Apesar da idealização quase instantânea que mereceram junto da comunidade melómana desde os primeiros trabalhos editados, os californianos Weezer experimentaram a hesitação própria de uma banda pouco preparada para o êxito. Depois de um par de álbuns chegarem ao mercado (Weezer, de 1994, e Pinkerton, o auto-renegado disco de 1996) e os consagrarem como um dos valores emergentes do rock alternativo americano, Rivers Cuomo e seus pares cessaram actividades, não só pelos inúmeros episódios de cisão no interior da banda, mas sobretudo pela insatisfação com o rumo trilhado até esse momento. Pinkerton e o arrependimento público da banda em tê-lo feito - o que acabou por atribuir ao disco, mais tarde, um estatuto de culto -, foi a derradeira lesão num colectivo a mãos com o ónus do mediatismo. A falsa partida dos Weezer deixara, contudo, a semente de um fenómeno de culto que, além de não perecer com o termo anunciado da banda, acabou por motivar uma expressiva onda de expectativas quanto a um regresso. Ele aconteceria quatro anos mais tarde, trazendo a banda a um som mais voltado para grandes arenas, sem abandonar a genética geek de pós-grunge descomprometido que, tanto gráfica como musicalmente, fora substrato essencial dos primeiros discos. A escrita de Rivers Cuomo mostrava-se consistente e a sua trupe retomava, com uma passada mais firme, o percurso interrompido sem aviso. A Green Album (2001), tido como um dos registos mais sólidos da discografia Weezer, seguiu-se Maladroit (2002), um vibrante exercício de aproximação ao lado mais "pesado" do rock melódico. Canções pop, servidas a guitarra eléctrica volumosa e com refrões orelhudos, eis a fórmula da segunda pele dos Weezer.
Depois de um pouco inspirado Make Believe (2005), a banda retoma a estratégia dos álbuns homónimos - depois diferenciados por terceiros em função da cor dominante da capa - para reafirmar-se. O formalismo pop não está em questão, ele é a matéria de subsistência da banda, mas até visualmente - vide a capa do disco - os Weezer parecem levar-se menos a sério. No lugar do fidelíssimo aspecto nerd de outrora, aparecem agora, em manifesta imbecilização do estatuto de estrela, quatro figurões de universos contrastantes, do hippie de última geração (a lembrar Devendra Banhart), ao engravatado republicano, ao cowboy bigodado de meia-idade e ao descontraído rock star. Mas mais do que a aparente desordem na indumentária, o disco também revela confusões estéticas pouco habituais nos Weezer. Atrás da idiossincrática harmonia de Cuomo - que, também aqui, produz óptimos momentos ("Troublemaker" ou "Pork and Beans", por exemplo) -, mora alguma irresolução entre a majestade rock e registos mais intimistas. Nenhum mal em exibir um lado mais introspectivo (que nem é totalmente novo), mas ao fazê-lo os Weezer arriscam um quinhão significativo de si mesmos. E a caricatura final, transformada em música, pode ficar tão irrisória (e ambígua) quanto a capa do álbum. O que, inevitavelmente, ofusca as (poucas) boas ideias.