8,2/10
Tri Angle Records, 2013
Criar um ambiente musical que constitua um permanente desafio à audição mais comodista não é tarefa ao alcance de qualquer um, sobretudo quando os cânones musicais contemporâneos apontam cada vez menos para esse tipo de artesanatos de pormenor, em que as texturas são trabalhadas como se filigranas fossem. Nesse particular, Matthew Barnes já havia mostrado ao que vinha em 2010, então com um quase incógnito Dagger Paths, urdido no mesmo ethos de dissimulações sonoras que agora conhece renovada sucessão. Mas não pode dizer-se que Engravings é apenas mais do mesmo, há um notório crescimento do conceito. É claro que cada composição continua a transparecer um sentido de detalhe oportuníssimo nesta fórmula, mormente na máscara que é imposta a cada input; os sons raramente aparecem com a identidade original, são quase sempre travestidos noutra coisa qualquer, como se expostos a um processo químico que lhes altera as propriedades originais. Produção no seu melhor. E é aí que a música do britânico se torna mais inquieta, quando se percebe que a coisa resulta bastante densa e reverberante.
É assim que Engravings nos remete para um universo difícil de definir, algures nos domínios contemplativos do pós-rock, mas a transgredir mais do que aí é suposto. As estruturas não são estanques e aceitam impulsos vários, sempre arrastados, ora de linhas de guitarra em metamorfose psicadélica, ora de batidas e electrónicas vindas do dub e a caminho de qualquer coisa espacial, de futurismo tribal. Aparentemente ilógica, a fusão das camadas é surpreendente do início ao fim do alinhamento, não só por ser mais rica do que no primeiro registo, mas sobretudo por se apresentar com rara coesão. Este é um mundo sonoro abstracto, em certo sentido até confinado às contemplações de um homem só e empenhado em transpor para a música a serenidade do sinistro.
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