quarta-feira, 21 de agosto de 2013

The Knife - Shaking the Habitual

7,9/10
Mute
2013




Quando os manos Olof Dreijer e Karin Dreijer Andersson decidiram afrontar abertamente o conformismo político da sociedade sueca, assumindo-se opositores da instituição da realeza do seu país, vista por eles como um símbolo neo-liberal da desigualdade e exclusão social, até da indiferença de um certo paradigma materialista que tem o beneplácito da maioria da população, colocaram-se num púlpito a que poucos músicos se atrevem. Já se lhes conheciam ímpetos de inconformismo, de alguma rebeldia de consciência, mas raramente haviam tomado uma atitude contestária tão pronunciada. E foi com esse pano de fundo que nasceu Shaking the Habitual, quarto registo de estúdio, de título inspirado numa citação de Foucault, um convite dissidente a repensar instituições e convenções e a recriar estruturas sociais tidas como inevitáveis. E, assim, mais do que um disco, estamos em presença de um manifesto político, ou pelo menos do seu reflexo musical, tanto quanto se pode converter a palavra discursiva em música. Agitar consciências através da música, é o que os The Knife nos dão aqui. Que melhor resposta depois de um silêncio de sete anos?

Tendo em conta que Olof e Karin queriam fazer deste Shaking the Habitual um statement anti-costumes, a música só poderia resultar convulsiva; a dada altura, com um manto musical em deliciosa esquizofrenia, ouve-se "Liberals giving me a nerve itch". E nervo é coisa que não falta aqui. Embora essa inquietação esteja sempre presente, ela é um monstro de formas várias, ora corrosiva em cadência rápida ("Full of Fire", por exemplo), ora atemorizadora e espiritual em tantras quase surrealistas ("A Cherry on Top", "Old Dreams Waiting to be Realized"). No fundo, a contestação de base, se quisermos a negação do estruturalismo social, é tangente ao niilismo; e há qualquer coisa de niilismo formal neste Shaking the Habitual. Isso acaba por traduzir-se numa obra pouco linear, é certo, mas em que as divergências de forma acabam por ganhar um sentido bizarro. Os The Knife mandaram às malvas a coerência estética - porque ela nunca serviria o propósito panfletário - e, com a nota de misticismo sinistro comum aos trabalhos anteriores, entregam-nos um disco corajoso, pejado de vertigens sonoras e alçapões emocionais. Ao mesmo tempo, empunham-se armas de arremesso e bandeiras brancas. O cruzamento é feliz e, seguramente, agita o habitual.


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