domingo, 28 de maio de 2006

Ghostface Killah - Fishscale

Apreciação final: 8/10
Edição: Def Jam, Março 2006
Género: Rap Harcore
Sítio Oficial: www6.defjam.com








O percurso artístico de Ghostface Killah é indissociável da respeitada família do Wu-Tang Clan, seminal colectivo de Staten Island que, há mais de uma dúzia de anos, subscreve um género de rap profano, contador de histórias carregadas de jargão de rua e admirador da sondagem de samples à soul clássica. A esse caixilho musical, junta-se o apreço do grupo pela cultura budista e pelas alegorias esotéricas dos filmes de artes marciais. Nos últimos anos, além do falecimento por overdose do popular Ol' Dirty Bastard (2004), a notoriedade do clã resumiu-se a actuações ocasionais, a esporádicas aparições de alguns dos seus membros na sétima arte ou na TV e a uma miríade de edições a solo. A mais recente edição de Ghostface Killah é este Fishscale e, além de ser uma peça rap tecnicamente muito bem urdida, vive de uma voz melíflua, daquelas que são sinónimo de suavidade melódica, seja quando o medidor de cólera dispara ou, por oposição, quando o disco passa rapidamente pelo romantismo da soul.

Aos trinta e cinco anos, Ghostface Killah devolve o rap ao seu leito original e à temática idiossincrásica das drogas, do sexo, dos conflitos de rua e do dinheiro. No fundo, é como se este álbum de vinhetas - umas vezes autobiográficas, outras vezes contemplativas - fosse o desfecho natural das sedimentação de conceitos que o rapper procurou no quarteto de edições individuais que antecederam Fishscale. Ao mesmo tempo, o novo disco é uma ecléctica aula para a geração hip-hop MTV, propondo-se fazer o restauro da índole perdida e mostrando como se faz o genuíno hardcore. A produção de Moss, Pete Rock, Doom, Madlib ou do malogrado J. Dilla afiança algumas piruetas e alarga o espectro sonoro, deixando no ouvido uma grata insinuação soul que vai ao encontro de uma revelação do próprio Ghostface. Numa recente performance ao vivo, ao som de “My Ebony Princess”, single de 1977 de Jimmy Briscoe & the Little Beavers, o rapper confessou o seu íntimo desejo de trocar o rap pela soul. Com este Fishscale, além de repôr as variáveis mais importantes do rap, Ghostface Killah fica um pouquinho mais perto da morada soul que cobiça para si.

1 comentário:

Spaceboy disse...

É um dos meus discos preferidos do ano. O Ghostface está em grande!