terça-feira, 29 de abril de 2008

M83 - Saturdays = Youth

6/10
Mute
2008
www.ilovem83.com



O projecto M83 conseguiu expandir a sua notoriedade além das fronteiras da França, então no formato de duo (Anthony Gonzalez e Nicolas Fromageau), com o muito debatido Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts (2003), e, à época, foram escassos aqueles que não os conotaram com uma linguagem musical próxima de suceder à orgânica do shoegazing - mesmo dispensando quase na íntegra o efeito dramático das guitarras - mormente pela reconhecida insistência em ecos e reverberações e, sobretudo, pelo recurso a um revestimento instrumental de decibel alto e estreiteza de ânimo. Desse tempo para cá, com a perda de metade do núcleo criativo (Fromageau), as máximas M83 conheceram algumas mutações significativas, desde logo com a adição definitiva da voz e a consequente aproximação a estruturas formais menos especulativas. Dir-se-ia que, com um álbum de instrumentais de pendor cenográfico pelo meio, alegadamente o primeiro de uma série para continuar (Digital Shades, Vol. 1, de 2007), Anthony Gonzalez fez do conceito M83 um campo de experiências entre o som atmosférico e o dramatismo, ou entre a tensão orgânica e a canção. E é, também, de canções que trata este Saturdays = Youth, sublimando as sugestões de transição que Before the Dawn Heals Us (2005) havia oportunamente deixado.

Atribuindo a autoridade sonora a um melodismo quase anacrónico dos sintetizadores, a lembrar ápices dos oitentas, o álbum recebe, igualmente, os favores acústicos do piano ou de guitarras maquilhadas e, aqui e ali, do canto adocicado da norte-americana Morgan Kibby, em conveniente contraponto do monocordismo de Gonzalez. Depois, a produção das canções (a cargo de Ken Thomas (Sigur Rós, Cocteau Twins, Suede) e Ewan Pearson (Ladytron, The Rapture)) dá-lhes uma estilização de fantasia, apelando à dimensão etérea de cada som ou, na falta dela, convocando a carga melodramática (e cénica) do romantismo que atravessa o álbum. Nesse sentido, Saturdays = Youth é o registo mais emocionado (a branco ou a preto) e nostálgico do catálogo M83 e, em aparente paradoxo, é também o produto mais mundano da colecção, ao firmar uma conjuntura de sons mais "naturais", sem fugir das áreas indefinidas do sonho (a belíssima "Kim & Jessie" é exemplo paradigmático disso). Pena é que o resvalo abstraccionista tire da melhor órbita algumas faixas do disco que acabam por minorar os predicados de excelência dos auges inscritos em trechos como "Kim & Jessie", "Graveyard Girl" ou "Too Late". É precisamente essa tríade, construída em códigos subliminarmente mais directos, que melhor mostra a dualidade euforia/melancolia que é, afinal, a substância-mor do disco e de uma entidade M83 mais voltada para a estrutura.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Portishead - Third

9/10
Mercury
2008
www.portishead.co.uk



Quando o maquinal single de apresentação do novo opus dos Portishead ("Machine Gun") começou a atrair o mediatismo próprio do saudado reaparecimento de um dos projectos musicais mais aliciantes dos anos noventa, volvida quase uma prolongadíssima década de silêncio, suspeitou-se instantaneamente que Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley se proporiam actualizar o especulativo ideário de sons com que fizeram história. Muitas vezes canonizado como o progenitor maior do género trip-hop - muito por culpa do incontornável Dummy (1994) - o trio britânico tornou-se, então, ícone de uma forma de musicar a melancolia que assentava, sobretudo, no experimentalismo nas texturas para construir canções tendencialmente informes, de cadência lenta e expressão negra e ambiental, algures entre o pós-modernismo jazz, os mandamentos de pulso do hip hop e o melodismo distorcido, narcótico e claustrofóbico de música cosmopolita na essência. Esse traço de conexão com a metrópole e as suas inquietudes é, de resto, uma substância inseparável do tutano da música dos Portishead, hoje como ontem vinculada a uma permanente contestação das convenções estéticas que é, em última instância, o derradeiro panfleto do homem urbano deste século, o eterno inconformado.

