segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Jon Hopkins - Immunity


7,6/10
Domino, 2013

Conquanto já tenha feito de tudo um pouco num percurso sólido nas lides da indústria musical, seja a título próprio ou em colaborações esporádicas em inúmeros projectos, Jon Hopkins chega ao quarto longa-duração pessoal ainda na sombra do anonimato. Ou numa celebridade periférica e confinada aos limites da música dançável mais cerebral, registada nos rodapés dos créditos de muitos discos. Apesar desse desconhecimento mediático, a camaleónica condição de músico, produtor, compositor e até remisturador fizeram do britânico uma figura de rara ubiquidade desde o começo deste século, atraindo-lhe paulatinamente a curiosidade de públicos fora do nicho habitual da chamada IDM. Além disso, as repetidas associações estéticas a Brian Eno - com quem inclusivamente viria a trabalhar - ajudaram a dar incremento à revelação, culminada sobretudo na aclamação mais ou menos generalizada deste Immunity, o capítulo mais recente da evolução criativa do músico.

Com derivações pontuais, Hopkins sempre professou uma electrónica com fito na abstracção - e daí as semelhanças com Eno - embora pareçam já algo distantes os tempos em que as ideias eram formalmente mais arrumadinhas, com a ajuda de orgânicas instrumentais (ou não fosse Hopkins um pianista) que agora são menos presentes na sua música. A aposta passa presentemente por um núcleo de electrónica pura, sem resíduos de outra fonte, ao serviço de composições com o seu quê de "clássicas", mas assentes numa sobreposição de texturas mais abstractas do que antes. Ao mesmo tempo, o mundo de Immunity é tão intrincado e (pode dizer-se?) grave que não será consumo fácil, chegando a parecer um enredo tão claustrofóbico (mesmo abrasivo) de sons, sobretudo na primeira metade do disco, que quase nos desvia da sua própria essência: batidas categóricas, definição sonora equilibrada e melodia. A coisa serena, depois, com trechos mais frágeis, também mais contidos, como que ordenados num exercício de contemplação lavado em químicos. E tudo embrulhado em lentas progressões de sensibilidade cinemática que farão as delícias de alguns e parecerão, a espaços, fora do contexto para outros.

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