quarta-feira, 16 de abril de 2008

The Breeders - Mountain Battles

7/10
4AD
Popstock
2008
www.breedersdigest.net



Embora tendo sido sempre olhado como um projecto secundário e de emancipação das suas fundadoras Kim Deal (Pixies) e Tanya Donelly (Throwing Muses) face ao rarefeito espaço de protagonismo nas bandas de origem, a verdade é que o conceito The Breeders granjeou um recanto especial no mundo indie, mormente no começo da década de noventa, quando um par de álbuns bem sucedidos (Pod, de 1990, e Last Splash, de 1993) despertou atenções da comunidade melómana. Ao mesmo tempo, contrariando as expectativas iniciais, a confluência de interesses entre Deal e Donelly esvaziou-se paulatinamente, o que veio a culminar na deserção da segunda. A baixa afectou equilíbrios no seio do projecto e, mesmo o recrutamento de Kelley Deal (irmã de Kim), não afastou a cisão que parecia incontornável. Kim formou os The Amps, a irmã deu passadas individuais e a marca The Breeders parecia morta, no final de 1995. Nestas coisas da música, porém, há duas coisas fatalmente certas: nem um lampejo de sucesso efémero é suficiente para manter uma banda, nem a "morte" de um projecto é definitiva até ao desaparecimento dos seus integrantes. E, tal como os Pixies, também as The Breeders renasceram, já em 2002, com as manas Deal, José Meledes e Mando Lopez. Title TK, primeiro opus pós-reaparecimento, rebuscava alguns dos pilares criativos da banda: canções musicalmente espartanas e a dispensarem artifícios, o gosto pelo refrão amigável e, sobretudo, a vontade de especular sobre os idiomas rudimentares do rock de garagem e o lado mais criativo do rock independente.

Volvida meia dúzia de anos desse disco, as Breeders mantêm a aposta no mesmíssimo imaginário e pressupostos e concebem um trabalho fiel ao seu cancioneiro, mas onde parece residir uma curiosa contenção no uso das faculdades mais "eléctricas" da banda, em prol de um registo íntimo, desprovido de truques e pessoal. Embora, aqui e ali, se libertem matérias mais agitadas, Mountain Battles é um disco que, pesando euforia e recato, quase sempre pende para o segundo, mostrando-nos as emoções habituais do cardápio das Breeders num revestimento diferente. E esse é o melhor elogio que pode fazer-se à versatilidade destas canções esqueletais (e às Breeders de hoje): o facto de dispensarem motins e entusiasmos exagerados e, reduzidas a uma urgência (quase não passam dos três minutos) pouco condizente com o laboratório de experiências onde foram erguidas, manterem a curiosidade pelas texturas e, mais importante do que isso, os genuínos sabores de sedução e contraste de outros tempos. Entre o buliço (aqui necessariamente pouco musculado) e a circunspecção quase romântica. Como um parto que expia ácidos de antanho.

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