segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Wintersleep

Apreciação final: 8/10
Edição: Dependent Records, Fevereiro 2005
Género: Indie Rock/Pós-Grunge/Rock Experimental
Sítio Oficial: www.wintersleep.com







Naturais de Nova Scotia, os Wintersleep são um dos segredos mais bem guardados da música canadiana e um dos mais refrescantes redescobrimentos deste ano de 2005. Depois do álbum de estreia homónimo lançado em 2003, o quarteto retoma neste trabalho um percurso de reinvenção progressiva da filosofia grunge que catapultou a geração X para o estrelato durante a década de 90. Pois bem, as raízes dos Wintersleep residem algures nesse legado, aqui expandido além dos seus limites simplistas graças à eficácia de um comprometimento com o experimentalismo que define a estética do colectivo canadiano: percussões elegantes, guitarras intervenientes que saltam com inteligência da efusão rock para o intimismo indie, arritmias sempre pertinentes e vocalizações etéreas (às vezes corais...). O desfecho desta combinação de substâncias é um álbum que não cessa de surpreender do primeiro ao derradeiro instante, um disco que se impõe compulsivamente ao auditor e que foge à mediania, ocupando um vazio na cena rock, algures entre o mainstream declarado (alguma coisinha de Pearl Jam ou dos saudosos Soundgarden?) e o quase-country dos My Morning Jacket. Mas reduzir Wintersleep a isso não é fazer justiça a um trabalho brilhante que se esgueira de tendências ou maneirismos e se afirma pela honestidade intemporal das estruturas harmónicas, das nuances instrumentais e da amplitude contagiante das composições.

Imprevisível, robusto e cativante, o mais recente registo dos Wintersleep promete a afirmação merecida para um ensemble único. No booklet que acompanha a edição do álbum surge um poema com uma história ironicamente ambivalente: um rapaz a quem o sol esburacou o coração reclama o auxílio da mãe que, munida de pensos rápidos, tenta reparar o prejuízo. Para rir, derramar lágrimas ou deixar-se hipnotizar? Tomando o zelo da mãe e a desapiedada perfuração do astro rei como metáforas concorrentes no ideário musical dos Wintersleep e, escutado o disco com a reverência devida, emerge uma inevitável conclusão: o ouvinte é o impúbere protagonista do poema e a música dos Wintersleep serve, em simultâneo, para lhe queimar a carne e, de seguida, estancar o sangue das chagas, com a mesma expressão indecifrável. E chegado o termo do disco o impulso para o escutar de novo é quase irrecusável. Um álbum obrigatório.

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