A semente desse inconformismo incurável é, do mesmo modo, crucial a Third enquanto documento regenerador de causas dos Portishead. Como o tempo que entretanto se situou entre o último disco e o actual mudou os paradigmas de expressão da melancolia, também eles sentiram a invalidade do discurso "antigo" para debelar as novas chagas dos espíritos introrsos. E, ao voltarem-se para dentro, ao introspectivamente demandarem por respostas para ânsias e opressões modernas, Gibbons, Barrow e Utley encontraram uma verve mais fracturada do que antes, no limite da incoerência carnal e com a vertigem da falência. Assim são também as canções de Third, errantes e não sistémicas, despidas do prescindível, nervosas e ofegantes como confusas crias do medo, desconfortáveis nos calafrios da sua pele. Entre a surpresa do minimalismo cortante ou do ruído casual, a improvável cenografia de um ou outro instante e a aquietação de uma melodia cifrada, a "nova" roupagem dos Portishead é psicadélica, abstracta, sinuosa e cheia de interstícios e escapatórias. O que, no caso deles, não é mais do que o retrato musical dos motins mentais e incongruências do sujeito contemporâneo, na forma da redentora redescoberta de si mesmo. Que descanse o espírito da busca de palavras, a música dos Portishead discursa belissimamente por ele...

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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Four Tet - Ringer

7/10
Domino
2008
www.fourtet.net



Depois de, com o percussionista Steve Reid, ter erguido dois capítulos algo discordantes do cerne da sua discografia individual, então aventurando-se nos prados especuladores da música de improviso, o britânico Kieran Hebden escolheu o formato de mini-ábum (quatro faixas em meia hora) para retornar ao habitat mais confortável, a assinatura Four Tet. Ringer é, no seguimento disso, um exercício reabilitador das principais idiossincrasias de Hebden, um produto das hodiernas castas laptop que ele próprio ajudou a propagar. Nesse particular, olhado por um prisma meramente técnico, o disco não acrescenta notícias substancialmente novas ao cancioneiro Four Tet, antes repisa as costumeiras estruturas cíclicas do músico, com beats e texturas em repetição (essa especificidade é notória, por exemplo, no tema-título), pontuais coloridos importados do cânon ambiental e, sobretudo, o engenho para derivar acidentalmente para fantasiosos efeitos de levíssimo noise sintético. É aí, nessas arestas mal limadas, que melhor se define a identidade única de Hebden, ora testando a resistência do ouvinte - ao insistir, com acinte, em sons maçadores (ouça-se "Swimmer") - ora enchendo os ambientes com poeiras desarmónicas, no limite da cacofonia. O resultado é cru e difícil de degustar (especialmente por ouvidos menos treinados nestas andanças) pela sua natureza acidental, mas revela-se compensador, como outras manifestações do percurso Four Tet, por edificar um edifício melódico a partir de pressupostos anti-melódicos e atrás de uma belíssima camuflagem orgânica. E, pelo meio, com maneirismos polirrítmicos, ressonâncias e complexidade, não faltam minudências para excitar o espírito, enquanto ele se entretém a desfiar a melodia.

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quarta-feira, 23 de abril de 2008

The Last Shadow Puppets - The Age of Understatement




Depois de se terem conhecido, há três anos, em plena explosão mediática dos Arctic Monkeys, numa digressão com os menos mediáticos The Little Fames, Alex Turner e Miles Kane (hoje nos Rascals) trataram de passar à forma de música as convergências artísticas que encontraram. De então para cá, a par dos inúmeros relatos noticiosos da existência dessas composições conjuntas, a dupla desvendou interesse em expô-las publicamente, sob o epíteto The Last Shadow Puppets. A concretização desse intento, em resposta às expectativas de melómanos e críticos, chegou em dois momentos distintos, primeiro um EP de apresentação (com quatro canções) e, agora, o tão esperado álbum. E desde as primeiras notas deste The Age of Understatement faz-se evidente o desígnio estético de Turner e Kane. Trata-se, sobretudo, de uma sondagem nostálgica do lado mais vivaz e sinfónico da pop sessentista, em canções com recorte cândido e emocionalmente frágeis, mas servidas por arranjos de cordas que lhes emprestam projecção e sumptuosidade. É como se os acrescentos da London Metropolitan Orchestra, escritos majestosamente por Owen Pallett (Final Fantasy), puxassem o esqueleto acústico das canções para o impacto cénico e amplitude próprios de uma pop mais madura, reverberante, barroca. Depois, a produção de James Ford é uma belíssima surpresa, ou não fosse ele metade da sensação Simian Mobile Disco, e não tivesse, no universo das electrónicas e remisturas, construído um catálogo curto, é certo, mas nos antípodas do clausulado estético que aqui se apresenta. A verdade é que o imaculado polimento de Ford, com guitarras maquilhadas de tremolo e timidez, com percussões de outras eras e entusiasmos pelo eco, dá às canções de Turner e Kane um oportuníssimo tempero retro. Como numa reminiscência apressada de um Scott Walker "clássico" (uma luminária assumida pelos Last Shadow Puppets), onde cabem também sombras da canção francesa tradicional (Jacques Brel é inspiração), do rock psicadélico, da ciência de Morricone, do imaginário sonoro dos filmes de espiões e do ideário sinfónico de uma big band. Tudo apurado e arrumado devidamente, rende a The Age of Understatement uma avaliação vintage e a certeza superveniente de que, atrás da máquina bombástica dos Arctic Monkeys e do seu sucedâneo que os Rascals se aprestam para mostrar em disco brevemente, existem dois músicos/criadores com aptidões para vagabundearem esplendidamente em registos mais estimulantes.

