quarta-feira, 15 de março de 2006

Jel - Soft Money

Apreciação final: 5/10
Edição: Anticon, Fevereiro 2006
Género: Hip-Hop Instrumental/Sampling
Sítio Oficial: www.anticon.com








Há criações musicais que vingam pela tentativa de captar um certo perfeccionismo estético, colocando um enfoque especial na produção das composições e na moldagem electrónica dos sons. Soft Money é um desses produtos e trata-se do quinto exercício a solo de Jeffrey James Logan, membro dos 13 & God, sob o alter ego artístico de Jel. Das diversas camadas sonoras que se sobrepõem em cada faixa do alinhamento, brota uma mescla de géneros, tripartida entre o hip-hop de feição instrumental, o experimentalismo e alguns conceitos psicadélicos que, neste caso, servem o propósito de dotar os ambientes do disco de outras dimensões. Jel é um malabarista de samples e loops, de vocais processados artificialmente, de baixos a pontuar em funk; usa-os abundantemente para criar ilusões e, no seu jeito, ousar a renovação dos manuais do hip-hop mais underground. Nesta cruzada, faz-se acompanhar de uma boa colheita de colaboradores, como são os casos, entre outros, de Stephanie Bohm (do projecto electro minimalista Ms. John Soda), de Andrew Broder (Fog) e Odd Nosdam (dos aclamados cloudDEAD). Mesmo assim, ainda que a sonoridade do álbum seja convincente e ateste as aptidões de Jel, a audição de Soft Money não suscita o mesmo tipo de atracção que outras edições recentes da Anticon e, pior do que isso, abeira-se de uma toada aliterante, muito próxima da monotonia. Depois, os conteúdos das letras não escapam a clichés recorrentes no tempo presente, como a diatribe hostil à administração Bush ou a sátira da decadência consumista da espécie humana o que, a despeito de algumas asserções bem alinhavadas, não chega a aquecer. Ou arrefecer.

Soft Money é um disco para adeptos do hip-hop instrumental. Progressivo? Talvez. Problema maior: uma ou outra composição meritória (por exemplo, "No Solution") não chegam para dar ao disco a amplitude que se deve reclamar a um autor como Jel. E a uma etiqueta como a Anticon. Ou, no oposto, sejamos brandos na exigência e acolhamos Jel como um mero peão no tabuleiro da reinvenção do underground. Porque a jogar como em Soft Money, o check mate parece cada vez mais demorado. E até apetece seguir o conselho que o próprio Jel, ironicamente, assina em dado momento do disco: "Don't buy this product, you don't need it".

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