quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Noiserv - A.V.O.



7,4/10
Edição de autor, 2013


Nem o próprio David Santos imaginaria que, volvidos sete anos das primícias do universo Noiserv, a sua identidade musical tivesse o protagonismo mediático que tem, tampouco que se houvesse erguido uma impressionante falange de seguidores, algo bem patente nos inúmeros concertos dados um pouco por todo o país. A coisa ganha contornos mais surpreendentes se tivermos em mente que a música do lisboeta não é matéria mainstream e nunca o poderia ser, de resto. Desde o primeiro momento, o espaço Noiserv está vinculado a uma esfera intimista que não é própria de produtos de massas; há muito de expurgação emocional do indivíduo - do próprio David Santos ou de outro qualquer, numa vertigem quase obsessiva de sublimação do eu, olhando-se a si e olhando os outros (por exemplo, a mesma fatalidade de Francisco Lázaro, o carpinteiro corredor falecido aos 24 anos, depois da maratona olímpica de 1912, que inspirou José Luís Peixoto n' "O Cemitério de Pianos"). O emprego do pronome "I" é eloquente (mais de quarenta vezes, nas dez canções deste A.V.O.) sobre esse propósito, o que não deve confundir-se com egolatria fátua. Pelo contrário, está sempre subjacente uma ânsia de entender o mundo na sua complexidade, partindo do que tem de mais simples para insinuar uma terapia sem artifícios. Tão despida (na essência) como a música de David Santos.

É irrefutável o crescimento artístico neste segundo trabalho (álbum) como Noiserv, em torno do mesmo ideário estético que já se conhecia, com as mesmas singularidades: a guitarra é o edifício principal, o discurso regente. A par dela, os teclados e demais recursos - e sabe-se que David Santos deita a mão a tudo o que tiver teclas! - circunscrevem a melancolia e somam-lhe interjeições de inocência e esperança. Como se a felicidade fosse, afinal, uma coisa tão tangível como estas canções. Por fim, e a despeito da ténue sensação de redundância que perpassa este Almost Visible Orchestra, é impossível não aderir à sua tímida honestidade.


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