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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Cut Copy - In Ghost Colours




A instantânea internacionalização do trio australiano Cut Copy, na sequência do inesperado debute com Bright Like Neon Love de há quatro anos, mostrou ao mundo musical uma proposta sonora pouco comum no universo aussie, algures entre a synth-pop mais esdrúxula e a reverência às ondas do new wave. E se o primeiro trabalho não escondia algumas "impurezas" próprias de um disco construído essencialmente a partir de gravações domésticas do grupo, depois revistas e experimentadas sob um conceito de álbum, este In Ghost Colours supera essa abordagem rudimentar e acrescenta ao som dos Cut Copy a maturidade técnica que ele impõe. Esse crescimento estrutural da música de Dan Whitford (sintetizadores/programações), Tim Hoey (baixo/guitarra) e Michel Scott (bateria) é, entre outras coisas, resultado da engenharia de som de Tim Goldsworthy, o inglês faz-tudo da DFA, que empresta aos sabores electrónicos da banda um interessantíssimo entusiasmo pelas guitarras enquanto vectores de atmosferas. E é disso mesmo que se alimenta a chama de In Ghost Colours, de uma curiosa aliança entre a química digital e a guitarra gloriosa. Nesse palco de enlaces sugerem-se, como é raro ver-se com semelhante efeito, pontos de contacto entre a electrónica dançante e o pop-rock luminoso, sem que se vislumbre qualquer preferência de uma órbita em relação à outra. Ao lado do pulso rítmico mais generalista e importado das pistas de dança ou da electrónica de massas (aí os Erasure ou os Orchestral Manoeuvres in the Dark são um indisfarçável ponto cardeal), correm construções harmónicas de fino recorte acústico que pedem meças às novas gerações do rock (não estranha que gente como os Bloc Party ou os Franz Ferdinand os tenham requisitado para primeiras partes das respectivas digressões). In Ghost Colours desvenda, portanto, uma arquitectura menos simples da que é anunciada nas primeiras audições e, mesmo assim, desdobra-se em canções triunfantes e viçosas, de construção muito coerente e preenchidas a propósito. Coisa para agradar, ao mesmo tempo, aos indies sequiosos de híbridos, aos saudosistas de pop electrónica vintage e até aos discípulos das escolas de música de dança das últimas duas décadas. E tal transversalidade, sobretudo quando mostrada com a versatilidade, a congruência e o balanço que os Cut Copy aqui exibem, não é assunto de que muitas bandas (e discos) se possam gabar.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

The Breeders - Mountain Battles

7/10
4AD
Popstock
2008
www.breedersdigest.net



Embora tendo sido sempre olhado como um projecto secundário e de emancipação das suas fundadoras Kim Deal (Pixies) e Tanya Donelly (Throwing Muses) face ao rarefeito espaço de protagonismo nas bandas de origem, a verdade é que o conceito The Breeders granjeou um recanto especial no mundo indie, mormente no começo da década de noventa, quando um par de álbuns bem sucedidos (Pod, de 1990, e Last Splash, de 1993) despertou atenções da comunidade melómana. Ao mesmo tempo, contrariando as expectativas iniciais, a confluência de interesses entre Deal e Donelly esvaziou-se paulatinamente, o que veio a culminar na deserção da segunda. A baixa afectou equilíbrios no seio do projecto e, mesmo o recrutamento de Kelley Deal (irmã de Kim), não afastou a cisão que parecia incontornável. Kim formou os The Amps, a irmã deu passadas individuais e a marca The Breeders parecia morta, no final de 1995. Nestas coisas da música, porém, há duas coisas fatalmente certas: nem um lampejo de sucesso efémero é suficiente para manter uma banda, nem a "morte" de um projecto é definitiva até ao desaparecimento dos seus integrantes. E, tal como os Pixies, também as The Breeders renasceram, já em 2002, com as manas Deal, José Meledes e Mando Lopez. Title TK, primeiro opus pós-reaparecimento, rebuscava alguns dos pilares criativos da banda: canções musicalmente espartanas e a dispensarem artifícios, o gosto pelo refrão amigável e, sobretudo, a vontade de especular sobre os idiomas rudimentares do rock de garagem e o lado mais criativo do rock independente.

