O regresso de Nani ao Sporting merece uma reflexão a vários níveis. Para o clube, envolver o internacional português na transferência de Marcos Rojo para o United foi uma jogada inteligente, embora não possa dizer-se que a operação não tem custos, naturalmente. Se Nani custa cinco milhões de euros por ano ao United, como parece constar agora, a sua entrada no negócio Rojo significa que o Sporting, ao invés de encaixar essa verba, preferiu resgatar o jogador. Há um benefício desportivo directo em detrimento de um encaixe financeiro maior. Independentemente disso, a presença mediática que a contratação de Nani transporta vai permitir um claro reforço do estado de graça de Bruno de Carvalho junto dos adeptos. Não só recupera um dos ídolos da torcida, muito antes da idade de reforma, como o faz depois de gerir com sagacidade o dossier Rojo e, com isso, estabelecer uma relação de forças com os fundos de investimento bem diferente da que era habitual para os lados de Alvalade. O braço de ferro pode ter sido mais aparente do que real, mas Bruno de Carvalho ganhou-o, fez um bom negócio com Rojo e ainda traz Nani. Melhor do que isto seria difícil.
Para Nani, a opção de regressar ao clube que o formou é especial, mas parece prematura. Aos 27 anos, o extremo está no auge das suas capacidades físico-atléticas e pode dar ainda muito ao futebol. Pode argumentar-se que, nesta fase da sua carreira, se esperava que Nani tivesse sido capaz de chegar a outro nível, em face daquilo que os seus predicados técnicos desde cedo anunciavam. Ele próprio, quando instado a pronunciar-se sobre as expectativas para a sua carreira, há cerca de três anos, quando vivia um momento fulgurante no United, sublinhava a intenção de vir a tornar-se um dos melhores do mundo. De então para cá, com alguns problemas físicos de permeio, não foi capaz de manter a constância exibicional que é exigida a um futebolista de topo e perdeu protagonismo. Saiu da primeira linha de Ferguson e não mais foi capaz de regenerar-se. Abandonar Old Trafford, nesta altura, pode funcionar como a faísca emocional para esse ressurgimento, mas voltar a Portugal com vinte e sete anos é uma despromoção competitiva indisfarçável. Quando Nani saiu, a sua dimensão futebolística já não cabia nas medidas do futebol luso. Agora, regressa a casa à procura de uma saída de emergência para a carreira. Vai jogar mais, é óbvio, vai ter futebol de Champions e estará mais próximo da família e amigos. Veremos se isso será suficiente para fazer renascer o melhor Nani. Sobram dúvidas de que, sem o estímulo competitivo de um campeonato mais exigente, ele seja capaz de tocar a plenitude. Acomodar-se na fase descendente anunciada pelos últimos anos ou reerguer-se para uma segunda vida. Esta é a encruzilhada que Nani tem à sua frente e que só ele pode abordar.
Para a equipa, a experiência que Nani traz e a sua habituação a níveis elevados de exigência podem ser aportes importantes numa época de retoma desportiva. Além disso, o facto de exponenciar o entusiasmo dos adeptos funciona como estímulo adicional para os companheiros. Encaixará rapidamente no onze, emprestar-lhe-á desequilíbrio individual e repentismo e imporá o respeito que a nobreza do seu nome futebolístico não pode deixar de suscitar. Se for capaz de juntar consistência a isso, será um jogador decisivo na época leonina.