terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Fiódor Dostoiévski - Crime e Castigo

"Havia caracteres profundos, belos e que alegria eu experimentava ao descobrir o ouro sob a casca grossa! E não apenas um, nem dois, mas vários. Encontravam-se ali alguns que era impossível respeitar, outros eram excelentes em toda a acepção da palavra". Estas foram palavras que Dostoiévski proferiu após o cumprimento de pena de 4 anos num campo de trabalhos forçados na Sibéria. E como elas traduzem o que o autor viveu e que nós também poderemos sentir por cada vez que lermos os seus livros! Essa experiência permitiu-lhe perceber que nem todo o ser humano é, no âmago, bom. E isso foi fielmente transposto para os seus romances. Em Crime e Castigo o escritor retira o véu que atavia o Homem e que encobre a sua faceta mais obscura. O cinismo, a vileza e o egoísmo são-nos patenteados assiduamente na medida em que constituem características vincadas de algumas das suas personagens. As máscaras caem e a heterogeneidade e imperfeição emergem.

A história retrata a forma banal como pode surgir a motivação para um crime e de que modo esse acto pode afectar quem o comete. Por conseguinte, é enfatizado um dos sentimentos mais naturais e humanos que existem: a culpa.

Raskolnikov é o protagonista, um niilista que se considera um eleito para o qual não existe lei, essa só se aplica àqueles que nasceram para obedecer e que constituem o rebanho submisso. Errante, acometido pela dúvida, travará uma luta interior constante na procura do caminho adequado a seguir mesmo que para tal seja rebatida a sua doutrina.

Dostoiévski é fiel a si mesmo, oferece-nos o ser humano por inteiro, sem lenitivos. E quem é que se atreve a recusar esta oferta?

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