Volvida meia dúzia de anos desse disco, as Breeders mantêm a aposta no mesmíssimo imaginário e pressupostos e concebem um trabalho fiel ao seu cancioneiro, mas onde parece residir uma curiosa contenção no uso das faculdades mais "eléctricas" da banda, em prol de um registo íntimo, desprovido de truques e pessoal. Embora, aqui e ali, se libertem matérias mais agitadas, Mountain Battles é um disco que, pesando euforia e recato, quase sempre pende para o segundo, mostrando-nos as emoções habituais do cardápio das Breeders num revestimento diferente. E esse é o melhor elogio que pode fazer-se à versatilidade destas canções esqueletais (e às Breeders de hoje): o facto de dispensarem motins e entusiasmos exagerados e, reduzidas a uma urgência (quase não passam dos três minutos) pouco condizente com o laboratório de experiências onde foram erguidas, manterem a curiosidade pelas texturas e, mais importante do que isso, os genuínos sabores de sedução e contraste de outros tempos. Entre o buliço (aqui necessariamente pouco musculado) e a circunspecção quase romântica. Como um parto que expia ácidos de antanho.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dead Combo - Lusitânia Playboys

8/10
Dead & Company
Universal
2008
www.deadcombo.net



Chega a ser um paradoxo que um conceito musical tão robusto quanto é o Dead Combo tenha nascido de uma casualidade. Nem mesmo Tó Trips e Pedro Gonçalves teriam fantasiado que a coisa assumiria as proporções que hoje tem, a ponto de a crítica especializada muitas vezes os considerar como um dos projectos com maior potencial exportador da música lusa. É preciso recuar quatro ou cinco anos no calendário para recordar as primeiras aparições públicas da parelha lisboeta na Zé dos Bois e o burburinho crescente que lhes sucedeu, "impondo" a necessidade de passar à forma de disco uma fórmula musical inicialmente pensada para escalas pequenas. No fundo, Tó Trips e Pedro Gonçalves, ambos oriundos das esferas rock da praça, viam a entidade Dead Combo como um espaço exploratório de sonoridades pouco usuais cá no burgo e tê-lo-iam pensado nessa reduzida dimensão de laboratório que, poucas vezes, chega aos focos da fama. Todavia, aos poucos, os públicos foram descobrindo (e deixando-se render a) um som incomum, um misto de portugalidade nostálgica, importada dos filões clássicos da guitarra portuguesa (e, por inerência, de Carlos Paredes e do fado), e de sabores "morriconianos" de spaghetti-western ou de um qualquer deprimido desert blues. Guitarra, contrabaixo e genuinidade definiram, então, o início de um trajecto consequente a cruzar latitudes musicais, sem perder o tino e a raiz portuguesa.

Lusitânia Playboys, terceiro longa-duração da dupla, destaca-se organicamente dos anteriores, sobretudo pelo cuidado nos arranjos. Se até aqui, os produtos dos Dead Combo respiravam um minimalismo quase claustrofóbico e nascido das exóticas depressões e do cosmopolitismo da Lisboa moderna, invocando as faces menos iluminadas da alma lusa (a tal alusão pouco purista ao fado como inspiração), o novo opus parece apostado em somar luz aos ambientes. Não é que o disco modifique substancialmente as premissas musicais dos Dead Combo, mas sente-se nestas composições um fôlego optimista e festivo. Nesta pele mais ditosa, Tó Trips e Pedro Gonçalves redescobrem-se e sugerem-se novas coordenadas para ressarcir a melancolia e a desolação. Ao invés de lânguidas e arrastadas ressacas, aqui há lugar para a perspicácia de deixar entrar a luz, sem perder o conforto do escuro. E os sépias poeirentos fazem-se amarelos com impurezas, as guitarras do deserto viram coros de bar e os graves do contrabaixo chamam o horizonte. Venham os violinos, os acórdeões, as flautas e os sopros; venham o Howe Gelb (em "Manobras de Maio 06"), os Kid Congo Powers (na magnífica "Cuba 1970", um genuíno "fado habanero"), o Carlos Bica ("Lisbon Berlin Flight 1001"), a Ana Quintans ou o Alexandre Frazão, juntem-se todos ao repasto e bebam um copo com estes dois alfacinhas. Lusitânia Playboys está aí para provar que um pouco de boémia é o melhor expediente para afugentar sombras da alma e merece ser celebrado por isso. E por ser a melhor colecção de composições dos Dead Combo.

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Clinic - Do It!

