pomposas, o eros e o tanatos. Afinal, monstros e criancinhas podem partilhar brincadeiras no mesmo espaço cósmico...ou não.
(Toad/Menlo Park, Junho 2005)

Procure na grafonola as faixas "Byun" e "Come See the Duck"






Brazilian Girls (7/10)

Quarteto sediado em Nova Iorque, os Brazilian Girls apresentam-se no sítio oficial como uma mistura festiva de Grace Jones, Blondie, The Sugar Cubes e Astrud Gilberto. A voz da poliglota Sabina Sciubba e uma versátil palete de efeitos electrónicos conduzem as composições por sedutores percursos de trip-hop e lounge, com ligeiros toques de funk, reggae, ska e dub. Confuso? O som de vibrações cosmopolitas do grupo distingue-se pela variedade, embora resvale para certos clichés de Bebel Gilberto, Thievery Corporation, Suba ou Zero7. Ainda assim, o registo leva o auditor numa viagem musical apelativa que percorre a tradição do Brasil (a bossa nova), de Manhattan, de Berlim, de Paris (o ambiente film noir), de Nova Iorque...sem sair do conforto do sofá da sala.
(Verve, Fevereiro 2005)








Mayday - Bushido Karaoke (8/10)

O terceiro álbum da banda do taciturno crooner Ted Stevens coloca a angústia existencial ao serviço do rock'n'roll. Bushido Karaoke é uma jornada musical declaradamente americana que, com o suporte do piano, do banjo e do violino, compõe cenários de melancolia e nostalgia, com texturas de harmonia rock 50's. Os arranjos são de excelente nível e sublinham a condição rústica da abordagem de Stevens a destinos transcendentais e diversificados, relembrando Nick Cave. A sonoridade resulta enigmática e profusa, conferindo um espaço próprio a cada instrumento, sem minorar a opulência a opulência instrumental de cada peça, num registo polido e transparente. Ouvir Bushido Karaoke é descobrir que uma canção saudosista e triste também pode ser uma grande canção.
(Saddle Creek, Junho 2005)








Turin Brakes - JackInABox (5/10)

Depois do alcance do álbum Ether Songs (2003), Olly Knights e Gale Paridjanian tinham pela frente um encargo custoso: não deslustrar a excelência do disco anterior. Pois bem, num registo mais pop e menos folk, o duo britânico propõe, no seu novo trabalho, um som limpo e certinho, simpaticamente convencional, com bons arranjos, num tom solarengo e fluente mas que não foge aos lugares comuns e à mediania. Do alinhamento de JackInABox, além de "Asleep With the Fireflies" e "Over and Over", nada parecer escapar à condição frívola de uma pop insípida, inconsequente e, mais do que isso, quase sem propósito. Um passo atrás.
(Astralwerks, Junho 2005)







The Russian Futurists - Our Thickness (6/10)

Terceiro longa-duração da one man band do canadiano Matthew Hart, Our Thickness acolhe uma sonoridade que evoca os Magnetic Fields ou os Flaming Lips, graças ao recurso a ornamentos electrónicos para embelezar melodias pop. As composições são sólidas e a sobre-produção de algumas pistas do alinhamento torna o disco um festim exuberante de pop majestosa e consciente da sua dimensão eufónica. O mosaico de Our Thickness é saturado de ingredientes engenhosos e atraentes, mas com sentido desiquilibrado de proporção. Hipérbolico, multifacetado, revigorante e paradoxal, o último trabalho de Hart é um enigma que se resolve seguindo uma de duas soluções: gosta-se ou não. Em qualquer dos casos, "Paul Simon" é canção para ressoar nos tímpanos durante algum tempo.
(Upper Class, Maio 2005)

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Chuto para a lua

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Título: Chuto para a lua
Autor: Filipe Santos
Fonte: 1000Imagens

Tunng - This is...Tunng (Mother's Daughter and Other Songs)

Apreciação final: 7/10
Edição: Static Caravan, Janeiro 2005
Género: Folk/Electrónica/Fusão
Sítio Oficial: www.tunng.co.uk









