sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ben Frost - A U R O R A

8,3/10
Mute/Bedroom Community, 2014

Da indisfarçável devoção do australiano Ben Frost às múltiplas dimensões formais da música ambiente não restam dúvidas. Afinal, ele vem erguendo uma discografia consistente e que, embora seja absolutamente incontornável no género, transbordou fronteiras estéticas e tocou pontos cardeais que não se adivinhavam na origem. A mudança para a Islândia - onde está radicado presentemente - ajudou a esse processo de expansão (e afinidade com os extremos) e à construção de uma linguagem sonora que não conhece paralelo no universo musical. Em certo sentido, esse radicalismo de Frost é transversal à sua obra e confunde habilmente escalas de trabalho: inclina-se, alternadamente e sem atropelos, entre a pequena escala de um detalhismo quase microscópico e as medidas volumosas de um bombardeamento intenso e abrasivo. Seja como for, essa aparente indefinição de escala nunca colocou em cheque a visceralidade da música do australiano, nem a forma como faz do ruído um ornato perverso e imprescindível. Assim acontece neste A U R O R A, quinto capítulo da sua discografia, que leva mais além as premissas desconstrutivas que vêm tomando o laboratório de sons de Frost.

Longe de ser um opus "clássico" de música ambiente, A U R O R A desmonta esse paradigma com noise vanguardista, denso e experimental. A sobreposição de camadas de sintetizadores dá-nos uma massa sonora do mais espesso e asfixiante Frost que ouvimos, ao jeito de uma apocalíptica lavagem cerebral, nem sempre de absorção fácil, mas sublimemente secundada pelas percussões orgânicas de Thorr Harris (Swans) e especialmente Greg Fox (ex-baterista do ensemble black metal nova-iorquino Liturgy, hoje nos Guardian Alien). Mais corpo e mais peso, portanto ("Diphenyl Oxalate" podia ser a abertura de um álbum dos Liturgy). Junte-se-lhe o multi-instrumentalismo de Shahzad Ismaily, que já produziu e tocou com meio mundo (Laurie Anderson, Bonnie "Prince" Billy, Eyvind Kang, Secret Chiefs 3, Martha Wainwright, entre outros), e estão lançadas as premissas para um disco de Ben Frost que tem um inesperado dom: contendo tudo o que faz a sua quintessência, partindo dela, esquadrinhando-a e desmontando-a, não soa a nada que ele já tenha feito. E, ainda assim, semeia no ouvinte a familiaridade própria de um puro Frost, um grandíssimo recontro entre minimalismo e maximalismo. Atrevam-se os tímpanos!

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