Interscope, 2014
Embora seja repetidamente conotada com o simbolismo próprio dos ícones fabricados "à pressão" pelo orbe musical e tenha o seu nome submerso numa impressionante catadupa de informações erradas (e até mal intencionadas), é importante perceber que o percurso musical de Lana del Rey não foi uma coisa fortuita. Desde muito cedo, a jovem nova-iorquina soube pisar os caminhos certos para levar a sua música onde ela tinha que chegar, pouco importando se, atrás disso, tinha a fortuna pessoal dos pais (que alegadamente não lhe investiram um cêntimo na carreira) ou os benefícios óbvios da sua própria imagem. O coro de maledicentes sempre se pendurou mais nesses dois factos do que propriamente em tentar perceber se o repentino mediatismo da cantora/compositora tinha substância. E tem sido conveniente a esse coro fazer de conta que, além da menina bonita e abastada, há um produto musical válido e consequente, com uma herança estética definida e muito longe da boçalidade que se fez padrão nos tempos modernos. Ela pode não ser a melhor cantora do mundo - não o é, seguramente... -, nem a mais expressiva performer em palco, mas corporiza uma proposta musical que merece mais do que a mera passagem de circunstância.
Agora que nos chega o terceiro registo (o segundo "oficial"), há poucos segredos por revelar na música de Lana del Rey. Ela romantiza a depressão em linguagens vintage elegantes e melódicas que remontam a eras clássicas da música; a produção de Dan Auerbach - o mentor dos Black Keys - sublinha a ambivalente (e, por isso, tão mais sedutora) vulnerabilidade de uma persona musical cuja singularidade alimenta dois públicos: detractores e fãs. Os primeiros descortinam nela uma fabricação, os segundos rendem-se. Em qualquer circunstância, percebia-se que, desde Born to Die (2012), estávamos em presença de uma figura que polarizaria atenções de todos os quadrantes e agitaria o mundo pop como poucos. Este Ultraviolence segue a peugada autobiográfica do antecessor e, uma vez ultrapassado o impacto primeiro do revestimento sonoro de Auerbach - que funciona melhor em algumas canções do que noutras -, se percebe que Del Rey está igual a si mesma. O compromisso com a melodia está lá, o glamour da fragilidade emocional também. A produção pode ser exagerada, aqui e ali, mas não desfigura o virtuosismo das composições. A inanidade do debate em volta da figura há-de prolongar-se no tempo e passar ao lado do essencial: as canções. E é de boas canções que se trata.
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Agora que nos chega o terceiro registo (o segundo "oficial"), há poucos segredos por revelar na música de Lana del Rey. Ela romantiza a depressão em linguagens vintage elegantes e melódicas que remontam a eras clássicas da música; a produção de Dan Auerbach - o mentor dos Black Keys - sublinha a ambivalente (e, por isso, tão mais sedutora) vulnerabilidade de uma persona musical cuja singularidade alimenta dois públicos: detractores e fãs. Os primeiros descortinam nela uma fabricação, os segundos rendem-se. Em qualquer circunstância, percebia-se que, desde Born to Die (2012), estávamos em presença de uma figura que polarizaria atenções de todos os quadrantes e agitaria o mundo pop como poucos. Este Ultraviolence segue a peugada autobiográfica do antecessor e, uma vez ultrapassado o impacto primeiro do revestimento sonoro de Auerbach - que funciona melhor em algumas canções do que noutras -, se percebe que Del Rey está igual a si mesma. O compromisso com a melodia está lá, o glamour da fragilidade emocional também. A produção pode ser exagerada, aqui e ali, mas não desfigura o virtuosismo das composições. A inanidade do debate em volta da figura há-de prolongar-se no tempo e passar ao lado do essencial: as canções. E é de boas canções que se trata.