quinta-feira, 18 de maio de 2006

Final Fantasy - He Poos Clouds

Apreciação final: 7/10
Edição: Tom Lab/Distr. Flur, Maio 2006
Género: Contemporânea/Pop Erudita
Sítio Oficial: http://finalfantasyeternal.com








Camuflado por detrás do título inspirado num vídeo-jogo está Owen Pallett, violinista de suporte dos Arcade Fire. O epíteto Final Fantasy é a sua máscara de compositor e, no seguimento do disco de estreia surgido há um ano, este He Poos Clouds obedece ao mesmo padrão de escrita escorreita, de revezamentos entre violino e voz, embora o temperamento orquestral das composições mereça outra amplitude neste trabalho. É certo que, ainda que num registo apenas comparável à grandeza épica da escola neo-clássica, Pallett não abandona o conceito de canção. Contudo, as faixas de He Poos Clouds são meras vizinhas afastadas dos nichos pop e procuram, em simultâneo, a majestade instrumental do minimalismo de Philip Glass ou Steve Reich e a abundância festiva dos Arcade Fire (apenas a breve trecho). Até chega a espreitar-se um ambiente digno de um ensaio dos Kronos Quartet, a que se junta uma voz remota e hesitante, em narração de histórias povoadas por caracteres de uma caprichosa caderneta (um agente imobiliário impotente, jovens frígidas, o ressuscitado Lázaro do Novo Testamento, um suicida, entre outros). No fundo, sem lhe dar esse formato, Pallett construiu uma bizarra opereta pop, de sonoridade distinta e estímulos vários, de texturas complexas. Mais do que isso, He Poos Clouds é perturbante nas ascensões espirituais que induz e na volubilidade dos arranjos que cercam o auditor num abismo de tensões.

Não fosse a voz de Pallett e He Poos Clouds teria lugar na escaparate dos ilustres compositores da clássica contemporânea. Com a voz, o violinista consegue um raro fito: conjugar os serviços da tonalidade e estrutura da clássica com a presteza da canção pop. O objecto dessa junção equilibrada é um disco complexo, cheio de pormenores que apenas se mostram com várias audições e que vem reforçar a identidade musical de Pallett. Definitivamente, não será He Poos Clouds a projectá-lo para o estrelato de grande escala nem a resgatá-lo do estatuto de culto de um restrito clube de melómanos do circuito independente mas, se a mais não serve, o disco sublinha expressivamente uma certeza que era, até aqui, apenas uma suspeita: a de que Pallett é um compositor com dotes.

1 comentário:

Spaceboy disse...

Gosto muito deste disco, conseguiu superar-se ao anterior. Existe uma carga surreal e do ambiente do fantástico à volta do disco cativantes.