sexta-feira, 7 de abril de 2006

Ben Harper - Both Sides of the Gun

Apreciação final: 5/10
Edição: Virgin, Março 2006
Género: Pop-Rock
Sítio Oficial: www.benharper.net








Ben Harper é rapaz para andar nestas coisas da música há uma dúzia de anos e despertou para o estrelato com o álbum Fight For Your Mind (1995). Nessa edição, Harper afirmou-se como um trovador de emoções, um escritor de canções singelas e um contador de histórias com protagonismo (e talento) suficiente para se impôr nos circuitos da pop menos comprometida com o mainstream. Num registo que guardava a alma negra da soul, a misantropia da folk quintessencial, o canto interventivo da tradição gospel e os princípios básicos da canção pop, Ben Harper estabeleceu um padrão diferente para as camadas espirituais da música comercial, alargando as fronteiras de um género musical muito pouco dado a mexidas. Instrumentista de créditos firmados, Harper foi gradualmente erigindo um património musical sólido e uma assinatura credível como compositor. O que Harper terá esquecido é que, por mais que seja virado do avesso, o mundo pop acaba por voltar ao ponto de partida, rejeitando no decurso os ensaios de transformação. Assim o tempo engoliu Harper. E lhe fechou as mesmas portas que ele meritoriamente escancarara.

Both Sides of the Gun é a sua mais recente tentativa de reabilitação, pegando nas mesmas ideias de sempre e enfeitando-as de canções novas. O azar de Harper é que a fórmula dele (que há quem considere única...) se esgotou e não há muito a fazer pelas composições que enchem este CD duplo. O primeiro disco é um arrastado bocejo de baladas, ao jeito de um jovem escuteiro em galanteio das miúdas do acampamento. O outro tomo, decididamente mais vivo (e mais merecedor do espaço nos escaparates das discotecas) não consegue, mesmo imitando alguns trejeitos engraçados da academia funk, superar em muito a mediocridade criativa do seu parceiro de caixa. É por isso que Both Sides of the Gun se resume a duas mensagens. Uma delas, é de que Ben Harper esgaravata para se manter à tona do turbilhão das suas próprias ideias. A outra é de que ele é, hoje, à custa de discos como este, apenas uma pálida reminiscência de outros tempos. Qualquer que seja o lado da arma, estes tiros conseguem a rara deformidade de apontar a tudo e a nada ao mesmo tempo. Também por isso, soam tão inócuos como alguns disparos de pólvora seca.

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