quarta-feira, 18 de março de 2015

Ibeyi - Ibeyi

7,3/10
XL Recordings, 2015

Filhas do percussionista Anga Díaz, falecido em 2006 e reconhecido membro do colectivo Buena Vista Social Club que levou a música cubana aos quatro cantos do globo, as gémeas Lisa-Kaindé e Naomi nasceram num ambiente musical riquíssimo em influências. Além do atavismo Yoruba que lhes é atribuído - e que está até no nome artístico que escolheram (traduz a divindade das gémeas, ao que parece) - e da proximidade sanguínea com a herança cultural latina dos progenitores (a mãe é a cantora franco-venezuelana Maya Dagnino), residem e foram criadas em Paris. No cosmopolitismo da capital francesa, encontraram nas matizes electrónicas o complemento de modernidade que une todas essas referências e dá sentido contemporâneo à espiritualidade orishá que lhes corre nas veias. Também por isso, o homónimo disco de estreia é coerente: encontra intimidades interessantes entre realidades musicais temporal e geograficamente distantes. O cajón e os tambores batá não podiam deixar de ser transversais aos ambientes emocionais do disco, ou não fossem ferramentas predilectas de Naomi na estruturação minimalista das canções que, depois, crescem com o piano esparso da irmã e demais avulsas aparições.

Em todo o caso, é efectivamente de minimalismo que é feito o disco,  umas vezes na mais óbvia tradução de uma espécie de ritual ou oração tribalista, outras vezes tão hipnótico como a mais pura peça de música urbana moderna (James Blake e Frank Ocean são luminárias confessadas pelas próprias) e sempre ancorado numa lógica percussiva muito equilibrada. Ainda assim, o feitiço ressonante das manas Díaz, esta encantadora mestiçagem entre pop moderna, ritmos de cuba e do caribe, jazz desconstruído e R&B que vem apaixonando críticos e melómanos, ganharia com um alinhamento mais curto, a depurar a família de canções daqueles instantes em que umas se parecem mais com outras e a sensação de repetição deslustra o êxito retumbante dos melhores momentos. Posto esse detalhe de lado, há aqui carisma mais do que suficiente para deliciar os apreciadores de bom experimentalismo de fusão. 

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