quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Stowaways - Huntclub

Apreciação final: 8/10
Edição: Transformadores, Outubro 2006
Género: Pop Alternativa
Sítio Oficial: www.myspace.com/stowawayshuntclub








O split CD que os Stowaways lançaram, há três anos, com os Alla Polacca tinha sido um aperiente capaz de excitar a curiosidade dos melómanos pela sua música. Os matosinhenses vinham de vencer o festival Termómetro Unplugged (2001) e arriscavam os primeiros passos nas lides discográficas, com composições invulgarmente sólidas para um ensemble debutante, passando de través os diversos idiomas da folk-pop, num registo ambivalente a ponto de soar anacrónico (mormente na porção instrumental dos trechos) e moderno, em simultâneo. Coisa rara essa, de cruzar com propriedade sensações oriundas de intervalos temporais diversos e, com isso, combinar uma arquitectura de sons indiferente às fatalidades do calendário. Assim prometiam os Stowaways, assim se revalidam no primeiro longa duração. Huntclub retém essa delícia retro, coisa imediatamente audível nos primeiros acordes da faixa instrumental que abre o disco e que se estende às dezasseis canções do alinhamento. Daí em diante, nada menos do que um recatado passeio de recreio por um bizarro orbe de influências, desde sons que nos trazem o irónico imaginário de uma fita de Fellini (como se diz, e bem, no press release), de ruas antigas e escuras, ou mesmo dos fumos de cabaret da Paris de antanho, aos tons do realejo de um tocador de rua, a musicar as pantomimas de um pequeno símio, ou a toada sonora que dá a cadência a um malabarista de circo. A essa panóplia de imagens sobrepostas, juntam-se embalos do outro lado do atlântico, bossas novas e mariachis, também a musette dos acordeões franceses, o teatralismo das comédias vaudeville e algumas gotas de piano jazz. A arrumação é feita pelos vocais certíssimos de Nuno Sousa (quando as faixas não são instrumentais) e pela precisão acústica dos arranjos e da produção.

Huntclub é um trabalho maduro de uma banda que é, cada vez mais, um caso sério da nova música lusa. Se o tal split com os Alla Polacca nos tinha deixado em pulgas por um seguimento, agora que ele chegou, percebemos que a expectativa não foi em vão. Escorreito como poucas edições deste ano, Huntclub comprova o crescimento dos Stowaways, firmes na fidelidade (eles dizem-se casmurros...) a uma estética condimentada por sons de várias latitudes e que, raramente com esta consistência, se escuta cá no burgo. Quando instada a classificar-se a si mesma e o seu som, a banda recorre, entre outras expressões, ao epíteto de "marialvas deprimidos/oprimidos em valsas para crocodilos e marchas para pés-de-chumbo". Quanto ao pé pesado, talvez Huntclub não opere milagres. Mas, seguramente, ao escutar estes sons, nem o réptil anfíbio chorará, nem os marialvas se arruinarão na sua depressão.

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