Xl Recordings, 2014
E subitamente o mundo da música acordou para FKA Twigs. Dela, nascida Tahliah Debrett Barnett há vinte e seis anos, apenas se conheciam pontuais aparições como dançarina, em videoclips, e dois EP's que a apresentaram também como criadora musical. Quem a descobriu nessas primeiras manifestações, encontrou uma proposta de desconstrução R&B que não procurava o conforto da ortodoxia. A melodia da voz, quase sempre cândida e contida, mas coerente e linear, poisava então numa massa sonora aparentemente disconexa e especulativa e que, estranha e sedutora consequência, se revelava o verdadeiro indutor de emoções. LP1 é um exercício de continuidade dessas premissas, buscando o mesmíssimo ritmo lento, a cadência espástica (e arrítmica) da máquina digital e levando-a ao encontro de uma voz que é, afinal, pop. Por ser tão elástica, a fórmula acaba por desenhar várias experiências emocionais, com um sublinhado melancólico, é certo, mas nunca vergadas a qualquer mesquinhez depressiva. Os paralelos com James Blake fazem sentido. E essa identidade estética atravessa o disco de uma ponta à outra, compondo um universo de sons com uma incrível harmonia, mesmo quando aposta nos limites da electrónica para desafiar a canção.
É por isso que ver em LP1 um trabalho meramente experimental é ter vistas curtas e não perceber-lhe a essência. Atrás da inventividade de FKA Twigs e da hipérbole digital do disco assume-se um sentido estético, uma linguagem sonora que já não é laboratorial, é antes um produto maturado, consequente e com sentido. Do choque entre o detalhismo robótico das texturas - que pode ser difícil de acomodar para alguns - e o laconismo delicado da voz, sobra uma sensualidade improvável. E a certeza de haver aqui boas canções. Ser capaz de erguer essas certezas na berma do abismo do exagero é obra!
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É por isso que ver em LP1 um trabalho meramente experimental é ter vistas curtas e não perceber-lhe a essência. Atrás da inventividade de FKA Twigs e da hipérbole digital do disco assume-se um sentido estético, uma linguagem sonora que já não é laboratorial, é antes um produto maturado, consequente e com sentido. Do choque entre o detalhismo robótico das texturas - que pode ser difícil de acomodar para alguns - e o laconismo delicado da voz, sobra uma sensualidade improvável. E a certeza de haver aqui boas canções. Ser capaz de erguer essas certezas na berma do abismo do exagero é obra!
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