quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Daedelus - Love To Make Music To

7/10
Ninja Tune
2008
www.ninjatune.net



O californiano Alfred Darlington é um académico da música que, depois do adestramento nas liberdades estéticas do jazz, se perdeu de amores pela descoberta da miríade de possibilidades criativas da electrónica e dos samplers. Como produtor ou como autor (com a assinatura Daedelus, desde 2001), em inúmeros selos e projectos musicais e colaborações com terceiros, foi paulatinamente erguendo um património musical conotado, na essência, com o orbe IDM, mas igualmente versado em padrões mais dançáveis da electrónica e, sobretudo, fiéis a uma verve cultora de várias influências da música negra (leia-se soul, funk ou hip hop). Esse traço pouco convencional (e de raro eclectismo) da música de Daedelus é uma das regras deste Love To Make Music To, o primeiro do músico pela Ninja Tune e, como noutros inquilinos do selo londrino, desvenda uma abordagem atípica, quase subversiva e sempre a extrapolar, os códigos sonoros do hip hop. Contudo, a atmosfera do disco não se fecha aí, antes usa essa referência como ponto cardeal de arranque e orientação da construção (ou sobreposição, ou colagem) de texturas muito concentradas, por vezes em eufórica proximidade do caos, e em que o garbo dos Coldcut vem constantemente à memória. E entre flutuações rítmicas, vozes convidadas, variações de beats e mudanças de estilo, Love To Make Music To revela-se uma obra com raro sentido de oportunidade, mormente na exploração de convergências entre a música electrónica e numerosos universos colaterais. A sugestão resulta numa linguagem que, tropeçando pontualmente na previsibilidade das estéticas nocturnas, dela se distancia pelo recurso equilibradíssimo a mutações nos ritmos e melodias. Se pecadilho houver de apontar-se a Love To Make Music To, ele reside na extensão do disco: cinquenta e cinco minutos. É muito tempo para mostrar música que, por ser tão densa em pormenores e, portanto, por implicar visitas concentradas, ganharia com um alinhamento mais contido. Em todo o caso, o novo Daedelus é, sem reservas, um dos mais refrescantes exercícios que a electrónica de colagens teve nos últimos tempos.

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