segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Oneida - Preteen Weaponry

7/10
Jagjaguwar
2008
www.enemyhogs.com



Embora mais intuída do que ostensivamente manipulada nas composições ou assumida como fogo dominante, a afinidade do trio nova-iorquino Oneida pelas flamas utopistas do rock progressivo foi sempre uma matéria presente na sua discografia, ao lado do impressivo espírito de transgressão que atravessa uma identidade musical pautada pela liberdade estética. Depois de um octeto de álbuns em que apontaram propósitos estilísticos para a especulação noise em volta de um bizarro ideário de canção - o que lhes valeu, com onerosa responsabilidade, a entronização como anarquistas maiores das novas (e injustamente ignotas) safras americanas -, é chegado o momento de nova centragem, de pesar prós e contras de um percurso de consciente evolução, do primitivismo tímido da garagem para a esquizofrénica deflagração em palco. Não é estranho, portanto, que num introspectivo exercício de escrutínio das forças vivas (na criatividade) no seio do trio de Brooklyn, Kid Millions, Bobby Matador e Baby Hanoi Jane tenham encontrado um original prazer na musicalidade menos formal. Afinal, as energias improvisadas são um amor antigo que, por força das circunstâncias editoriais ou dos gostos do momento, foi sendo castrado (ou limado) em disco, mas nunca deixou de alimentar-lhes o ego nas actuações ao vivo. O registo dessa facção libertária da música dos Oneida impunha-se e, para esse efeito, nada melhor que um tríptico conceptual de discos sem qualquer tipo de atilho estrutural ou formatação predefinida. A série, sugestivamente baptizada "Thank Your Parents", conhece agora o momento inaugural - será continuada em Janeiro de 2009, com Rated O - com este Preteen Weaponry, álbum essencialmente instrumental, também ele dividido em três partes.

A tríade abre com um trecho de pura inventividade rítmica, substancialmente notada na (brilhante) incontinência da percussão de Kid Millions. Com um hipnótico e perturbador tecido sónico de fundo, algures entre o noise, o mantra instrumental de feitiçaria negra e a perversão melódica (chega a lembrar os Doors), é a bateria de Kid Millions - nervosa, derivativa, sempre consequente - que dita regras. Na segunda faixa, descansa a bateria em cadências mais "pacíficas" e crescem os efeitos sujos da guitarra, num fantasmático (e repetitivo) bailado de espectros, com o efeito atmosférico digno de uma peça progressiva, mas aquém da exigível inventividade. A dialéctica fecha-se, na terceira parte, num discurso agitado de ritmos espasmódicos, bem ao jeito de um número de improviso, misturando fantasias de guitarras e teclas; coisa para soltar, com a incerteza devida, o acto não premeditado de criação musical. E Preteen Weaponry, com as incongruências e falhas próprias de uma cerimónia repentista, é isso: um produto sem preconceito e sem regime. Como os Oneida, de resto.

Posto de escuta Sítio da Jagjaguwar

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