7,2/10
Domino
2013
Dela se conhecia já a predilecção por um vanguardismo musical que se caracteriza, na essência, pela miscigenação de géneros, algures entre uma pop genuinamente sem concessões e marcada pela elegância, a electrónica de feição espacial e um formalismo próprio da música de câmara contemporânea. É natural que um edifício musical assim tão substancioso nunca chegue para levar Julia Holter ao mainstream e resgatá-la de um anonimato que a nobreza da sua obra não merece. Chega, agora, o terceiro capítulo de uma discografia pautada pela fidelidade aos princípios musicais que acolheu e que têm neste Loud City Song uma maturação consequente, talvez a arrumar melhor a densa panóplia de estímulos inspiradores e a seguir um fio-de-prumo. Nessa acepção, este disco é até algo conceptual, como aconteceu com outras obras anteriores, ou não fosse inspirado em Gigi, de Sidonie-Gabrielle Colette, a narrativa de uma jovem parisiense seduzida pela vida de cortesã como catapulta social. A história viria a ser feita musical em 1958, pela MGM. Ambos, o livro e a película, serviram de inspiração a este trabalho, segundo a própria Holter.
É indesmentível a erudição de Loud City Song, aqui enobrecida por músicos de estúdio e orquestra (as anteriores gravações de Holter eram caseiras), a mesma que vem despertando o cepticismo de alguma crítica mais desconfiada e que confunde opção com pretensiosimo. Este calibre é isso mesmo, uma opção, e é atingível apenas por quem estudou composição musical e sabe urdir uma linguagem musical complexa, é um facto, mas não necessariamente eivada de fatuidade. O academismo não é exibido com presunção, não é senão um propósito incontornável para a ressonância emocional que Holter quer fazer passar. Os trechos resultam algo cerrados, mas são lentamente decifráveis a cada audição adicional. E, no decurso dessa aclaração, pela mão de uma voz maravilhosa, destapa-se uma curiosa visão do mundo, uma reinvenção voyeurista da Paris de Gigi e da Los Angeles de Holter. Da metrópole universal.
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