segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Conor Oberst - Conor Oberst

7/10
Merge Records
PopStock
2008
www.conoroberst.com



A ideia de assinar este disco com o nome de baptismo, ao invés do mais costumeiro e mediático epíteto de Bright Eyes, tem uma razão. O conceito Bright Eyes, uma das marcas mais significativas da moderna folk americana, assentou, nos últimos anos, em dois pilares fundamentais: o próprio Oberst e Mike Mogis, o instrumentista/produtor braço direito do músico/compositor do Nebraska na caminhada pelo orbe da música. E este, além de ser o primeiro registo sem Mogis, em cerca de uma década - pelo que faria menos sentido integrá-lo na discografia Bright Eyes -, é também o contributo mais pessoal de Oberst para o cancioneiro americano. Nesse sentido, pode presumir-se que, além da evidência do afastamento do parceiro de longa data, reside nestas canções a definitiva imposição de Oberst contra o incómodo (e injusto) rótulo de prodígio adolescente que lhe colam desde os doze anos. Atrás do enfatizado (pelos media do seu país) despautério de algumas aparições provocatórias em festivais americanos, inclusivamente marcadas por algum pretensiosismo ideológico pouco tragável, Oberst sempre foi um músico prolífico, talentoso e de verve genuína. Foi assim que, sem brusquidão, ergueu os Bright Eyes a um lugar raro na folk moderna, com uma identidade perdida entre a melancolia e a ansiedade ou o místico e a crítica. Ao mesmo tempo, aceitando o sustento das mais ancestrais raízes da música do seu país, Oberst foi capaz de construir um património musical carismático como poucos. E é neste Conor Oberst que a sua personalidade musical se mostra mais crua (leia-se "acústica"), apartada das cosméticas sinfónicas dos Bright Eyes.

O investimento nos arranjos é mais comedido, o que ajuda a situar as canções de Oberst num plano entre o protesto iluminado de um Dylan (outro dos rótulos com que Oberst tem lidado) e o melodismo rock de alguns momentos de Elvis Costello, além das inevitáveis referências a Neil Young, Tom Petty ou Ryan Adams. E claramente distante dos desmandos instrumentais do pseudo-orquestral Cassadaga. Aqui, as canções respiram a mais confortável das intimidades - ou intimismo melódico - e são servidas por uma lírica mais consciente do que antes, em volta de assuntos tão concretos quanto a inevitabilidade da morte, a escapatória das drogas e, claro, as paixões feitas desamores. E nenhum outro opus de Oberst tem este charme e credulidade, esta maturidade no acto de criação e esta consistência; e estes, por serem factos inesperados, tornam-se tanto mais interessantes.

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