Enchufada/Universal, 2014
Não era difícil adivinhar que o colectivo Buraka Som Sistema se veria, num momento qualquer de um percurso de crescimento impressionante, a mãos com um debate filosófico (e até estético) entre a suburbanidade de origens radicadas nas inúmeras derivações rítmicas da música africana e tropical para pistas de dança, e a tentação pelas sonoridades de escala maior que naturalmente emergiria. De um fenómeno alimentado por essas culturas de nicho até tornar-se marca global foi um curto passo, graças ao reconhecimento generalizado de uma criatividade que, perto do perigoso precipício da banalidade, soube sempre manter-se viva, irreverente e fresca, celebrando afinidades originais entre ritmos (o kuduro, pois claro, e o moombahton, o bondoro, o tuki, o kizomba ou o zouk bass, por exemplo) com o hedonismo próprio de malta que se quer divertir. Esse desprendimento formal era, de resto, um ponto de honra do grupo, não apenas como enquadramento estético, mas como rastilho oportuníssimo da explosão criativa de cada composição. Foi assim que tomaram de surpresa o orbe musical nacional, primeiro, e transbordaram rapidamente para o exterior, depois, na tal internacionalização que se tornou um desafio identitário.
É precisamente nesse contexto que nos chega Buraka, terceiro tomo de um percurso que cresceu até aos grandes festivais e, por isso mesmo, chegou a públicos cada vez maiores e a novas exigências. Desse inevitável redimensionamento, parece ter sobrado a acomodação do colectivo à consagração passada e, com ela, o risco do desleixo desenhava-se no horizonte. Desde o primeiro avanço ("Stoopid"), a léguas do impacto de outros, se prenunciava a estagnação criativa que o álbum veio confirmar. Parecendo mais um recalque mecânico dos antecessores (Komba (2011) à cabeça) do que propriamente um novo capítulo, o fulgor de Buraka esgota-se num ápice, como uma ideia gasta e sem a surpresa de outrora e, aqui e ali, com a simplicidade grosseira de criações em piloto automático ("Bumbum", "Vuvuzela (Carnaval)" ou "Van Damme" são gritantes exemplos). Restam meras sombras do portentoso motor de beats que nos lembrava a feição mais abrasiva da jungle (salva-se "Parede"), ao serviço da panóplia de influência rítmicas do grupo; a hipersensibilidade de levar as electrónicas a raiar a fúria descontrolada e sem perder o norte é uma miragem. No final, por quererem fazer jus à originalidade que os colocou na linha da frente e ter um som que ninguém tem, os Buraka Som Sistema acabam por soar demais a si mesmos.
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É precisamente nesse contexto que nos chega Buraka, terceiro tomo de um percurso que cresceu até aos grandes festivais e, por isso mesmo, chegou a públicos cada vez maiores e a novas exigências. Desse inevitável redimensionamento, parece ter sobrado a acomodação do colectivo à consagração passada e, com ela, o risco do desleixo desenhava-se no horizonte. Desde o primeiro avanço ("Stoopid"), a léguas do impacto de outros, se prenunciava a estagnação criativa que o álbum veio confirmar. Parecendo mais um recalque mecânico dos antecessores (Komba (2011) à cabeça) do que propriamente um novo capítulo, o fulgor de Buraka esgota-se num ápice, como uma ideia gasta e sem a surpresa de outrora e, aqui e ali, com a simplicidade grosseira de criações em piloto automático ("Bumbum", "Vuvuzela (Carnaval)" ou "Van Damme" são gritantes exemplos). Restam meras sombras do portentoso motor de beats que nos lembrava a feição mais abrasiva da jungle (salva-se "Parede"), ao serviço da panóplia de influência rítmicas do grupo; a hipersensibilidade de levar as electrónicas a raiar a fúria descontrolada e sem perder o norte é uma miragem. No final, por quererem fazer jus à originalidade que os colocou na linha da frente e ter um som que ninguém tem, os Buraka Som Sistema acabam por soar demais a si mesmos.
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