Apreciação final: 8/10
Edição: Matador, Maio 2006
Género: Electrónica Experimental/Vanguardista
Sítio Oficial: www.brainwashed.com/matmos
Edição: Matador, Maio 2006
Género: Electrónica Experimental/Vanguardista
Sítio Oficial: www.brainwashed.com/matmos
Um desvairado monstro mecânico de duas cabeças. Definição grosseira dos californianos Matmos, duo formado pelos (des)mandos de M.C. Schmidt e Drew Daniel. A uma almofada electrónica que contempla todas as graduações desse estilo, os Matmos adicionam (em disco e ao vivo) sons de origem arriscada para quem quer fazer música. O sítio oficial da banda arrola, entre muitos outros, alguns curiosos recursos da dupla: páginas de Bíblia, peles de peixe, sussurros em câmara lenta, ruídos de liposucção, gaiolas de rato, baralhos de cartas, comboios, insectos, o latido de cães, moedas...Com tamanho arsenal, é de esperar que a música dos Matmos se esquive a regras ou modelos, antes parecendo uma excursão por um labirinto electrónico sem fim, numa vertiginosa espiral. A música é urgente, muitas vezes asfixiante e aguda, na iminência de um objectivo nem sempre contínuo, subjugado (sardonicamente) às rupturas. A narrativa sonora deste The Rose Has Teeth In The Mouth Of A Beast é, por isso, complexa, puramente desconstrutiva, jogando com uma convivência oportuna entre os samples, os elementos acústicos e a formatação electrónica. Os estímulos musicais são elásticos e fragmentados, um verdadeiro manjar para saciar os ouvidos e exercitar a alienação experimental de Schmidt e Daniel.
Genericamente inclassificável, The Rose Has Teeth In The Mouth Of A Beast traz uma peculiaridade adicional. Não sendo um álbum conceptual no sentido formal do termo, cada uma das dez faixas do alinhamento se propõe fazer o retrato de uma personalidade ilustre, entre escritores, músicos, cineastas e filósofos. Comum a todos eles: a homossexualidade. Mas essa é a única concretização que deriva do disco. A substância musical é abstracta, contundente na excentricidade instrumental e plena de simbolismo biográfico. As referências são díspares e vão da escritora femininista Valerie Solanas (defensora do fim do género masculino e mais famosa pela tentativa de assassinato de Andy Warhol), ao fotógrafo e realizador James Bidgood (do polémico filme gay Pink Narcissus (1971)), ao filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (o seu Tractatus Logico-Philosophicus (1921) pretendia ser o requiem escrito da filosofia), ao produtor musical Larry Levan, etc. Neste álbum de imagens musicadas, Antony, Björk e os Kronos Quartet fazem uma perninha, ajudando a fazer do álbum um apetrecho de música cerebral e imagética mutante, ao ponto de, mais do que um disco, se assemelhar a uma película do melhor cinema surrealista dos anos 20 e 30. The Rose Has Teeth In The Mouth Of A Beast é o sinónimo musical de um Buñuel ou de um Clair em cores alucinadas e num banquete de exaltação biográfica. Obrigatório.
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