Tunng é a assinatura da dupla Mike Lindsay (produtor/guitarrista) e Sam Genders (vocalista/guitarrista) e este é o primeiro longa-duração do projecto. O padrão sonoro de Linsday e Genders é aparentemente disléxico (tal como o nome de baptismo deste conceito musical) e passa pela integração da quietude acústica da guitarra com orgânicas subliminarmente electrónicas que servem de percussão minimalista. Mas há mais para descobrir em Mother's Daughter and Other Songs: o enfoque prioritário está nos timbres folk, elementos catalisadores do casamento entre a transversalidade das referências musicais subscritas pelos Tunng (tribal, sampling, electrónica, instrumental e vanguardista) e o surrealismo que faz a alma das composições. Depois, as vocalizações dividem-se entre o sussurro confidente e o canto pastoral, conferindo ao álbum um tocante embalo hipnótico que adere ao compromisso de junção da folk e da electrónica. O primor recatado das composições sublinha esse pacto e conduz uma amálgama intemporal de estilos ao desenho de um registo monolítico de folk simultaneamente futurista e saudosista (as comparações com os primeiros trabalhos dos Beta Band ou com os Four Tet são inevitáveis...).

Embora Mother's Daughter and Other Songs adopte algumas convenções menos originais, tem também o mérito de lhes somar um alento contemporâneo que, adornado num imaginário charmoso, conta histórias de um quotidiano sinistro, melancólico e abstruso. A tal facto não é indiferente a veneração dos músicos pelo filme de terror de culto "The Wicker Man" (1973)- a dupla adoptou a música principal do filme nas suas actuações ao vivo e lançou-a em single (edição limitada a cem cópias), cuja substância musical se mantém neste trabalho. Com os Tungg, o balanço entre a poesia sorumbática e as melodias é apurado e apenas sai minorado pela ligeira redundância da dupla em certos momentos do disco. Ainda assim, Mother's Daughter and Other Songs é uma escuta altamente recomendável, especialmente para adeptos de música desafiadora de fronteiras.

Posto de escutaTale From Black

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Jamie Lidell - Multiply

Apreciação final: 8/10
Edição: Warp, Junho 2005
Género: Electrónica/Soul/Experimental
Sítio Oficial: www.warprecords.com/artists








Mais conhecido como uma das metades do projecto electrónico Super_Collider - que dividiu com Christian Vogel - o britânico Jamie Lidell surge, neste trabalho, no improvável exercício de cantor soul. O avizinhamento entre a estética orgânica da música de dança e os territórios da soul e do R&B concorre para a concepção de sinergias brilhantes, sempre pontuadas pela voz robusta e encorpada de Lidell, aqui metamorfoseada num registo que faria as delícias da clássica Motown. A postura desafiante de Lidell é arrojada o bastante para promover a junção, com um apurado sentido de proporção, das estruturas costumeiras da soul das décadas de 50 e 60 com os ingredientes electro. Assim, Lidell consegue uma retórica musical que é simultaneamente retrógrada - a evocar Sam Cooke, Curtis Mayfield, Marvin Gaye ou Otis Redding - e actual - pelo experimentalismo que faz lembrar Herbie Hancock ou os Prefuse 73. A produção super-moderna e de calibre superior pauta o tom cinético das composições e sublinha a exuberância quase libertina de Lidell, numa genuína viagem que resgata a soul de tempos imemoriais e a reveste com um infalível invólucro de vanguardismo.

Cinco anos depois da sua última edição discográfica, Jamie Lidell ressurge numa imprevista e reverente convocação das raízes da soul. Todavia, a nostalgia não se torna meramente mimética, antes cede o seu lugar ao esculpir de um som ímpar, de alma negra (a pele do rapaz não é da cor do ébano...) e acrobático, feito de tons elásticos, divertidos e enérgicos. Com este trabalho, Lidell prova à saciedade que não é desonra tomar como modelo os clássicos de ontem; o mérito maior do último disco do músico britânico é mesmo o que anuncia no título: a multiplicação dos méritos da soul. Multiply é soul na mais pura essência. Ame-se ou odeie-se, é um grande disco.