7/10
Domino
Edel
2008
www.clinicvoot.org



Quando os Radiohead convidaram os Clinic para fazerem o preâmbulo de grande parte dos concertos da digressão de promoção de Kid A (2000), muitos melómanos ainda nem sequer se tinham dado conta da existência do quarteto de Liverpool. Em boa verdade, à época eles tinham apenas acabado de estrear-se em disco (Internal Wrangler), depois de um punhado de EP's que deixaram os críticos a salivar. Oito anos e cinco álbuns (com este) depois, mesmo não tendo os Clinic (ainda) sido celebrados no mainstream, certamente serão poucos os que não tiveram uma primeira exposição ao art-punk dos ingleses, cujos sinais identitários se centram em três traves-mestras a que a banda se mantém fiel: a degustação nostálgica de vários sabores rock (do primarismo da garagem e do punk a insinuações mais "cerebrais"), a tentação pelo experimentalismo (e alguma esquizofrenia estética) nas texturas e nos ritmos e as pantomimas vocais de Ade Blackburn (às vezes em mimese de Thom Yorke) e Brian Campbell. Também Do It! é leal a esses pressupostos, sublinhando a costumeira curiosidade pela forma e a atmosfera de emoções voláteis que as canções veiculam. É, sobretudo, um disco sem fio-de-prumo, sem preocupações de rumo e onde pouco importam as assimetrias entre (ou dentro) (d)as composições. A plácida paranóia dos Clinic é isso mesmo, um delírio orgânico perfumado, ao mesmo tempo, de retro e vanguarda (mais do primeiro), um elíptico caleidoscópio de cores baralhadas em caos controlado, uma mescla de matérias cruas e ideias elaboradas. No final - tanto de Do It! como de qualquer outra manifestação dos Clinic - fica a impressão de um som cifrado demais para os grandes mercados mas, ainda assim, capaz de convencer aqueles adeptos do imediatismo que têm paciência para espreitar atrás das evidências. E se se confirmam algumas minúsculas nódoas de estagnação - que seriam mais ou menos inevitáveis numa banda com uma identidade algo difusa - que obstam à sua efectiva afirmação daqui para a frente, não é menos verdade que a música dos Clinic permanece um activo sedutor ("Corpus Christi" é o ápice do disco) e que vale a pena visitar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Mão Morta - Maldoror




O tempo consagrou o universo de grotesco e de horror que Isidore Ducasse ergueu, em 1870, à volta da figura de Maldoror, icónico antideus do niilismo, da iconoclastia moral, do macabro e do indecoro. Exaltado como referência incontornável de inúmeros criadores surrealistas (e de pontuais derivações "góticas") das gerações seguintes, Les Chants de Maldoror é a matéria inspiradora do mais recente trabalho dos Mão Morta. Sugerido ao ensemble bracarense pelo conterrâneo Theatro Circo, o poema prosado de Ducasse (sob o pseudónimo de Comte de Lautréamont) acabou por ser pretexto para a segunda aventura de Adolfo Luxúria Canibal e companhia nos domínios da música feita para encenar, depois de Müller no Hotel Hessischer Hof, de há onze anos. À partida, em face de um texto tão negro e fatalista, seria normal esperar-se um registo sonoro vizinho dos postulados rock ásperos que se tornaram ordinários na discografia dos Mão Morta. Porém, a proposta sonora de Maldoror, não se desvinculando definitivamente dessa medula mais crua (escute-se, a título de exemplo, "A Porcaria", faixa de abertura do segundo disco), usa as palavras de Ducasse como premissa conceptual para construções musicais mais "ambientais" (porque sujeitas a uma regra de desprendimento formal e à conveniente identidade cenográfica), com uma riqueza textural que tanto convoca guitarras como electrónicas e sobre a qual poisa o cicerone cavernoso, corrosivo e dramático da voz de Adolfo L. Canibal. E, aí, percebe-se a validade da aposta numa orgânica mais melancólica, espacial e soturna; a especulação quase pós-rock que aqui mostram os Mão Morta revela-se um caixilho infalível para o bizarro e o negrume da obra de Ducasse. Nessa viagem por um mundo fantástico de desumanidade e macabrismo, descobrem-se personagens emocionalmente densas e fábulas cortantes e, en passant, quase esquecemos que os Mão Morta são uma banda de genética rock. Porque Maldoror é um exercício superior de musicalidade ao serviço da letra, de reinvenção de causas e de circunstâncias dos Mão Morta e, acima de tudo, mesmo tratando-se de uma edição "incompleta" - porque privada da componente cénica que só o palco pode dar - é um trabalho conceptual de casta extraordinária. Para sublinhar o simbolismo da obra, o disco vem distribuído com um mini-livro ilustrado, em edição limitada.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Tapes 'n Tapes - Walk it Off

