quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Arctic Monkeys - AM


8,5/10
Domino, 2013

Tendo sido um dos mais consistentes fenómenos da vaga de projectos musicais que aproveitaram o boom da disseminação musical na internet na segunda metade da década 00, os Arctic Monkeys cedo viram colar-lhes responsabilidades de várias ordens e que, em última análise, redundavam no propósito de regenerar uma cena rock britânica estagnada e carente de heróis novos. A par dos escoceses Franz Ferdinand, embora num registo substancialmente diferente mesmo que nascido dos mesmos instintos, os jovens de Sheffield encarnaram o espírito dessa missão (indesejada) e superaram sucessivos testes de resiliência, quer naquilo que lhes era exigido comercialmente, acumulando prémios e distinções, quer na bitola altíssima que as circunstâncias impuseram às suas actuações em palco. Em qualquer dos casos, a fórmula sonora virada para o rock vitaminado, de batimento célere e refrão fácil revelou-se inatamente adequada para as grandes arenas, garantindo-lhes presença em tudo o que era certame ou festival de referência. O epicentro do imparável crescimento mediático veio com a actuação na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. É natural que, com sensivelmente uma década de actividade e um quarteto de álbuns gravados e sobretudo em razão da conjuntura do seu percurso, Alex Turner e companhia tenham sentido o apelo da mudança. E não se trata apenas da mudança natural (e inevitável) do crescimento etário que, mais tarde ou mais cedo, os afastaria da urgência juvenil que os trouxe à ribalta. É algo mais profundo do que isso.

Em certo sentido, AM rasga com a regularidade gloriosa que o antecede e é um corajoso exercício de evolução, senão nas matérias, ao menos na forma de as utilizar. Imediatamente se percebe que a música é menos "física" e mais centrada na construção de virtudes melódicas e ambientes (sinistros?) não explorados até aqui. Se quisermos, AM é uma extensão do experimentalismo de Humbug (2009) - que havia inaugurado a proximidade, agora prosseguida, com Josh Homme - levando mais além a demanda por um som menos nervoso. É como se a luminosa (e inconsciente)  festividade do quarteto se tivesse convertido na nova idiossincrasia de um jogo de luzes graves e mais escuras, com baixos assertivos e beats, riffs Led Zeppelin e muito, muito groove. No todo, estamos em presença do mais íntegro capítulo da existência dos Arctic Monkeys e da confirmação da maioridade criativa. Agora sim, eles estão à altura das responsabilidades que lhes puseram nos ombros há meia dúzia de anos.  

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