quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Lindstrøm - Where You Go I Go Too

7/10
Smalltown Supertown
2008
www.myspace.com/
feedelity



Nos tempos que correm, o produto musical é um activo de formas cada vez menos padronizadas. O advento da era digital criou não apenas outros mecanismos veiculares de divulgação (com o MySpace à cabeça), mas também suscitou, por arrastamento, um interesse renovado nos formatos mais curtos (os 12" ou o EP, por exemplo). No orbe electrónico, essa evolução - e a consequente depreciação do conceito de álbum - assume contornos paradigmáticos. A discografia do norueguês Hans-Peter Lindstrøm é espelho disso mesmo, com inúmeras edições avulsas nos tais formatos curtos e outros tantos remixes desde 2003. Volvidos três anos do início de percurso, e depois do impacto mediático do trabalho conjunto com Prins Thomas (esse sim, em formato CD e LP), a conterrânea Smalltown Supersound seleccionou e compilou alguns trechos do numeroso histórico de Lindstrøm, no aclamado It's a Feedelity Affair (2006). Na prática, o tomo, mesmo sendo uma colecção de composições já editadas, constituiu o primeiro "álbum" do músico escandinavo, então exibindo ao mundo a dimensão quase épica de uma electrónica espacial, erguida numa orgânica de sintetizadores astrais e subliminarmente distante das fragrâncias sonoras divididas com Prins Thomas. Daí para cá, além da inscrição do seu nome na colecção de DJ sets Late Night Tales e do segundo capítulo com Thomas, Lindstrøm prosseguiu a disseminação do seu trabalho em edições soltas e remixes, até chegar a este Where You Go I Go Too.

Naquele que é, de facto, o seu primeiro álbum autoral, a escolha de um escalonamento tríptico, em cinquenta e cinco minutos, não deixa de ser sintoma de que Lindstrøm não gosta de alinhamentos com muitas faixas. Seja isso uma deformação técnica oriunda da habituação ao formato EP ou uma mera opção conceptual (ou estética), não deixa de ser arriscado, para um músico habituado a trechos de curta duração, esticar as suas composições no tempo (o tema-título tem quase meia hora!). Em todo o caso, o novo opus de Lindstrøm desvenda uma curiosa mutação da space disco que lhe corre nas veias, destapando uma afinidade desconhecida por estruturas progressivas, onde as mudanças rítmicas e a reinvenção são premissas fundamentais para reter o interesse do ouvinte nas melodias repetitivas e extensas. Das três peças, a mais conforme com o património Lindstrøm é a primeira - que dá o nome ao álbum. Curiosamente, é também a mais plana e previsível do trio e, mesmo que bem construída numa compassada (e psicadélica) escalada disco, tem poucas variações para se manter apelativa por tanto tempo. Segue-se "Grand Ideas", revisão de uma composição conjunta com Prins Thomas que, sem esse nome, figurou no alinhamento de um mix feito pela dupla para a BBC. Mais colorida e objectiva, a composição é um produto dinâmico e consequente, entre melodia e especulação rítmica, minimalismo e euforia. O disco fecha com o seu momento mais alto, "The Long Way Home", uma preciosidade de execução a lembrar o kraut rock, a derivar para as contemplações da electrónica left field e para o lounge, com o indispensável devaneio cósmico próprio de Lindstrøm. Não é um álbum de consumo imediato, nem de aceitação genérica; não se resume sequer à tipificação habitual de Lindstrøm. Mas, atrás do aparente excesso na extensão das faixas, mora afinal um disco suculento e, mesmo que de uma forma mais abstracta do que é costume em Lindstrøm, verdadeiramente gratificante.

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