6/10
XL Records
2008
www.tapesntapes.com



Com as órbitas da blogosfera e a auto-promoção escritas na sua origem e, a partir daí, tendo crescido consistentemente para lá do chamado fenómeno das blog bands, os americanos Tapes 'n Tapes vão desenhando uma identidade sonora que, depois da aplaudida estreia com The Loon, há três anos, merece agora o sempre crítico segundo episódio. Esteticamente colocados num ilustre fio temporal de influências que vem dos Pavement e dos Pixies (quem não é influenciado por ambos?) ou dos Talking Heads aos Modest Mouse e aos Arcade Fire, Josh Grier e seus pares mostraram, nesse primeiro exercício, o quarteto de verbetes fundamentais ao tutano da banda: sabores retro, abstracção, eclectismo rock e fórmulas acêntricas. Levantaram-se, então, talvez algo impensadamente, louvores de que eles seriam mensageiros de um novel movimento de canções rock esdrúxulas, de um qualquer neo-psicadelismo ainda por decifrar; a verdade é que, neste Walk It Off, confirma-se que essa tendência para dar às peças musicais um toque de inconformismo não foi gesto isolado, não só porque o álbum desfia graças de eclectismo mas, sobretudo, porque é uma vibrante colecção de bizarrias e aparentes incongruências (embora isso seja menos notório do que no debute). A esse facto não é alheia a produção do alquimista Dave Fridmann (produtor dos Flaming Lips, por exemplo), aqui gloriosamente a emprestar aos Tapes 'n Tapes o inconfundível fetichismo pela maquilhagem caleidoscópica: guitarras pujantes, doses copiosas de reverberação e vozes desfiguradas e ecoantes.

Neste espírito, a associação Fridmann/Tapes 'n Tapes - porque ambos defendem um princípio de criatividade centrífuga (tomando como centro os modelos mais conformistas da pop) - parecia destinada ao êxito. O problema é que, em grande parte de Walk it Off, a escrita de Grier é mais centrada do que os antecedentes fariam prever, resvalando para uma previsibilidade melódica a que a banda parecia (no primeiro álbum) imune. "Demon Apple" é a peça que melhor resiste a essa fatalidade sistémica do disco, demonstrando a inconstância estrutural e a dose de excentricidade que melhor serve o imaginário dos Tapes 'n Tapes. Atrás dessa, uma tríade de competências suficientes: "Lines", o single "Hang Them All" e "Conquest". Nos sobejos parece habitar uma languidez que, até aqui, se julgava ausente do dicionário sonoro da banda de Minneapolis. E isso quer dizer que Walk it Off tem menos substância do que se esperava.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Angel - Kalmukia

7/10
Editions Mego
2008
www.myspace.com/
angelnoise



Segredo muito bem guardado da música escandinava desde 1999, o duo experimental Angel - espaço underground dividido por Dirk Dresselhaus (Schneider TM) e Ilpo Väisänen (Pan Sonic) - tornou-se um trio com a oportuníssima adição do violoncelo de Hildur Gudnadóttir (Múm), em 2004. Se, anteriormente, o par de músicos evocara preceitos musicais livres de formas, ainda que notoriamente afectos aos cavernosos orbes do drone, com a chegada de um terceiro elemento foi possível acrescer outra musicalidade e, sobretudo, esmiuçar valências diferentes dentro do monolitismo reconhecido nas primeiras manifestações. De resto, é como trio que o projecto se esgueira à natural padronização de conceitos que, mais tarde ou mais cedo, acaba por alcançar a maioria dos intérpretes do drone. Claro que Stephen O'Malley é um guru cuja influência é transversal ao trabalho dos Angel - ele até assina a capa deste disco - e são as suas coordenadas que alimentam a inspiração do trio nórdico. Todavia, a estrutura orgânica das composições é diferente e variável, mormente no quarteto de trechos deste Kalmukia. Aqui, Väisänen, Dresselhaus e Gudnadóttir erguem quatro cenografias que, não sendo conceptualmente contrastantes, determinam metas diferenciadas. Ora seguem de perto a previsível cortesia ao ideário Sunn O))), densamente travestido em andamentos ainda mais apáticos e arrastados, quase ao jeito de um western preguiçoso (ouça-se a faixa de abertura), ora buscam a abstracção e a contemplação em texturas sem corpo, electronicamente manipuladas e com o magnífico pranto do violoncelo como voz de comando. Assim desfila o álbum, entre melancolia e interrogação, numa progressão incerta e que propaga ao ouvinte o poder do devaneio, da bizarria e das mutações que a música insinua. Afinal, atrás do som cifrado, a experiência é de emoções franqueadas, é aberta, é profundamente cerebral e tenta, aqui e ali, uma proporção épica que não se adivinharia num "mero" trio de protagonistas. Talvez não chegue a tanto mas, de permeio, Kalmukia é um deleite na descoberta, uma incursão extática em mundos de ilusão a preto e branco, de onde resultam sensações ambíguas, quase desintegradas, algures entre a mais sobressaltada misantropia e o poema declamado entre silêncios de penumbra. E nessa viagem interior sucumbem as considerações de que o drone é género inevitavelmente refém da estagnação. Nada disso acontece na miríade de fabulações dos Angel.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fuck Buttons - Street Horrrsing




