Full Pupp, 2014
Se há coisa que pode ser imputada a Thomas Moen Hermansen - o sujeito por detrás da alcunha Prins Thomas - é a responsabilidade de ter sido um dos reinventores das temáticas disco de escala europeia. Sozinho, ou com o compincha Lindström, deu visibilidade a um conjunto de produtos musicais que vieram a reposicionar a forma de sentir (e ouvir) a electrónica, cruzando a tal escola disco com inúmeras referências históricas e condimentos especiais que, em conjunto, compunham um conglomerado interessantíssimo e quase sem paralelo. E foi assim mesmo que os radares do mediatismo o descobriram, a mãos com o aprimoramento de um fórmula que tinha tudo para vingar, sobretudo por revelar sinais de consistência e um invulgar sentido de equilíbrio nas arriscadas sobreposições entre o tradicional e a novidade, sem favorecer um ou outra. Chamar-lhe space disco - a referência estética que colaram à ética de trabalho de Prins Thomas -, talvez não lhe fizesse justiça, como resulta evidente da discografia já editada e que dá mostras de uma verve que, acompanhando o pressuposto de remexer no suporte estrutural da disco, não se detém apenas nessas coordenadas.
III vem na sequência do díptico lançado com Lindström e que mereceu ampla aclamação, sobretudo por assentar nessa aliança com o património disco, mas moldando-o a um discurso menos apontado às pistas de dança e mais interessado em aventurar-se nas improváveis convergências com outras dimensões musicais. O pendor progressivo-espacial das composições reforçou, então, a legitimidade do epíteto space disco. Este III, mesmo sem a companhia de Lindström (dá-se a coincidência de também ser o terceiro registo em nome próprio), retoma essa relaxada peregrinação por paragens inexploradas da disco, indo mais além nas abstracções que constroem cada peça ("Arabisk Natt" é uma brincadeira deliciosa) e dando azo a um curiosíssimo contraste: talvez este seja o mais hedonista dos discos de Prins Thomas - no sentido de ser aquele que mais se borrifa em regras - e, ainda assim, será o menos dançável de todos. E cada audição escancara a inevitável evolução de paradigma de Prins Thomas: a disco não é já senão uma luminária distante e difusa, um cicerone de métricas e pouco mais. Tudo o resto é o produto de anos de destilação de uma linguagem que, hoje, tem mais certezas na sua própria especulação pelos sons cósmicos, pelo krautrock, pelo dub e até pelo psicadelismo, acolhendo todos e não destacando nenhum. Chama-se a isso savoir faire.
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III vem na sequência do díptico lançado com Lindström e que mereceu ampla aclamação, sobretudo por assentar nessa aliança com o património disco, mas moldando-o a um discurso menos apontado às pistas de dança e mais interessado em aventurar-se nas improváveis convergências com outras dimensões musicais. O pendor progressivo-espacial das composições reforçou, então, a legitimidade do epíteto space disco. Este III, mesmo sem a companhia de Lindström (dá-se a coincidência de também ser o terceiro registo em nome próprio), retoma essa relaxada peregrinação por paragens inexploradas da disco, indo mais além nas abstracções que constroem cada peça ("Arabisk Natt" é uma brincadeira deliciosa) e dando azo a um curiosíssimo contraste: talvez este seja o mais hedonista dos discos de Prins Thomas - no sentido de ser aquele que mais se borrifa em regras - e, ainda assim, será o menos dançável de todos. E cada audição escancara a inevitável evolução de paradigma de Prins Thomas: a disco não é já senão uma luminária distante e difusa, um cicerone de métricas e pouco mais. Tudo o resto é o produto de anos de destilação de uma linguagem que, hoje, tem mais certezas na sua própria especulação pelos sons cósmicos, pelo krautrock, pelo dub e até pelo psicadelismo, acolhendo todos e não destacando nenhum. Chama-se a isso savoir faire.
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