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Hanne Hukkelberg - Little Things

Apreciação final: 7/10
Edição: Leaf, Junho 2005
Género: Electro-Pop/Jazz
Sítio Oficial: www.hannehukkelberg.com








Ela é norueguesa, tem vinte e seis anos e apresenta-se em disco pela primeira vez. Traz na voz um alento de candura cristalina, em intimidades quase sussurradas - algures entre uma Nina Simone, uma Cat Power, uma Björk dos dias mais calmos ou uma Stina Nordenstam - que deposita em canções cheias de carisma e personalidade. Há em Little Things uma essência encantatória a que sucumbe o ouvido mais duro, rendido à expressão delicada da pura emoção em música, numa celebração da subtileza com texturas preciosas e arranjos de eleição. A música de Hukkelberg é um mutante amparado por Calíope e que descende da electrónica, da folk, da pop e do jazz; a esses influxos, a autora junta o invulgar ajutório de um catálogo sónico que inclui banjos, harpas, clarinetes, vibrafones, tubas, oboés, xilofones, acordeões e uma miríade de sons do quotidiano, trazidos a estúdio para a construção de um mosaico lo-fi meticuloso, ordenado e a abarrotar de minudências generosas. As faculdades compositoras de Hukkelberg demarcam-se de dogmas e definem máximas próprias, evitando o atalho tentador dos refrões imediatos e desenhando um traço peculiar de eufonias desembaraçadas e sensíveis.

Little Things é uma serenata íntima, quase proibida, um afectuoso embalo, um cintilante raio luminoso...feito de pequenas coisas. Ainda que a algumas pistas falte a grandiloquência de "Little Girl", "Cast Anchor" ou "Words & A Piece of Paper", o disco de estreia de Hukkelberg não pode deixar de ser considerado um hábil exercício contorcionista com meneios eclécticos, executado sobre uma nuvem de algodão branco. Ou será um fiorde em côr de rosa?

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Weird War - Illuminated by Light

Apreciação final: 7/10
Edição: Drag City, Abril 2005
Género: Indie Rock
Sítio Oficial: www.weirdwarworld.com








O projecto Weird War provém das ruínas dos Royal Trux e dos The Make Up e apresenta o seu terceiro longa-duração, eventualmente o trabalho mais coeso de um percurso iniciado há três anos. O argumento central de Illuminated by Light é a desconstrução de clichés do rock graças à subscrição de preceitos algo minimalistas e nostálgicos da década de 70, a que se junta, com sobriedade, uma melopeia dançável e sedutora que resulta como um improvável sedativo para um dia de trabalho. Há neste álbum alguma da irreverência de Zappa e pedaços do diletantismo vago dos T-Rex, adornados por uma produção sóbria e proporcionada. O balanço retro de Illuminated by Light marca pontos desde a primeira faixa do alinhamento, assente nas guitarras em espiral de Alex Minoff, no baixo esparso de Michelle Mae e nas vocalizações sussurradas e psicadélicas, às vezes histriónicas, do hiperbólico Ian Svenonius.

Em entrevistas recentes, os elementos dos Weird War admitiram não perder muito tempo na composição das canções. E isso sente-se no disco, com implicações ambivalentes: se é positivo que a inspiração seja depositada em bruto, sem corantes ou conservantes, somando às composições um vital ingrediente de jam session, não é menos verdade que a audição contínua de Illuminated by Light denuncia a aliteração e o enfado repetitivo do alinhamento. Omitido esse pormenor, reconhecidos os créditos individuais e a vocação irónica, enigmática e teatral das canções, Illuminated by Light revela-se um álbum atractivo e que revalida Svenonius e seus pares como um dos ensembles iluminados da cena indie. Neste caso, contudo, a equação Ying-Yang não falha: a luz que ateia a chama do génio dos Weird War é a mesma que produz umas quantas sombras...

Posto de escutaIlluminatedGirls Like ThatMotorcycle Mongoloid
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