Assim que se escutam as primeiras notas de Street Horrrsing se percebe que há qualquer coisa de paradoxal na fantasia musical do projecto Fuck Buttons. Do instantâneo contra-senso cénico entre a toada virginal do background pastoral de "Sweet Love for Planet Earth" e a companhia esquizofrénica (e assombrosamente espessa) do feedback, primeiro, e de vociferações incontinentes e descontroladas, depois, se pode inferir que a persona musical de Andrew Hung e Benjamin John Power é tudo menos um lugar sereno. Chega a ser cínica a maneira como os dois britânicos exibem a inevitável incongruência de uma criatividade conturbada, cuja personalidade múltipla (ou despudorada desinibição) é capaz de revelar um substrato de romantismo e placidez sensorial para, logo de seguida, atear sobre ele uma incrível labareda de electrónica atípica, a desafiar os limites da dissonância. Tal é o tropel gigântico das impurezas e dos ruídos que, a dado passo, quase deixa de vislumbrar-se o tutano melódico das composições, "esmagado" pelo motim descoordenado de acidentes sónicos (vindos, por exemplo, de ressonantes guitarras em desvario, em quase transcrição dos ideários drone) que o sobrepujam. A mistura é perturbadora na sua obtusidade e pode cansar por confiar demasiado na repetição ("Race You to My Bedroom/Spirit Rise" é notório manifesto) e, por isso mesmo, nunca chegará a consagrações mainstream. O que não quer dizer que Street Horrrsing não mereça vénia pelo virtuosismo com que nos dá um engulho inesperado, ao reinventar o nicho impenetrável da música fundada no noise, refundindo métricas e substâncias (a adição de um subliminar tribalismo é uma pequena maravilha!) e, sobretudo, emprestando às construções um valioso jogo de dissidências estéticas (o apogeu mora na coda do álbum, a sublime "Colours Move"). E é precisamente nos ápices em que essas discrepâncias se fazem mais inteligíveis - quando o ruído não monopoliza o oxigénio das faixas - e o contraste entre os fragores e as teclas melancólicas tomam os comandos do álbum que se declara a verdadeira identidade dos Fuck Buttons. Sinuosa e psiquicamente confusa, é certo, mas não menos desafiante por isso. Assim é Street Horrrsing, um gomo de algodão embebido em ácido.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Rádio Macau - Oito

8/10
iPlay
2008



Com uma caminhada de vinte e cinco anos de música, com as irregularidades próprias da extensão e alguns períodos de hesitação pelo meio, os Rádio Macau são, hoje, uma marca estabelecida na pop nacional, não só por terem construído uma identidade sonora imediatamente reconhecível pelos melómanos mais atentos, mas sobretudo por serem autores de alguns dos trechos mais visionários (e, por inerência, iluminados) do cancioneiro luso contemporâneo. E Oito é um apurado retrato da personalidade artística da banda, demarcando-se das tendências "desviantes" e experimentalistas reveladas nos últimos trabalhos e optando pela fidelidade aos pilares que ajudaram a erguer e definir o conceito Rádio Macau. Esse "tradicionalismo" não é, contudo, sinónimo de mera reposição ou de conformismo face às coordenadas mais seguras; pelo contrário, repescando os ambientes em que se sentem mais confortáveis (e onde encontram a filigrana da sua inspiração), os Rádio Macau renovam-lhes a actualidade e respiram a confiança certa para dar azo a belas construções melódicas. O compromisso com a melodia é, de resto, transversal ao disco, com as palavras vocalizadas por Xana a poisarem delicadamente nas plácidas texturas musicais. Aí, além de sinais evidentes da estruturação madura do que deve ser uma canção pop, fazem-se notar a eloquência de arranjos delicados e a coerência estética de um alinhamento que, mesmo não estando subjacente a qualquer modelo conceptual, acaba por definir um corpo de canções bastante congruentes entre si. E, além de ter uma ou outra peça que facilmente virá a ser inscrita no escol dos Rádio Macau ("Cantiga de Amor", "Nos Sonhos Impossíveis" ou "Por Linhas Tortas"), Oito representa um oportuníssimo regresso de um dos valores inabaláveis da nossa praça.

