quinta-feira, 6 de março de 2014

Sunn O))) + Ulver - Terrestrials


6,7/10
Southern Lord, 2014

A inflexão estética que os noruegueses Ulver foram gradativamente ensaiando acabou por trazê-los a cenários que dificilmente se anteveriam quando, no começo do seu percurso, se viram inscritos - em contraponto com a vontade manifestada pela banda que sempre repudiou o rótulo - no povoadíssimo orbe do metal escandinavo, por força de uma afamada trilogia de álbuns que, a despeito das incongruências entre si, os situava num registo a meio termo entre o misticismo/fantasia da folk barroca do norte da Europa e as cadências musculadas e angustiantes do death metal. De então para cá, num trajecto de cerca de uma década de edições, o colectivo rechaçou definitivamente a colagem a um género estanque, dando mostras de um fôlego experimentalista assinalável e da vontade de crescer além de qualquer fronteira estética, vincando uma indisfarçável (e confortável) aproximação a outras órbitas, desde a especulação com o ruído à electrónica ambiental e do sinfonismo à música de câmara. Essa deriva ecléctica não faria adivinhar convergência com as paisagens de catastrofismo grave e arrastado dos Sunn O))), espaço monolítico em que Stephen O'Malley e Greg Anderson debitam progressões lentas e graves de guitarras em baixíssima frequência (chamam-lhe doom).

Gravado num encontro de uma noite entre os músicos em 2008, Terrestrials testa o nexo impossível entre dois universos díspares: a inventividade sem forma dos Ulver e o dramatismo monocórdico dos Sunn O))). O produto final é um híbrido com tanto de interessante como de inconsequente. O idiossincrático fatalismo dos Sunn O))) é convertido numa mera bússola de graves (como se fora o baixo das peças), camuflada pelas texturas tonalmente mais opulentas dos Ulver e pela panóplia de cordas e metais que elas convocam. E nem é pecadilho haver mais de Ulver do que de Sunn O))) na mistura, afinal a música professada pelos noruegueses tem espírito de motim e nunca deixaria de tomar de assalto a languidez da negrura de O'Malley e Anderson; o problema é que, por revolver-se na sua própria vagueza e sobretudo por não encontrar um clímax no infinito adorno que constrói, a música de Terrestrials se resume a um mero circunstancialismo sem orientação.

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