quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Oblivion

6,2/10
2013



É curiosa a fobia maníaco-depressiva com que a espécie humana olha para si mesma e se põe a adivinhar o futuro. De um lado, mora o temor de uma inevitável ruína, ora às mãos de feridas auto-infligidas, ora sob o jugo de qualquer fantasmática invasão alienígena; do outro lado, a crença infinita num instinto de sobrevivência que há-de remir tudo, como se a existência universal só fosse possível com mão humana. Essa obsessão antropocêntrica é, com nuances diferentes, o pano de fundo de qualquer teorização cinematográfica do domínio da ficção científica e, não raras vezes, o enquadramento perfeito para consagrar esse deus ex machina reside em cenários de negritude apocalíptica. Assim acontece neste Oblivion, segunda película de Joseph Kosinski, o mesmo que deu uma segunda vida a Tron.

Não é nova a premissa de o planeta vir a ser exaurido dos recursos naturais. Se quisermos, ela reflecte os medos antigos da insustentabilidade, o receio generalizado de que, num momento algures no futuro, o Homem há-de de perceber que gastou o planeta até o extinguir ou, e em tese mais fantasiosa, alguma outra espécie há-de interessar-se pelas possibilidades energéticas da Terra.

Jack Harper (Tom Cruise), mecânico de drones, vive entre a asfixia de memórias mal apagadas - que o levam a questionar-se recorrentemente sobre si mesmo - e a consciência de uma missão para cumprir: ajudar a "exportar" os recursos do planeta Terra, condenado após uma alegada guerra com uma espécie invasora, para Titã, o satélite que alberga os sobreviventes. Mas ele está mais ligado ao planeta do que julga saber e nem a plácida (e enigmática) presença da companheira de missão Victoria (Andrea Riseborough), o vai desviar da obstinada demanda pela verdade.

É indiscutivelmente funcional a cenografia de Kosinski, sobretudo quando invoca a sumptuosidade da ruína, exibindo-a sem deixar que se torne o centro da narrativa. Esse desvio do exagero marca pontos, sem dúvida, mas não ilude a sensação de que se podia ter ido mais longe na expressão dramática das personagens, na exploração da dimensão humana tão cara à própria história de Oblivion. Na segunda metade do filme, quando se desatam os nós da trama, a vaguidade das personages faz-se sentir e a aderência do espectador perde-se. Depois, os problemas de guião adensam-se: o elemento de suspense, habilmente conduzido até certo ponto, é desbaratado numa marcha rápida de revelações que parecem atropelar-se. E sobra uma impressão de desarmonia, de primazia pela imagem em detrimento da história, de alguma insipidez conceptual. Afastado como produto final do que seria o protótipo mental de Kosinski,  restarão a Oblivion os indefectíveis de ficção científica para encontrarem nele matéria verdadeiramente sedutora.

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