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quarta-feira, 2 de abril de 2008

R.E.M. - Accelerate

7/10
Warner
2008
www.remhq.com



Quando se soube que os R.E.M. tinham requisitado os serviços do produtor Grant "Jacknife" Lee para arrumar o novo álbum, seria natural conjecturar-se uma viragem rock no som da banda, ou não fosse ele a personagem principal da produção dos últimos trabalhos de gente como os The Hives, os Editors, os Bloc Party ou os U2. As suspeitas subiram de tom quando a tal facto se juntou o anúncio (prévio ao lançamento) de que o título do disco seria Accelerate, em notória reafirmação do saudoso sentido de urgência (e consequente "electricidade") que o rock dos primórdios dos R.E.M. tivera e que, paulatinamente, se foi dissipando na natural depuração de princípios de vinte anos de percurso. Ao mesmo tempo, essa expectativa vinha ao encontro de anseios da legião de fãs da banda, algo desencantados com as últimas performances discográficas da trupe de Michael Stipe e sequiosos de um retorno a fórmulas menos polidas (menos diletantes também) e, portanto, mais próximas da génese. E Accelerate não frustra as esperanças dos mais nostálgicos, sublinhando o investimento num som cru, cortante, breve (o disco fecha ao fim de trinta e quatro minutos), áspero e genuinamente directo. E isso sem deixar de ter o viço de pop-rock independente que é marca dos R.E.M., embora com um revestimento mais musculado e pulsante e, sobretudo, sem ornamentos ou desvios supérfluos. No fundo, esta "aceleração" mais não é do que um recuo às espartanas raízes indie do grupo e isso é, em última análise, uma óptima forma de Stipe, Buck e Mills se redescobrirem e reencontrarem gratificação naquilo que fazem melhor. Os fãs (e o mundo musical) rendem-se ao renascimento dos R.E.M. e é tão interessante ouvi-los assim directos que quase se negligencia o facto de que, a despeito de um punhado de boas canções ("Living Well is the Best Revenge", "Supernatural Superserious", "Houston" e "I'm Gonna DJ"), o álbum nem é tão luminoso (e iluminado) quanto parece.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Justus Köhncke - Safe and Sound




Quando o selo Kompakt, de Colónia, foi fundado - no final da década de noventa - já Justus Köhncke integrava o colectivo Whirlpool Productions, na época um dos mais expressivos representantes da electrónica germânica dançante, em pleno movimento de afirmação de uma estética que, convocando estruturas de pulso rítmico da música techno, revelava afinidades com os paradigmas pop. Os samples eram, então, um recurso generalizadamente utilizado para vincar esses afectos, trazendo às composições a dose certa de maleabilidade melódica para contrabalançar com o laconismo técnico dos sons de síntese. Até à sua afirmação de pleno direito como um dos mais reputados produtores do orbe electrónico contemporâneo, Köhncke esmiuçou esses ensinamentos, não só com os Whirlpool Productions (com eles, escreveu o mediático hit local "From Disco to Disco"), mas a título individual. A sua chegada à Kompakt, com Was Ist Musik (2002), acabou por traduzir-se na manifestação mais pop do selo alemão, dando mostras de um trabalho cultivado em espaços comuns ao disco sound, à pop de feitura sintética, ao funk-house ou ao R&B descomprometido e a um fôlego ambiental notório. De então para cá, ora por força de inteligentes reconstruções e versões de material de terceiros, ora pela afirmação das suas próprias composições, Justus Köhncke concretizou um trajecto ecléctico que chega, agora, ao quarto registo (o terceiro na Kompakt).

Safe and Sound demarca-se, desde logo, dos anteriores por ser um álbum quase integralmente instrumental. A esse pormenor não é estranho o facto de as composições de Köhncke com voz terem sido "desviadas" para o recém-criado alter-ego emotronic Kinky Justice. Neste disco, porém, o enfoque é a exploração da face ambiental da electrónica dançante, o que marca também uma certa divergência face ao pendor pop do passado recente do músico/produtor. Despidas de palavras, as peças acabam por expor melhor a profundidade de texturas, emoções e instintos. Aí, desvendam-se, como nunca antes no percurso de Köhncke, uma crueza e visceralidade raras, coisa que até vem a autorizar devaneios experimentais que não se lhe conheciam. A desviante (e quase dissonante) "$26" é expoente dessa correcção de princípios, com misteriosos sabores sci-fi e ciclos nervosos de batimentos e arritmias sorumbáticas; alinhando por esse diapasão mais céptico, também "Feuerland" (versão de Michael Rother, ex-Kraftwerk) ou "Tilda" (de soslaio, faz lembrar Jean-Michel Jarre), mesmo "Safe and Sound" ou a ambiental "Spukhafte Fernwirkung", são a prole do desencanto adquirido do outro lado da barricada, atrás dos sorrisos triunfantes e do impulso físico das típicas "Parage" (lá está, o sampling não podia faltar!) e "(It's Gonna Be) Alright" e das esdrúxulas construções da tríade de abertura ("Yacht", "Molybdan" e "Love and Dancing"). Um universo binário, sem dúvida; mas em que os dois hemisférios emocionais se tocam e preenchem mutuamente, se aconchegam e, uma vez somados, se convertem numa superlativa viagem ao interior de nós mesmos. Afinal, é lá que residem as palavras omitidas que rematariam estas "canções".

Posto de escuta YachtIFeuerlandI$26