Jagjaguwar, 2014
A americana Angel Olsen não tem atrás de si uma marca imediatamente reconhecível, a despeito de contar já alguns anos nestas lides da música. Tenha sido como parte integrante (voz de suporte e guitarra) dos The Cairo Gang, do californiano Emmett Kelly, ou, depois, em esporádicas colaborações com Bonnie "Prince" Billy e Marissa Nadler e gente também estabelecida em Chicago como LeRoy Bach (Wilco) e Tim Kinsella, Olsen vem paulatinamente puxando as luzes da ribalta alternativa para si. A título próprio e antes deste Burn Your Fire For No Witness, registou discretamente a sua música num EP (Strange Cacti, 2010) e num álbum (Half Way Home, 2012). Em ambos os casos, abria-se um universo de revelações intimistas e pessoais, suportado numa voz de belíssimo porte e amplitude, tão confortável em cima da música "caseira" do EP como na produção mais académica do álbum. Independentemente das formas circunstanciais desses veículos musicais, o discurso de Olsen, a só com a guitarra ou acompanhada, foi sempre um transmissor das emoções de um espírito inquieto e instável nas suas próprias inseguranças. É por isso mesmo que cada canção de Olsen soa a protótipo de uma catarse virtualmente impossível, de uma alma ansiosa por revelar-se, ora rendida aos ácidos que dissecam episódios da sua própria vida, ora envolvida no sossego de uma mera confissão.
Burn Your Fire For No Witness é um exemplo acabado de como cada canção num álbum pode ser um estado de alma e de como todos concorrem para um sentido maior. No fundo, nem sequer há nada de substancialmente original nestas canções. Mas desvenda-se a força de alguém que, no vislumbre do vertiginoso precipício emocional em que se supunha, se olha como quem abre uma janela para a luz entrar ("Won't you open a window sometime / What's so wrong with the light?", canta Olsen em "Windows", a fechar o disco). Claro que um disco assim sincero sobre as encruzilhadas da solidão, a resignação nas relações e a remissão da dependência emocional dificilmente seria povoado de luzes; é cru, é intenso (tanto nos instantes minimalistas - guitarra e voz -, como nos mais expansivos (em que bateria e baixo se juntam) e, acima de tudo, é tocante. Música assim não se ouve, sente-se como quem manda os desamores às malvas.
Burn Your Fire For No Witness é um exemplo acabado de como cada canção num álbum pode ser um estado de alma e de como todos concorrem para um sentido maior. No fundo, nem sequer há nada de substancialmente original nestas canções. Mas desvenda-se a força de alguém que, no vislumbre do vertiginoso precipício emocional em que se supunha, se olha como quem abre uma janela para a luz entrar ("Won't you open a window sometime / What's so wrong with the light?", canta Olsen em "Windows", a fechar o disco). Claro que um disco assim sincero sobre as encruzilhadas da solidão, a resignação nas relações e a remissão da dependência emocional dificilmente seria povoado de luzes; é cru, é intenso (tanto nos instantes minimalistas - guitarra e voz -, como nos mais expansivos (em que bateria e baixo se juntam) e, acima de tudo, é tocante. Música assim não se ouve, sente-se como quem manda os desamores às malvas.
PODE LER ESTE E OUTROS CONTEÚDOS EM WWW.ACPINTO.COM