terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Son Lux - Lanterns


7,7/10
Joyful Noise Recordings, 2013

Nesta altura do campeonato, poucos duvidarão de que atrás do epíteto Son Lux, mora um inventor movido pela curiosidade. Já na ocasião do debute discográfico, há sensivelmente cinco anos, o quase desconhecido Ryan Lott havia acumulado uma série de trabalhos avulsos, sobretudo no domínio da música para anúncios. Foram, de resto, esses exercícios "encomendados" que instigaram a descoberta de outras motivações e a demanda por causas maiores de expressão artística. O facto de a coisa ter sido apadrinhada pela Anticon, laboratório de desconstrução das causas hip hop e viveiro de algumas linguagens musicais verdadeiramente reformistas, corroborou a ideia de estarmos em presença de um músico sem medo do risco e ansioso por firmar um discurso próprio. Nessa primeira manifestação (At War With Walls & Mazes, 2008), sentia-se ainda o pendor "cénico" nas composições e, mais do que isso, a insegurança de canções a ensaiarem os primeiros passos numa corda bamba entre a formatação pop madura e um espírito de motim estético. We Are Rising apagou dúvidas, três anos depois, fazendo prova de que o espaço Son Lux encontrara evolução, sem abdicar da idiossincrasia experimental que tem nos genes, nos costumes mais eruditos de uma lógica pop seduzida pela música contemporânea. De então para cá, Lott foi a todas: fundou o trio S / S / S, com Sufjan Stevens e David Cohn (Serengeti), fez música para cinema, produziu álbuns para a Anticon, tocou um pouco por toda a parte e assinou pela Joyful Noise Recordings (onde mora gente como os Deerhoof, Dinosaur Jr., Sebadoh, Why? ou Akron/Family, por exemplo).

Lanterns é, então, o terceiro registo como Son Lux e assenta no mesmo experimentalismo do antecessor. Mantém-se a proximidade estrutural com a sofisticação da música contemporânea. O trabalho de pormenor vem depois, na construção das canções a partir de inúmeros aportes, sejam eles "clássicos" (como os metais e as cordas), sejam eles electrónicos (a maior parte). A convivência desses elementos não agradará aos puristas dos dois universos de per si, mas é útil à orientação melancólica do discurso e, a despeito de um ou outro instante de menor simbiose, resulta bem. Ryan Lott vinca definitivamente que é possível transcender os limites entre os mundos pop e erudito, sem desconexão. No resto, as canções de Lott cativam pela imprevisibilidade própria de algo que foi construído a partir da gravação isolada dos instrumentos, seguida de um engenhoso trabalho de sobreposição e colagem, até chegar à forma de uma canção, quando as convenções ditariam a fórmula inversa - ter uma ideia de canção e usar, depois, os instrumentos para a revestir. E esse factor surpresa faz toda a diferença, mesmo nas peças menos inspiradas.

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