É a tenacidade de gente indomável como Andrew Hung e Benjamin John Power, as duas metades dos Fuck Buttons, que faz expandir os cânones do mundo musical e leva a invulgaridade a públicos maiores e mentes mais preguiçosas. Da sua identidade musical, já se sabia, sobeja a sensação de uma demanda perfeccionista, como se quisessem sempre somar alguma coisa ao que foi feito. É, de resto, essa aparente intuição de incompletude o seu maior paradoxo: sendo tão plena de artifícios parece sempre possível acrescentar alguma coisa às composições. Assim cresce a obra dos Fuck Buttons, disco a disco, quiçá à procura de, num qualquer dia do porvir distante, eles poderem vislumbrar no que gravaram um edifício sonoro monolítico. Por agora, o que têm em mãos é o trajecto para lá chegar e, para se acercarem desse fito, vão ter que arriscar a densidade sonora que apregoam convictamente. Ou, no mínimo, continuar a promover a sua maturação. Este Slow Focus, terceiro manifesto da empreitada, não é de consumo fácil, tão abarrotado está de estímulos e pormenores. Mas nessa amálgama, não há lugar para confusões, alguns sons vagabundos encaixam perfeitamente numa máquina electrónica afinadíssima, cheia de texturas e pontilhados.
O mais curioso é que uma música tão “matemática” consiga subliminarmente prender-nos no domínio das emoções – quase sempre escuras -, quando ela própria respira técnica, regra e método. Número versus coração, está bom de ver. Não mora em Slow Focus matéria dançável, nem é esse o propósito de Hung e Power. Chamar a isto psicadelismo, parece arriscado porque, afinal, a música é contida, sabe para onde vai e recolhe-se nos limites formais desse objectivo, como uma introversão consciente e tão pomposa e organicamente preenchida quanto possível. Ainda assim, não é um formalismo de vistas curtas, é antes um atalho cirúrgico para o escapismo estético que os Fuck Buttons perseguem. O fatalismo anunciado – e de que tanto gostam Hung e Power - encontra remissão em cada faixa, mas não é prolixo demais?
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