Young God Records, 2014
Quando Michael Gira decidiu ressuscitar os Swans, poucos previriam que aquela que outrora fora uma força ímpar do mais sombrio rock alternativo americano, após uma dúzia de anos de retiro (1998-2010), fosse capaz de motivar a consagração generalizada que veio a agraciar The Seer (2012). Mesmo com Jarboe apenas "emprestada" (a teclista vive a tempo inteiro o seu projecto solo), o colectivo pôs de pé um dos mais ambiciosos opus da sua extensa discografia e mereceu rasgados elogios de todos os quadrantes, recolocando Gira e seus pares em órbita relevante, deixado para trás um esquecimento que não fazia justiça ao quilate da discografia guardada nos armários da memória. Reparada a amnésia e reposto o equilíbrio universal, os Swans reafirmaram uma linguagem musical que domam como poucos e que Gira tinha posto de parte quando aos comandos dos melódicos Angels of Light. Mas a índole esdrúxula do californiano não se aquietaria facilmente nas canções de sombras mais certinhas dos Angels; a nostalgia do gótico e do experimentalismo mais escuro viriam acima como o azeite em água. E só os Swans para responderem a esse apelo.
Esse disco de há dois anos era uma verdadeira megalomania de especulação rock, tão grande e tentativo (leia-se experimental) quanto equilibrado entre o minimalismo de um poema negro e o épico de uma ópera rock distorcida, situando as expectativas num plano de exigência que vergaria qualquer comum mortal. Mas Gira e companheiros não são gente para se render e investiram neste To Be Kind as mesmas ambições. O cunho grotesco que tão bem servira o antecessor, afinal a sublimação que o tempo trouxe aos sedimentos gótico-industriais da banda, tem sucessão certeira aqui, a ponto de já poder afirmar-se que esta nova vida dos Swans nunca quis ser um mimo nostálgico para fãs, antes a construção de um dialecto sonoro consistente e novo, apoiado no património deixado para trás na primeira vida, é certo, mas sem verdadeiramente se deter nele. Tão emocionalmente inquietantes como os longos mantras apocalípticos de The Seer, as peças deste To Be Kind anunciam uma catarse menos fatalista (o que não quer dizer menos negra, bem entendido). Além do monólito rock que se propunha triturar quase tudo à marretada (como se revê na entrada de "Bring the Sun/Toussaint L'Overture"), há aqui espaço para microscópicos trabalhos de acupunctura e orações. Destruição em golpes mais pequenos e mais fundos e sempre desconcertantes. Oremos.
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Esse disco de há dois anos era uma verdadeira megalomania de especulação rock, tão grande e tentativo (leia-se experimental) quanto equilibrado entre o minimalismo de um poema negro e o épico de uma ópera rock distorcida, situando as expectativas num plano de exigência que vergaria qualquer comum mortal. Mas Gira e companheiros não são gente para se render e investiram neste To Be Kind as mesmas ambições. O cunho grotesco que tão bem servira o antecessor, afinal a sublimação que o tempo trouxe aos sedimentos gótico-industriais da banda, tem sucessão certeira aqui, a ponto de já poder afirmar-se que esta nova vida dos Swans nunca quis ser um mimo nostálgico para fãs, antes a construção de um dialecto sonoro consistente e novo, apoiado no património deixado para trás na primeira vida, é certo, mas sem verdadeiramente se deter nele. Tão emocionalmente inquietantes como os longos mantras apocalípticos de The Seer, as peças deste To Be Kind anunciam uma catarse menos fatalista (o que não quer dizer menos negra, bem entendido). Além do monólito rock que se propunha triturar quase tudo à marretada (como se revê na entrada de "Bring the Sun/Toussaint L'Overture"), há aqui espaço para microscópicos trabalhos de acupunctura e orações. Destruição em golpes mais pequenos e mais fundos e sempre desconcertantes. Oremos.
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