The Residents - Animal Lover (7/10)
Pós-rock experimental e vanguardista é a receita invulgar dos The Residents. Trata-se de um disco conceptual e ambíguo que aborda, em levitações ininteligíveis, o relacionamento homem/animal. Pormenor intrigante: cada canção é uma história e é acompanhada por um texto que situa a bizarria das respectivas personagens. Hiperbólico e deliciosamente inventivo, Animal Lover é, sem ceder a facilitações, um disco metafórico de fantasias cativantes, uma fábula musicada em tramas sónicas complexas. Múltiplas camadas e elementos se sobrepõem nas texturas, sublinhadas pela integração de vozes em coro, expandidas a uma dimensão quase operática, e de instrumentalizações quase lunaticamente despropositadas. O desfecho é imprevisível, depende da mente aberta do auditor, mas apresenta-se sombrio e místico, prosseguindo a saga de originalidade do grupo e assumindo proporções de grandiosidade quase épica, sempre num registo taciturno mas irresistivelmente inovador.
(Mute U.S., Fevereiro 2005)
Ouça integralmente o tema "Dead Men" na Grafonola.
Vive La Fête - Grand Prix (6/10)
Revivalismo 80's numa toada electrónica de um projecto belga cuja sonoridade característica se baseia em batidas sexy, vocalizações em francês na voz sedutora de Els Pynoo e orgânicas bem urdidas pela inspiração de Danny Mommens (ex-baixista dos dEUS). Menos efusivo do que Nuit Blanche (2003), este trabalho mantém a assinatura típica da dupla, embora denuncie um certo comodismo do grupo a uma fórmula interessante e bem ponderada mas a que se associa, em vários instantes do disco, uma enfadonha imagem de condução em piloto automático.
(Lowlands, Março 2005)
Ouça integralmente o tema "Hot Shot" e "Litanie des Seins" na Grafonola.
Mary Gauthier - Mercy Now (8/10)
Escritora de canções algures entre o country e a folk enraizada na mais profunda tradição musical americana, Gauthier (deve ler-se "Go-Shay") compõe momentos de rara beleza e honestidade poética, sobre desolação e frustrações. A guitarra acústica, os instrumentos de cordas e a o embalo da voz de Gauthier fazem um disco sublime, com algo de profético e que afirma definitivamente uma senhora que merece reconhecimento como o equivalente feminino de Johnny Cash ou de Townes Van Zandt.
(Lost Highway, Fevereiro 2005)
Ouça integralmente os temas "Wheel Inside the Wheel" e "Drop in a Bucket" na Grafonola.
Jori Hulkkonen - Dualizm (4/10)
Neste trabalho, o músico finlandês evita aproximações às estruturas habituais e divide-se em dois registos diferentes: a melodia suave e profunda, onde se sente menos à vontade, e a batidas mais dançáveis, o cunho omnipresente nos seus sets. Em ambos os casos, notam-se, em partes iguais, uma certa veneração à eletro-pop dos anos 80 e uma insípida criatividade, a revelar um artista claramente necessitado de impulsos mais fortes.
(F Communications, Abril 2005)
Ouça integralmente o tema "Dislocated" na Grafonola.
Martha Wainwright (7/10)
Irmã de Rufus, filha de Loudon Wainwright III e Kate McGarrigle...é preciso dizer mais? Só por filiação já valeria a pena descobrir Martha Wainwright mas a jovem cantora/intérprete vai além da inspiração da progénie e, numa gentil toada pop de fusão da country e da folk, arquitecta um disco melodioso. Uma voz carismática e versátil, emoção q.b. e canções serenas e bem escritas sobre segredos indecrifráveis fazem desta edição um disco curioso, de uma intérprete que, demarcando-se do prestígio do seu apelido, encontra um espaço próprio para afirmar os seus méritos.
(Zöe, Março 2005)
Ouça integralmente os temas "Far Away" e "Bloody Mother F.... Asshole" na Grafonola.
1 comentário:
Esperava mais da Martha Wainwright, vinda duma família tão telntosa. Mas, para estreia, não é um mau disco, não senhor.
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