terça-feira, 11 de janeiro de 2005

Despertar da Mente

Apreciação final: 8/10
Edição: 2004
Género: Drama/Romance





A memória, um fiel depositário de reminiscências, é o mais tangível elo entre o sujeito enquanto ser e a teia de vínculos que arquitecta com os outros, o espaço e o tempo. Sem ela, perde-se a porção mais elementar da idiossincrasia do indivíduo, desfazem-se laços, desmoronam-se momentos. Este filme de Michel Gondry aborda com inteligência a ténue supremacia das memórias e a irresolução do sujeito face ao ensejo de apagar imagens não queridas. No fundo, Gondry propõe-nos, pela dedução da força anamnésica do amor, um ensaio sobre as relações humanas, a irreversibilidade do sentimento e as repercussões indeléveis do pretérito. Concomitantemente, mostra-nos com singeleza que, por vezes, o mais acertado remendo para as omissões do presente jaz algures nas recônditas memórias do passado.

A densidade do argumento é o diapasão que conduz as brilhantes actuações de Jim Carrey e Kate Winslet. Carrey no desempenho mais exigente da sua carreira, também o mais distante do registo costumeiro, demonstra inequivocamente aptidões só afloradas em Truman Show e The Majestic, acercando-se da ribalta que reclama para si - merecerá a atenção da Academia de Hollywood desta vez? Por seu lado, Winslet cativa o espectador, num desempenho que secunda com propriedade o de Carrey, verdadeiramente intenso e genuíno. Uma nota ainda para a presença de Elijah Wood, Kirsten Dunst e, acima destes, um actor com uma ascensão prometedora e cujo nome convém reter: Mark Ruffalo.

O Despertar da Mente é um filme comovente - não no sentido lamecha do termo - cujo mote toca a todos e apela a uma reflexão interior sobre o valimento da condição humana, vertido na natureza dos seus afectos e na insuficiente ciência da memória. Sem dúvida, um dos melhores títulos de 2004.

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