Mute/PIAS, 2014
Mesmo com o sexteto de álbuns anteriores a este a servirem de luminária, continua a ser impossível etiquetar a música dos Liars. Se no começo de carreira, o trio nova-iorquino acabou por ser alinhado com o então emergente saudosismo do pós-punk - o que até fazia sentido dada a excentricidade rock que professavam -, cedo se percebeu que a profusão de ideias de Angus Andrew e seus pares jamais caberia num rótulo só. Fosse pela afinidade com coordenadas rítmicas desvairadas e sem correspondência nos manuais convencionais, fosse pela tendência para as combinar com texturas muitas vezes no limite do tolerável enquanto produto "musical", os Liars impuseram-se como umas das unidades mais aberrantes (no sentido desviante) do espectro da música americana. E essa aberração foi crescendo, entre paixões e ódios de estimação, ora abeirando-se da electrónica ácida, ora desenhando tangências com o krautrock e até com as órbitas noise e o mais primal experimentalismo. Essa deriva teve ponto alto com Drum's Not Dead (2006), terceiro álbum e um dos mais icónicos (e, ironicamente, um dos mais dissonantes) produtos do laboratório de sons do grupo, também a menos turbulenta das suas gravações. O lastro de acalmia foi, afinal, um acto de purga nada acidental que coincidiu com a paz entre experiência e melodia e veio a prolongar-se nas edições seguintes do grupo, provocando inclusivamente o distanciamento de parte dos seus fãs, sob o pretexto de traição ao ideário original da banda.
A primeira sensção que Mess transmite é a de reconciliação dos Liars com uma parte importante do seu universo. Não há uma renúncia vincada do pendor espacial em que estabilizaram a sua música nos últimos anos, nem fazia sentido romper com essa "evolução", mas sente-se algum do colapso nervoso dos primórdios. Nesse sentido, o disco é uma emboscada imprevista: aborda-nos exactamente onde não víamos os Liars há anos. Em comparação com os últimos discos, o compasso é mais rápido, mas a electrónica, apesar de ser a matéria dominante (onde param as guitarras?) é menos exploratória. Na prática, este é o disco mais conciso dos Liars, um álbum de canções dançáveis, no sentido convencional do termo. O que, olhando o passado dos Liars, dificilmente pode ser visto como um elogio. Indícios de uma nova vida? As guitarras foram-se há muito, o experimentalismo espacial também, resta agora uma electrónica pseudo-industrial sem nada de especialmente substancial.
A primeira sensção que Mess transmite é a de reconciliação dos Liars com uma parte importante do seu universo. Não há uma renúncia vincada do pendor espacial em que estabilizaram a sua música nos últimos anos, nem fazia sentido romper com essa "evolução", mas sente-se algum do colapso nervoso dos primórdios. Nesse sentido, o disco é uma emboscada imprevista: aborda-nos exactamente onde não víamos os Liars há anos. Em comparação com os últimos discos, o compasso é mais rápido, mas a electrónica, apesar de ser a matéria dominante (onde param as guitarras?) é menos exploratória. Na prática, este é o disco mais conciso dos Liars, um álbum de canções dançáveis, no sentido convencional do termo. O que, olhando o passado dos Liars, dificilmente pode ser visto como um elogio. Indícios de uma nova vida? As guitarras foram-se há muito, o experimentalismo espacial também, resta agora uma electrónica pseudo-industrial sem nada de especialmente substancial.
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