segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

O Livro de Cesário Verde

Cesário Verde é um dos mais sonantes nomes da poesia portuguesa, isto apesar da sua breve existência (morreu com apenas 31 anos) e da sua curta obra. No seu legado poético percebemos o enorme talento descritivo, que eclodiu, provavelmente, por culpa das suas deambulações pelas ruas de Lisboa. O poeta recria a realidade, captando o essencial da representação do real.

Neste livro, que apenas foi editado por Silva Pinto, um amigo, após a sua morte, apercebemo-nos da predilecção do poeta pelos ambientes citadinos, mas sem nunca repudiar um certo fascínio que nutria pelos ambientes campestres. Há um enorme rigor na sua escrita denotando-se uma preferência pela quadra. Ele é um poeta-pintor já que de si mesmo disse: "pinto quadros por letras, por sinais".

Ele foi sempre um comercial e a poesia era uma ocupação das horas vagas ("Eu nunca dediquei poemas às fortunas,/Mas sim, por deferência, a amigos ou artistas").

A ambivalência existente entre o comerciante e o poeta, que o levaria a evitar os literatos, por ser comerciante, e o afastava da classe comercial, por ser poeta, faz-nos perceber a soturnidade do seu carácter que se reflecte no sentimento de solidão presente em alguns dos seus poemas.

Da obra de Cesário Verde destaca-se, inexoravelmente, o genial O Sentimento de um Ocidental.

"E eu que medito um livro que exacerbe, / Quisera que o real e a análise mo dessem". E esse livro foi - O Livro de Cesário Verde.

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